As tendências são mesmo assim. Quando algo tem sucesso lá vêm dezenas de outros produtos a tentar explorar esse filão, naquela sede incontrolável de conseguir entrar a bordo do comboio do sucesso e amealhar uns trocos.

Os vikings estão na moda. Estão mais na moda do que há 1000 anos quando exploraram e pilharam grande parte da Europa. E percebemos isso pelo tremendo sucesso da série Vikings e pela utilização deste imaginário em quase tudo. Vale o hipsterismo de bandas de Metal como Amon Amarth e Gwydion que já tinham incorporado esta linguagem antes de ser fixe.

Sabem o que é que já esteve na moda também? Cupcakes. Começando numa fase em que até achávamos piada e em que toda a gente no meio urbano queria cozinhar os seus próprios cupcakes, onde todas as festas de anos tinham cupcakes, até ao ponto em que existiam mais lojas de cupcakes pela rua e pelos shopping centres do que nós conseguiríamos consumir. E o que é que aconteceu aos cupcakes depois disso? Os vinte e três milhões de loja (número aproximado) foram encerrando actividade à medida que o fulgor do consumo contraiu. No lugar de poucas delas surgiram lojas de macarons, mas que implodiram muito mais rapidamente do que o Pizzi levar um 5º amarelo no Campeonato.

É o que irá acontecer a esta “febre viking”, mas não sem antes saírem mãos-cheias de videojogos com esta temática, como é o caso de Vikings: Wolves of Midgard, que ironicamente mescla num jogo só duas tendências que estiveram vincadas na cultura ocidental: a dos vikings, pela qual atravessamos, e a dos action RPGsà Diablo”/hack and slashes, que tiveram a sua dose de enxurrada no início do milénio com o furor de Diablo II, e que tiveram ainda uma relembrança com a saída de Diablo 3, e que viu chegar ao mercado pouco tempo depois aqueles que são os melhores exemplos contemporâneos do género: Torchlight 2, Path of Exile e Van Helsing.

O mercado mudou muito desde a saída dos segundos e terceiros jogos de Diablo. Apesar das tentativas de levar o género para as consolas, sempre acreditei (e acredito) que o género específico de action RPGs isométricos vive no seu habitat natural no PC, onde o teclado e o rato demonstram o verdadeiro funcionamento das suas mecânicas. E essa mudança nota-se no simples facto do estúdio Games Farm ter percebido o quão receptivo está o público das consolas desde o vício e consequente sucesso da conversão de Diablo 3. Vikings está concebido para consolas, chegando até a ser desajustado jogá-lo com o rato.

Parece-me ter-se tornado um standard do género a capacidade dos ataques básicos, ou auto-attacks, serem realmente automáticos, à semelhança do que os MOBAs como o LoL fazem. Clicar num adversário significa que o nosso protagonista irá persegui-lo e auto-atacá-lo até que ele pereça, que paremos o auto-attack, ou que façamos uma skill que o interrompa. Vikings vai um passo atrás e traz a tónica button masher de comandos de um hack and slash de consola, obrigando-nos com o rato a ter de clicar para cada ataque básico. As tendinites são uma causa para a qual eu não prego há muitos anos, e entristece-me ver que esta “desconsideração” pelo habitat original do género com estas decisões mecânicas.

Em tudo o resto Vikings: Wolves of Midgard é, para o bem ou para o mal, um Diablo com uma skin nórdica, o que não é propriamente mau. Mecanicamente divertido (se não formos utilizadores de rato) mas com uma grande dose de repetição de cenários e grind. Muito grind.

Porém, houve uma pequena introdução mecânica associada à temática que eu achei que trouxe algo mais ao género: a inclusão efectiva de efeitos ambientais. Não me refiro apenas aos efeitos visuais, partículas, sons e afins, mas à necessidade de encontrarmos pontos de calor para nos aquecermos, sob pena da hipotermia das Terras Altas nos leve à morte. Uma boa adição a um jogo que se preocupa excessivamente em calçar as botas cardadas do Diablo, e caminhar pela montanha repleta de neve com elas.

Vikings: Wolves of Midgard é um jogo mediano para o género e perdeu uma excelente oportunidade de aprender com outros jogos indie seus congéneres que conseguiram dar um toque especial aos Action RPGs. Apesar de exigir um grind massivo como o seu pai espiritual – o Diablo – dificilmente este jogo da Kalypso vai merecer alguma rejogabilidade após passarmos a sua história pela primeira vez.