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Não sei como começar este artigo, esta análise, isto de um jogo que após mais de 40 horas de pura emoção, a 5% de ser finalizado tudo o que existe para fazer num mundo majestoso, me deixou completamente silenciado. É um sentimento estranho, passar horas e horas a fim, perplexo com o gigantesco salto que um estúdio como a Guerrila foi capaz de dar, equipa que até há data não havia apresentado algo verdadeiramente único e sedutor. Horizon: Zero Dawn é tudo isso, um jogo que engloba múltiplos jogos, filmes e géneros, num produto inigualável e surpreendente.

Como já havia dito no passado, Horizon começa de forma exemplar, prendendo-nos à protagonista Aloy de uma maneira que muitos outros jogos deveriam fazer. O jogador experiencia uma espécie de cena reimaginada de Rei Leão, o que é para muitos o Santo Graal dos filmes de animação, assistindo ao seu crescimento e aprendizagem desde o seu nascimento até à adolescência, conhecendo simultaneamente o mundo que a rodeia e todos os seus perigos. Mas, para surpresa de muitos, não foram os enigmáticos robôs que me enjaularam, foi a fauna e flora, a luz e escuridão, em soma, todo o ambiente constituinte de Horizon.

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Sem rodeios, este é possivelmente o jogo com melhor sistema de iluminação e paleta de cores que alguma vez tive oportunidade de jogar. Lembro-me de ficar encantado com o espetro de cores proveniente do sol, de parar a observar e apreciar o contraste que me surgia no ecrã, uma vez mais, distanciando-se dos cinzentos, pretos e castanhos que a indústria de entretenimento tende a apresentar nos dias de hoje e que acaba sendo contrariada em exemplos como Firewatch, Mad Max: Fury Road e La La Land.

No Rubber quem tende a usar o termo “arte” de forma frequente como se do exigido café matinal se tratasse, é o Bernardo, no meu caso, embora reconheça a vertente artística inserida nesta indústria, é raro tentar interpretar e diferenciar o que é e não é “arte” dada à força e audácia inserida na palavra. Horizon apaixonou-me por completo por esse mesmo motivo, obrigou-me a parar, a reconhecer o seu forte, não que não o faça nos outros jogos que avalio, mas não desta forma, não desta maneira. Em outros casos tratou-se de trabalho ou obrigatoriedade, aqui foi natural. Recordo-me perfeitamente do impacto que a luz à entrada de um Cauldran teve para mim, retirado completamente de um soberbo filme espacial, deixando-me radiante e ansioso por mais.

Rei Leão, The 100, Last of Us, Jurassic Park, Monster Hunter, e uma infindável seleção de géneros e filmes inseridos em Horizon, algo que dependendo da narrativa apresentada poderia funcionar de forma exemplar, ou ser um autentico desastre. Felizmente trata-se da primeira hipótese, surgindo uma história chamativa e convincente, que ao aproximar-se do final levanta o véu que cobria todo o mistério, mas para além disso, toda a escrita e explicações apresentadas são credíveis dentro do possível, deixando o jogador a pensar e equacionar o que acabou de assistir, rivalizando até mesmo os mais famosos contos de ficção científica.

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Os imponentes robôs animalescos são outro dos aspetos que me prenderam. A sua sentida presença aliada à forma harmoniosa como constituem o mundo é algo que parece natural. São robôs, máquinas, algo que por norma não deveria surgir no meio de uma selva ou riacho, mas, surpreendentemente, a Guerrila Games foi capaz de fundir ambos ao oferecer aparências familiares ao jogador, como crocodilos, abutres e tigres dentes de sabre. Cada criatura apresenta um leque de ataques e ações próprias, distinguindo-se das restantes, tornando cada combate diferente consoante a máquina e local onde esta está inserida, contudo e felizmente para nós, Aloy possuir um vasto leque de habilidades e armas capaz de enfrentar as mais monumentais das criaturas.

O arco é o nosso parceiro do crime, a nossa principal fonte de dano, aliado a um sistema idêntico ao apresentado em Red Dead Redemption de nome Focus, capaz de abrandar o tempo e dessa forma realinhar a direção das nossas flechas. É algo que funciona na perfeição e que se conjuga muito bem na realidade primitiva futurista de Horizon. O encontro face a Thunderjaws e Stormbirds é algo memorável, obrigando à utilização de todo o nosso arsenal, prendendo-os ao chão com cordas metálicas provenientes da Tripcaster, e de seguida usar as bombas de Freeze da Slingshot, abrandando os seus movimentos e tornando o aço dos seus corpos mais fácil de quebrar. Vejo-me a revisitar Horizon ao fim de vários meses apenas para voltar a experienciar este tipo de sensação.

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Todo o ecossistema de Horizon é composto por esplendor, aprisionando-nos com paisagens belíssimas e uma infindável fonte de exploração, mantendo-me refém ao fim de horas a vaguear em rumo incerto, de forma a desvendar o que se encontrava por detrás das folhagens ou cumes distantes. São várias as atividades e formas como as podemos abordar, desde campos repletos de saqueadores a grutas metálicas escondendo os mais profundos segredos. Tudo isto num leque gigante de opções onde até o embate entre Snapjaws nos deixa perplexo, uma das mil maravilhas de fazer Override a uma máquina de forma a esta lutar ao nosso lado ou simplesmente servir de montada.

Horizon: Zero Dawn é um excelente novo IP por parte de um estúdio que nos havia apresentado Killzone, um shooter que se opunha a tudo o que é representado neste mundo pós apocalíptico. Este ano tem sido alvo de grandes títulos, grandes produções repletas de alma e qualidade, e arrisco a dizer que este será um dos candidatos a jogo do ano, e ainda agora estamos no seu começo.