Caçada semanal #77
É um dado adquirido a extrema penetração da cultura nipónica no ocidente. Nas últimas décadas, e com o advento e popularização do P2P, em que gente de todo o mundo partilhou – com as devidas discussões legais – uma série de séries (passando o pleonasmo) de anime, legendadas e traduzidas por fãs, e que ajudaram a disseminar a cultura para-além fronteiras do Japão.
O anime é sem dúvida o nicho de animação mais profícuo, mas também nos dias de hoje o mais disseminado. Ver a preferência de grande do público sub-30 pela linguagem nipónica explica a grande receptividade para com os muitos jogos que nos vão chegando, alguns do Japão a apresentar a direcção artística típica do anime, outros provenientes do Ocidente mas a manter o mesmo estilo.
É sobre esta estética e as suas múltiplas abordagens que falamos nos 3 jogos desta Caçada Semanal.
Antagonist
A primeira das duas visual novels que trazemos hoje, Antagonist é uma caricata e humorística criação em torno da duplicidade visual novel/RPG.
Desde as primeiras linhas de texto (que são muitas, como é usual nas visual novels) que sentimos que Antagonist não só não se leva a sério como acaba por aproveitar esse humor para caricaturar um conjunto de clichés do género.
Em Antagonist controlamos D’Vil, o Mal encarnado, o Dark Lord, que cedo se revela ser apenas um actor muito confuso que foi contratado para desempenhar esse papel. Este desarme de humor é ainda mais presente nas ramificações dos diálogos, já que podemos enveredar por caminhos distintos: seja por assumirmos que acreditamos ser o Dark Lord, ou responder como um actor que sabe que ser o Dark Lord é apenas representação. As diferenças nestas duas (e mais ramificações de resposta) são muitas, e são grande parte do apelo deste jogo.
A componente RPG é a habitual de um qualquer JRPG, sendo até a parte menos interessante do jogo. Mas por 2,99€ é das histórias mais divertidas nas suas horas de duração.
Chaos Code – New Sign of Catastrophe
Para os fãs de fighting games é difícil não enunciar a Arc System Works como um dos melhores estúdios da actualidade e indubitavelmente o maior lutador para manter o género vivo. Chaos Code – New Sign of Catastrophe é mais um jogo desta editora e é o remaster de Chaos Code, de 2012, trazidos para o mercado actual com ligeiros tweaks e adição de componentes online.
Não sendo um marco do género, não inovando ou trazendo uma complexificação ou experimentação de mecânicas, Chaos Code – New Sign of Catastrophe chega-nos no patamar excelente de qualidade que a Arc System Works nos habituou, e esse patamar é elevado.
O grande e fatal problema que o jogo possa sofrer é a sua falta de capacidade para se distinguir de outros concorrentes, numa área que começa a ter muita produção e que se está a globalizar. Com muitas outras propostas na actualidade (grande parte delas a terem proveniência da própria editora) é quase impossível que Chaos Code – New Sign of Catastrophe consiga chamar alguma atenção para si.
Mas se decidirem apostar nele, certamente vão encontrar um 2D fighting game extremamente competente e com uma direcção artística interligada com o toque anime. E pouco mais do que isso.
Tokyo Twilight Ghost Hunters Daybreak Special Gigs
A competir com Chaos Code – New Sign of Catastrophe como um dos jogos recentes com o título mais longo, Tokyo Twilight Ghost Hunters Daybreak Special Gigs é uma versão remade (mais uma) do jogo que saiu apenas um ano antes desta versão ver a luz do dia, ou da noite, já que andamos a caçar fantasmas.
Pouco foi mudado em relação à versão anterior: as duas componentes intrínsecas a visual novel são verdadeiramente soberbas, por um lado a arte que é uma das mais aprimoradas produções de ilustração no género, e por outro lado o enredo, que consegue pegar na ideia pouco coesa de um liceu e de estudantes caça-fantasmas, e torná-lo algo sólido e apelativo.
Mantiveram-se as estranhas decisões das árvores de diálogo com iconografia encriptada e que causa mais confusão do que propriamente uma compreensão e uma ligação directa ao que está a ser discutido.
Mas o ponto que arrasta completamente este Tokyo Twilight Ghost Hunters Daybreak Special Gigs do patamar onde artística e narrativamente deveria estar, é o combate. A ideia de reduzir a fase de estratégia e táctica do combate a uma mera reinterpretação da Batalha-Naval, onde os movimentos constantes dos fantasmas condicionam em excesso o factor sorte versus a nossa perícia.
Ainda assim, e se ultrapassarmos as más decisões do combate, este é sem sombra de dúvidas umas das melhores visual novels, em termos de arte e escrita, que o mercado nos trouxe. E que brilha agora em todo o esplendor do PC e da PS4.