A ideia de que o mercado contemporâneo não possui RTS é verdadeiramente falaciosa. Existem muitos jogos de estratégia em tempo real a ver a luz do dia, grande parte deles provenientes de editoras e estúdios europeus AA ou indies, mas que continuam a responder activamente a este segmento do mercado, mantendo viva a chama dos RTS.

O que podemos seguramente afirmar é que existem muito poucos jogos do género de high profile, com pouquíssimas grandes editoras/estúdios a desenvolverem jogos de estratégia com grande destaque mediático, longe dos holofotes e do investimento quase desmedido, no período circunscrito da década de 1990 em que os RTS dominavam a preferência do mercado.

Halo Wars 2 é uma dessas brilhantes excepções – encomendado pela Microsoft à Creative Assembly, estúdio que se notabilizou pela criação e produção dos jogos Total War. Não tendo obviamente o mesmo tom ao qual estão habituados a desenvolver, com a destrinça óbvia entre TBS e RTS, muito cedo percebemos que a aposta no estúdio britânico foi uma das melhores que a Microsoft poderia ter tido.

À partida, para quem não conhece praticamente nada do lore de Halo, pode existir um receio de que o enredo seja demasiado dependente do conhecimento prévio da main storyline. Logo no vídeo de apresentação percebemos que esse não é um problema per se, e ainda que se perca algum do substracto do enredo se não formos Halo-savy, a forma como a narrativa deste Halo Wars 2 nos é apresentada é suficiente para conseguirmos compreender todas as intrincadas redes que opõem as duas facções beligerantes do jogo.

Assumindo o meu erro de não conseguir localizar canonicamente este jogo dentro do mythos de Halo, e de sentir inicialmente que ter a tripulação da nave a acordar de um sono criogénico é o cliché recorrente dos jogos de sci-fi, assumo que o grande gancho que toda esta história tem para qualquer jogador é o tremendo build up que faz do antagonista, Atriox, cujo exército (os) The Banished destrói tudo à sua passagem como uma praga de gafanhotos vorazes. Há um verdadeiro sentimento de perigo e de ameaça emanada por Atriox e que ajuda a acertar o tom de Halo Wars 2.

Apesar do jogo ter sido desenvolvido e publicitado para Xbox One, é o Play Anyhwere preconizado pela Microsoft para o seu Windows 10 que realmente ajuda a brilhar Halo Wars 2. É verdade que todos nós já tivemos a nossa quota parte de RTS nas consolas, especialmente na geração da primeira PlayStation que intersectou o período áureo do género, mas não precisamos de ser fãs ou conhecedores do género para perceber que o ambiente natural não é o das consolas.

Convenhamos: por muito esforço que os estúdios façam para optimizar o controlo dos RTS no ambiente consola – que o fizeram –  sabemos que é óbvio o espírito nativo do género e da utilização de rato e teclado. Seleccionar unidades e assignar ordens de ataque e/ou movimento são incomparavelmente mais eficazes no computador do que com os analógicos de um comando.

Não havia decerto melhor jogo para explorar esta vontade da Microsoft de rentabilizar os seus jogos com a capacidade de os jogarmos também no PC. Com a óbvia derrota versus o seu concorrente directo, a PS4, é um sinal de inteligência da Microsoft a de potenciar o acesso aos seus exclusivos dentro das suas plataformas próprias, sendo que uma delas, o Windows, foi durante demasiado tempo desconsiderada pela companhia, ao invés de ter sido usado como argumento nesta guerra fratricida entre consolas.

Ao bom estilo dos jogos da Westwood, Halo Wars 2 é um RTS muito focado no base building, tal e qual como o outro grande jogo do género que ainda sobrevive no mercado mainstream (Starcraft). Não fazendo nada de novo ao género, sentimos que a preocupação da Creative Assembly de adaptar a dificuldade e o ritmo ao ambiente de consola é evidente. Desde a adição de comandos que facilitam (e muito) os comandos dados com um comando (passando o pleonasmo) de Xbox One como o “Select all Units”, é na transposição para PC que sentimos a diferença de dificuldade, já que a baseline de velocidade de resposta foi feita para o ambiente mais lento dos comandos e não do mais imediato do rato e teclado.

Um RTS perfeitamente competente tanto no modo de história como no modo offline e que nos vem relembrar de outros tempos, em que era possível ver companhias gigantes associadas aos jogos de estratégia. Halo Wars 2 tem o condão de ser acessível o suficiente para servir de porta de entrada ao género, quiçá conquistando os muitos milhões que seguem Halo e fazendo-os apaixonarem-se por um género tão esquecido pelo mercado mainstream.