Não é fácil inovar em qualquer género ou subgénero de videojogos, e nos platformers é quase (ênfase no “quase”) impossível. A voltas e contra-voltas que são possíveis de dar para tornar dado jogo mais interessante ou remotamente diferente de qualquer coisa que o mercado já tenha visto. Seja no ambiente, no tom, nas mecânicas ou no desafio, os platformers têm tentado distinguir-se entre si, na grande maioria dos casos, sem sucesso.

Depois temos Snake Pass. Indiscutivelmente um dos jogos de platformers mais memoráveis que joguei nos últimos meses e com um conceito e desenvolvimento mecânico inovadores, e acima de tudo, distinguíveis. Aqui controlamos Noodle, uma simpática serpente que anda por uma série de mundos a coleccionar outra tanta série de coisas. O porquê, o quem e onde são indiferentes. O que importa aqui é o como.

Snake Pass quer ser um platformer “realista” de controlo do corpo rastejante de uma serpente, o que significa que ao contrário de outros jogos de plataformas o “salto” está colocado fora do menu. Tenta reproduzir de forma fidedigna e coesa a locomoção destes répteis, e eu que nunca estive na pele de uma cobra, antes ou depois da mudança sazonal, digo: acho que o objectivo principal está conseguido.

No chão, cedo percebemos que andar em linha recta é prejudicial e que ganhamos mais em andar aos S, tal qual uma serpente, serpenteando pela erva a ganhar ímpeto de movimento e passando ao lado da redundância e da aliteração. Para subirmos e escalarmos plataformas temos de fazer uso da nossa capacidade de nos enrolarmos às plataformas e tubos/postes e efectuarmos constrição para nos mantermos seguros.

As mecânicas são estranhas de explicar e ainda mais estranhas de controlar, não só por ser este o ónus de todo o jogo mas também porque há algumas decisões de esquemas de comandos que acaba por prejudicar-nos. Mas basta verem um pequeno trailer para perceberem o quão engraçado é o jogo, e as dificuldades que existem em progredir cada corrida (lenta) de obstáculos que corresponde a cada nível.

Mas a aura de curiosidade e encanto de Snake Pass passa rápido, quase tão rápido quanto o instinto de uma víbora a injectar a sua mordida fatal. A execução da ideia original do jogo está bem-conseguida, mas parece esgotar-se em si mesma, sem ser suficiente para manter-nos interessados após passada a inovação e a adaptação aos controlos.

Talvez seja um problema de ritmo ou de diversidade, mas o aspecto compassado do jogo e o muito backtracking que temos de fazer após cada morte, repetindo ad nauseam (ou ad venenum neste caso) as nossas acções e re-apanhar cada coleccionável acaba por não só esgotar-nos a paciência, o entusiasmo, e demonstrar que por incrível que pareça, uma boa ideia e uma boa execução desse mesmo conceito nem sempre são o suficiente para fazer de um jogo uma obra excelente. Um bom jogo, com mecânicas altamente apuradas e uma direcção artística que soube adaptar da melhor forma a aura revivalista da N64 para os dias de hoje.