Mystery Box é uma rubrica mensal de temas-surpresa aleatórios ligados aos jogos e a outros meios interactivos, digitais e não-digitais, apresentada por Isaque Sanches.

Já ouviu falar de XRA?

XRA é o nome artístico de um criador de jogos chamado Ezra Hanson-White. Pouco se sabe sobre a pessoa em questão. Na Internet dos jogos mais ligada ao experimentalismo podem-se encontrar algumas entrevistas a XRA, mas é mesmo muito difícil encontrar mais informação, e este tipo de peças nem costuma ter o nome real do artista, que é relativamente difícil de descobrir.

Uma coisa é certa: Ezra Hanson-White é alguém que valoriza a sua privacidade. Era capaz de jurar que o ano passado me tinha deparado com um blog profissional dele, mas hoje tirando uma conta de Twitter moderadamente activa não existem muitas mais pegadas digitais na criação de jogos.

Hanson-White trabalhou em République, em FEAR 2, e antes disso na série Brothers in Arms, mas o projecto pelo qual a persona XRA é conhecida, e o único projecto ao qual está oficialmente associada, é um jogo feito em Unity chamado Memory of a Broken Dimension.

Memory of a Broken Dimension tem ganho vários prémios ao longo destes últimos quatro anos. Foi anunciado pela primeira vez no Tokyo Game Show em 2012. A data de lançamento já foi 2015, hoje é 2017, e algo me diz que vai ser adiada novamente.

Segundo as palavras do autor, o valor que este vê no projecto está no potencial de falar sobre o nosso futuro. Se a arqueologia de hoje passa por desenterrar e reconstruir ruínas físicas, amanhã passará por resgatar e visitar espaços virtuais corrompidos. No que se vão tornar os nossos computadores, telemóveis, e perfis de redes sociais? O conceito de Memory of a Broken Dimension é isto. Navegar por uma tempestade de ruído visual bruto, monocromático, ondulante, gritante, adoptar o papel implícito de um arqueólogo, e navegar uma espécie de labirinto digital.

O jogo já tem uma página Steam, mas só pode ser jogado se forem ao perfil de Itch.io de XRA, onde poderão encontrar as primeiras demos. A versão actual do jogo só pode ser jogada localmente, para onde Hanson-White trouxer o jogo.

Descobri Memories of a Broken Dimension num blog post em 2012. Desde tenho estado atento não ao projecto mas ao artista. Pelo conteúdo que publica nas redes sociais ele parece estar a trabalhar em vários projectos relacionados com jogos não-profissionais, mas não partilha nada com o público.

Tive a oportunidade de experimentar uma versão recente (comparada com a demo disponível) de Memory há quase dois anos na Alemanha no Notgames Fest, em Colónia. Não encontrei lá Hanson-White, com pena, mas encontrei um computador abandonado, ligado a um projector, e uma pequena fila de gente curiosa, interessada em experimentar o jogo.