Caçada semanal #81

Ainda há uma semana falava do hábito repetitivo de termos tantos e tantos jogos a chegarem ao mercado indie com a perspectiva na primeira pessoa. E se podemos atribuir a “culpa” à salutar democratização dos meios de desenvolvimento como o Unity, por outro lado parece-me que podemos estar de alguma forma a saturar o tanque de ideias, sem darmos espaço para que jogos verdadeiramente diferentes vejam a luz do dia.

Será o caso destes três indies na primeira pessoa que trazemos esta semana?

Mirage: Arcane Warfare

Ter o pedigree do lançamento de Chivalry: Medieval Warfare no bolso é algo que pode deixar orgulhoso qualquer estúdio. Sob esse aclamado jogo, e cavalgando o sucesso que este teve, o estúdio Torn Banner Inc. apresenta agora a sua incursão pela “cena” competitiva online com o seu mais recente Mirage: Arcane Warfare, ainda em Early Access mas cuja versão final se espera que veja a luz do dia no final de Maio.

Sendo um arena combat de fantasia na primeira pessoa, Mirage: Arcane Warfare consegue fugir do habitual estilo de high fantasy que pulula grande parte do imaginário ocidental, e aposta numa estética arábica para se distanciar de tantos outros competidores no seu segmento de mercado.

Ao contrário de outros jogos que tentam cavalgar o ambiente mais “familiar” e acessível a todos, como Overwatch, cuja violência é graficamente limitada, Mirage: Arcane Warfare quer apostar na espectacularidade do gore e dos desmembramentos, sendo que é esta uma das grandes mecânicas e um dos grandes flavours e factores de diferenciação com tantos outros arena multiplayer games.

Se terá sucesso? Quem sabe? A realidade é que é um sub-mercado muito competitivo, talvez até demasiado. Mas a sua estética arábica e a sua violência extrema poderão ser alguns dos factores que o tornem aliciantes para a comunidade.

The Keep

É inegável que The Keep, o então-exclusivo jogo da 3DS mas que entretanto chegou também ao PC, cavalgou a onda de aprovação de Legend of Grimrock em relação aos dungeon crawlers na primeira pessoa.

Lançado em 2014, The Keep é sem dúvida um jogo que se destaca no catálogo da 3DS pela seu ambiente singular, numa plataforma que à excepção dos Etrian Odyssey – e se não me falha a memória – não tem qualquer outro FP dungeon crawler, muito menos nesta tónica ocidental como este jogo tem.

Com muitos puzzles que nos obrigam a pressionar placas e botões, combate em tempo real e uma história e duração muito mais simplistas que o de Legend of Grimrock. E porquê tanta comparação ao jogo desenvolvido pelo estúdio Almost Human? Porque The Keep é pouco mais do que uma versão condensada desse jogo, e se o aconselhamos na 3DS pela “raridade” de abordagem, no PC certamente tem melhores concorrentes que mereçam a nossa atenção.

Downward Spiral: Prologue

Qual é o próximo passo de suposta imersão que o mercado oferece a quase todos os jogos na primeira pessoa? Realidade Virtual. Essa prometida Pedra Filosofal que transformará todos os jogos em First Person em verdadeiras obras da experiência e da transcendência. O que depois de jogarmos os curtos minutos de Downward Spiral: Prologue é capaz de ter uma ponta, muito ligeira de razão.

Com uma abordagem retro-futurista retirada de uma das épocas áureas do sci-fi no cinema, Downward Spiral: Prologue demonstra uma excelente ideia mas com limitado conteúdo: com menos de meia hora de campanha neste momento, deixa-nos a pensar nos 9,99€ que custa.

Ainda que seja interessante a ideia de jogarmos um jogo na primeira pessoa em VR todo passado em ambiente de zero-gravidade, onde temos de percorrer o interior de uma estação espacial com problemas de funcionamento agarrando-nos às paredes ou a objectos, há muito pouca história que justifique a compra com o valor total.

É verdade que existe a possibilidade de o passarmos em cooperativo ou termos também um multiplayer death match sem gravidade, mas com o praticamente inexistente número de jogadores ligado, Downward Spiral: Prologue fica-se por aqui como uma grande promessa, uma grande ideia e uma grande execução, que ficam enfraquecidos por quão pouco conteúdo disponibilizam.