Caçada semanal #68

Numa época em que a nossa cultura visual se vai habituando à aproximação técnica e artística do mercado dos videojogos ao hiper-realismo, há uma contra-corrente firmada nas manifestações indies que estão a estripar os jogos de tudo o que é acessório, focando-se numa lógica quase neo-revivalista da depuração dos primórdios do meio. Um retro-minimalismo que ainda há meses vimos no criativo Brut@l e que é repetido nestes 3 indies da semana de forma magistral.

Flywrench

Sem decorações para nos distrair, Flywrench chega finalmente ao Steam após 10 anos do lançamento do protótipo. O tempo voa mesmo, e aparentemente a chave de parafusos também. Desenvolvido por Mark Essen, criador de Nidhogg, Flywrench apresenta-se de forma singela como um jogos de plataformas sem plataformas, num misto mais estranho de se explicar do que jogar.

Em cada um dos 170 níveis de Flywrench temos de manobrar o dito objecto por níveis labirínticos, em que uma série de obstáculos coloridos apresentam a barreira natural à nossa chegada à meta.

Já que não podemos colidir com nenhuma parede amarela ou rosa, temos de conseguir destruir as paredes brancas, vermelhas e verdes com os movimentos certos (seja rodar ou propelir). E é neste jogo de Física e de aparente queda-livre que manobramos os muitos e desafiantes caminhos pelos níveis todas à nossa disposição.

Sendo esta versão final o corolário de um excelente protótipo com dez anos, conseguimos perceber o quanto estão demarcadas as tónicas de hiper-dificuldade da “primeira vaga” de jogos indies, sendo até curioso como Super Meat Boy tem uma flywrench como objecto desbloqueável.

Dentro do seu hiper-minimalismo geométrico, Flywrench é indubitavelmente um dos melhores platformers com que o mercado indie nos brindou recentemente.

Dystoria

Seguindo o caminho desta nova vaga de interesse pelos belos anos 1980, Dystoria traz-nos os shoot’em ups mas vistos na primeira pessoa. Incorporando a visão retro-futurista que Tron demarcou na linguagem néon da década, este jogo do estúdio Tri-Coastal Games é uma excelente abordagem, semelhante àquela que o novo Battlezone trouxe para o PSVR.

A banda-sonora retrowave de alta qualidade é suficiente para nos criar o ambiente certo de imersão, e é fácil sentirmos que mergulhamos ou que fomos tragados para dentro de uma máquina de arcada de Asteroids.

Há uma franja de resolução de puzzles, à medida que vamos adaptando a navegação em 360º da nossa nave a cada nível, raspando aquilo que aparentemente é a superfície apenas um retro shooter arcade, mas que é uma das grandes e diferenciadoras propostas do género.

Desync

Agora que acabámos de descrever Dystoria, é um acaso feliz que no mesmo dia nos tenha chegado Desync, que pega exactamente na mesma premissa mas trá-lo para um ambiente de arena shooter ao estilo de Quake.

Os developers correram “uma milha extra” para tentar emular a ambiência retro, adicionando falsos glitches e até scanlines ocasionais de forma a manter a nossa suspensão da descrença deste retro-minimalismo.

Com um espírito de desafio elevado, com inimigos a surgirem de todas as direcções, Desync despe a tendência dos FPS contemporâneos de apelar ao hiper-realismo e deixa-nos num ambiente minimalista a mercê da velocidade das nossas reacções. Um jogo clássico desenvolvido para 2017 que conta com a pontuação como grande elemento de competição.