Os precursores de muitos dos videojogos actuais incorporaram conceitos, mecânicas e game design de jogos de tabuleiro e pen and paper RPGs na sua construção, criando uma ponte invisível entre a tradição pré-videojogos e esse novo media que ia surgindo.
Essa influência é óbvia, identificável, e cumpridora da máxima de que nada surge no vazio. Se os RTS (e Turn-Based Strategy, e demais subgéneros) cresceram no cerne da paixão e criatividade de jogadores de jogos de tabuleiro e wargames, os RPGs surgiram vincadamente como adaptação (inicialmente apenas textual, e posteriormente gráfica) do género em papel.
Os videojogos dominam incontestavelmente as actividades lúdicas da população mundial, ultrapassando em abrangência, relevância cultural global, e até produção e consumo qualquer outro media seu antecessor. O que significa que – e não possuindo dados estatísticos para o comprovar – que exista uma gigantesca franja de jogadores que nunca contactaram previamente com jogos de tabuleiro, pen and paper RPGs, TCGs físicos ou mesmo jogos de miniaturas.
Esta falta de contacto com os media que perfilaram o caminho para os videojogos acaba por criar uma aura de pseudo-misticismo em torno de si, e talvez essa seja uma das razões que explique a curiosidade de muitos jogadores em jogos contemporâneos que ao invés de mascararem essas influências prévias as utilizam como construção conceptual.
Wartile, recentemente lançado em Early Access é um caso que utiliza a beleza e o maravilhamento visual de um diorama para nos trazer um RTS de fantasia medieval que se destaca dos seus congéneres.
Wartile é uma tradução digital e interactiva de jogos de tabuleiros e wargames de miniaturas prévios, que utilizavam construções em módulos hexagonais para recriar os cenários e os campos de batalha onde as figuras de digladiavam.
É claro que o estúdio Playwood Project, criador deste projecto não deixou que esta abordagem ficasse apenas pelo visual e pela construção mimética de dioramas em transposição para o ecrã. Há uma série de mecânicas e customizações que sendo possível com miniaturas, são mecânica e pragmaticamente mais simples e exequíveis tendo em conta as capacidades de programação por trás de um videojogo.
Em Wartile o posicionamento e o movimento das peças é fulcral para a jogabilidade, e onde temos de ter em conta os ataques pelas costas, pelos francos, ou situações de superioridade/inferioridade pela elevação do “terreno” (leia-se posicionamento vertical dos hexágonos). Um jogo em tempo real onde as figuras têm “turnos” baseados no cooldown do tempo em que podem agir, misturando dois conceitos aparentemente extremos de fluidez de jogo mas que funciona na perfeição.
Apesar de estar em Alpha, é surpreendente o nível de aprimoramento que o jogo possui nesta fase, com mecânicas adicionais de subquests dentro do próprio jogo e skills materializadas em cartas, deixa antever Wartile como uma excelente transposição de um jogo físico para um videojogo.