Penso que na LisboaCon 2009 houve alguém que trouxe para a nossa mesa de jogo uma cópia de Pandemic, um promissor (à época) e galardoado jogo de tabuleiro cooperativo, que nos colocava sob a difícil missão de salvar o planeta de uma pandemia.

Apesar de não ter jogado mais do que 6 vezes ao jogo, senti desde cedo que o intuito do seu game designer, Matt Leacock, era o de adicionar a dificuldade mecânica própria de Pandemic e o caos trazido pelo tabuleiro enquanto antagonista, ao difícil equilíbrio que qualquer grupo de jogadores tem de possuir para conseguir, em conjunto, erradicar a doença que assola a mesa de jogo.

Passados 8 anos chega-nos Quarantine pelas mãos dos nossos conhecidos da 505 Games um jogo que segue a mesma premissa, e que se assume após algumas horas de jogo como uma resposta a “O que aconteceria se Pandemic fosse um videojogo single player?”. Atenção aos fãs de jogos de tabuleiro que este Quarantine lançado há semanas em Early Access no Steam não é o mesmo que o jogo de tabuleiro que nos coloca a missão de controlar e gerir um hospital durante uma quarentena. O título é o mesmo, mas a abordagem é bastante distinta.

À semelhança de Pandemic, também aqui temos diversas classes com habilidades e forças distintas na nossa luta contra o tabuleiro. E digo tabuleiro, porque sendo um jogo por turnos, Quarantine assemelha-se facilmente a algo que mecanicamente poderia ser executado e jogado em board game, tal é o seu vínculo a uma lógica de game design do género.

Médicos, cientistas, agentes de segurança e diplomatas são os personagens que temos disponíveis para tentar a propagação de agentes infecciosos pelo globo. A cada turno temos diversas opções de acções para executar, desde reduzir o nível de contágio de uma cidade, investigar estirpes de ADN do vírus/bactéria, impor quarentena a uma região ou construir uma sede para a nossa organização.

Há uma táctica quasi-RPG na forma como abordamos os personagens e que vão para além da mera utilização de classes. À medida que desempenham tarefas vão ganhando XP e evoluindo, tornando-se cada vez mais eficazes em determinadas acções. Por outro lado há um risco associado a desempenhar cada acção que pode levar desde dano na barra da vida à morte permanente do personagem.

Uma tech-tree que nos vai dando progressivamente vantagens à medida que o jogo avança, mais a gestão meticulosa do tempo (em turnos) que leva a encontrar uma cura para a pandemia, ao mesmo tempo que esta se espalha por todo o globo.

Nas minhas 3 primeiras jogadas levei o mundo ao colapso, e a sucumbir à doença. A partir daí consegui perceber as nuances tácticas que me levam à quase vitória certa, seja um cenário de bactéria ou vírus, em dificuldades até Normal. Por outro lado, nesta fase de Alpha em que Quarantine se encontra, o Hard Mode ainda é excessivamente difícil e há um tremendo desequilíbrio entre diversidade, rejogabilidade e desafio nas dificuldades fáceis e médias, em que esgotamos rapidamente os cenários e quase que encontramos a chave-mestra para quebrar qualquer ronda.

A monotonia acaba por ser o contágio fatal nesta fase de Early Access. Prometendo ainda bastante pela frente até à conclusão, especialmente se tomarmos em conta o quanto a 505 Games costuma ser confiável nos seus lançamentos, fica ainda uma certa amargura pelo estado algo limitado em que Quarantine se encontra.

Quebrem-se as rotinas e desdobrem-se os cenários, fazendo de cada aventura verdadeiramente única, e facilmente Quarantine será um excelente companion single player para o desafio caótico cooperativo que Pandemic tão brilhantemente alcança.