Caçada Semanal #66

A primeira vez que ouvi o termo japonerie foi cerca de 2001, numa aula de História de Arte, quando falávamos dos pintores Impressionistas e das múltiplas abordagens experimentais que se lhe seguiram. É claro que falar de japonerie, ou do termo mais português, japonismo, é falar da influência que a cultura visual nipónica exerceu sobre os movimentos artísticos ocidentais, especialmente nos movimentos que surgiram na Europa. Esta influência tão notória em Van Gogh, Gauguin, Toulose-Lautrec e Seurat, mas que para mim atinge o apogeu com a obra de Redon.

Em que é que este devaneio histórico-artístico contribui para a nossa Caçada Semanal desta semana? Pouco. Tirando o facto de que dois dos jogos apresentados são japoneses, e o terceiro parece inspirar-se num estilo hiper-decorativo tão japonais quanto possível.

Hidden Folks

Possivelmente o melhor dos 3 jogos dos quais falamos hoje, Hidden Folks é um excelente indie que parte de uma premissa simples: elevar ao quadrado o conceito de Where’s Waldo? (ou Onde está o Wally? como o conhecemos em Portugal), despi-lo de cores e tornando-o mais complexo e mais louco, onde tudo tem algo a esconder. No bom sentido.

O objectivo de cada painel é simples: encontrar as figuras na ilustração. Mas para isso temos de percorrer um misto de aleatoriedade com hiper-interactividade e muito humor, em que podemos ir carregando nos muitos elementos que compõem cada imagem para tentar descortinar algum segredo escondido.

Entre as centenas de sons e biliões de detalhes de cada “puzzle”, Hidden Folks consegue divertir-nos, rasgar-nos um sorriso na cara e ainda por-nos a coçar a cabeça de curiosidade ao mesmo tempo.

Ilustrações maravilhosas que só não pedimos para serem impressas e publicadas em livro porque haveria sempre algo lost in translation. E acho que o que se perderia é o quão genialmente louco é a vida que aparece emanar de cada pormenor com o qual podemos interagir.

https://www.youtube.com/watch?v=hIBxxsbDcdQ

Angels of Death

Uma verdadeira surpresa (e uma grande dose de susto) foi o que encontrámos em Angels of Death. Mais uma excelente ideia indie nipónica a ver a luz do dia para além da Terra do Sol Nascente graças aos esforços da Playism, e que vem demonstrar que é possível construir algo diferente a partir de um motor de tantos meros clones como é o RPG Maker.

Angels of Death é um jogo de terror, em que controlamos a nossa protagonista dentro de umas estranhas e assustadoras instalações, resolvendo pequenos puzzles e investigando cada canto na esperança de encontrar a tão almejada saída (e algumas respostas, se possível).

Mas à medida que vamos avançando pelos cenários percebemos que estamos num sádico jogo de gato e rato, com um psicopata a perseguir-nos com a vontade de nos esventrar, tornando-nos apenas mais um cadáver dos muitos e pixelizados que vamos encontrando pelo cenário.

Angels of Death demonstra acima de tudo que é possível contar boas histórias, de qualquer género, utilizando qualquer ferramenta. Só é preciso talento para o fazer. E digo só com as devidas aspas.

Tears Revolude

Dos vários jogos da Kemco que já jogámos e do qual já falámos, é fácil perceber o posicionamento da empresa: trazer a sede de JRPGs clássicos ao mercado ocidental, tentando equilibrar mecânicas que se ajustem ao foco principal: o mercado móvel.

A segunda certeza que temos é que a própria Kemco percebeu que existe uma possibilidade de trazer esse nicho de JRPGs mobile para o Steam com pouco investimento, alargando a franja de alcance desses jogos para além das lojas virtuais da Play Store ou da App Store.

Tears Revolude é um desses casos, emergindo de um catálogo por vezes desinspirado como uma lufada de ar fresco no catálogo da Kemco, apresentando cenários e jogabilidade fora do habitual-chapa-7 de RPG Maker, e incorporando mecânicas de Final Fantasy 7 como forma de customização da party.