É involuntário. Desde os primeiros segundos de Mr. Shifty que tenho tralteado incessantemente a célebre música dos The Smiths, e receio que haja um certo reflexo condicionado já a decorrer no meu cérebro, e que pode querer dizer que sempre que ouvir o The Queen is Dead vou automaticamente pensar em teleportes de curta distância.
Hotline Miami. Deixamos já aqui bem demarcadas a nota a Hotline Miami. É isto que Mr. Shifty quer ser e nem se esforça por disfarçá-lo, ainda que tenha trazido para a equação uma temática mais sobrenatural.
O caminho que Mr. Shifty tem a percorrer não poderia ser mais recto nem que ele pudesse teleportar-se. Que por acaso até pode. O grande e único twist que faz deste jogo algo mais do que um Hotline Miami com um tratamento artístico de comics são os poderes do protagonista, um ladrão com a incumbência de roubar uma pedra de plutónio de um arranha-céus altamente guardado por centenas de seguranças e armadilhas. Porque é que o fazemos? Não sabemos. Estamos aqui para distribuir muito pancadaria e fazer shift no ar.
Que é mais ou menos o que fazemos neste artigo, entre teleportar-nos de Hotline Miami para Mr. Shifty para estabelecer as devidas comparações. Se é justo? Talvez, até porque o pessoal do estúdio Team Shifty tem no massivo sucesso de Dennaton Games mais do que uma óbvia inspiração: é a espinha dorsal deste jogo, ao qual foi adicionado algo mais.
Se o protagonista de HM era “frágil”, Mr. Shifty é ainda mais. Um tiro ou um murro são o suficientes para nos levar ao Game Over, e por isso temos de nos fazer valer das nossas habilidades ao máximo e esquivar-nos de tudo e de todos, enquanto distribuímos fruta madura por cada sala. Ao pressionarmos um botão teleportamo-nos de imediato para o ponto onde o cursor está a apontar, e é com este sistema que nos vamos teleportando entre salas e através de paredes, surpreendendo e esmurrando os seguranças sem que eles tenham tempo de se aperceber de tal.
À medida que vamos desferindo murros pelos muitos inimigos que vão progressivamente quase preenchendo o ecrã com balas a percorrer o ecrã como num bullet hell, vamos também enchendo uma barra de bullet time, que nos permite desacelerar o tempo e conseguirmos literalmente desviar-nos de balas.
Mr. Shifty é divertido, é gratuitamente violento como HM, mas é menos gráfico e mais “familiar” que este, provavelmente por ser um exclusivo da Nintendo Switch no mercado das consolas. Assim como Hotline Miami 2 sofre do pequeno problema da sua longevidade, e da percepção que o tempo realmente tem. As suas 4 a 5 horas de jogo soam-nos excessivamente longas pela repetição constante dos perigos, sendo que os “puzzles” de combate em cada sala vão dependendo cada vez mais da nossa memória muscular do que alguma adição de level design ou de novas mecânicas.
A extrema repetição da música e da linha visual dos níveis e inimigos ajuda a cimentar esta monotonia crescente que desce sobre todo o jogo, e que se torna ainda mais evidente quando a frescura da novidade se esvai.