Para jogar à volta da mesa com 1 a 4 copos de whisky com ou sem gelo (os mais puristas dirão sem)

Há um apelo bastante evidente nos eurogames que transformam as componentes altamente estratégicas dos jogos do género como verdadeiras lutas pelo multitasking táctico-económico. Por outro lado, a aura bastante familiar e amistosa destes jogos tornam-no o verdadeiro cenário de guerra para serões com amigos sem que nenhum combate seja iniciado. A luta pela supremacia civilizacional usualmente passa pela defesa da honra dos pequenos meeples coloridos.
Clans of Caledonia, em campanha de Kickstarter até daqui a 3 dias, é obviamente um eurogame. Como qualquer eurogame, os elementos aleatórios e a sorte são relegados para um saco bem fundo e inacessível sendo amplamente substituídos pela destreza mental e estratégica dos jogadores, à medida que vão demonstrando o seu domínio táctico pelo tabuleiro.
Para quem ainda não percebeu pelas imagens ou pelo título, este jogo passa-se na Escócia (tão simpaticamente apelidada de Caledonia pelos Romanos, na sua ânsia re-baptizadora de territórios), mais especificamente no período de passagem entre a economia rural escocesa e uma primeira vaga de industrialização. O que significa, de facto, que o mui-amado whisky terá um papel fulcral em todo este jogo.

A primeira particularidade deste Clans of Caledonia é o quão customizável e diversificado é. Com os tiles que compõem o “tabuleiro” a terem verso, para se adaptarem a números distintos de jogadores, há aqui uma grande demonstração de adaptação do tabuleiro, estejamos a jogar a solo (já que o jogo permite) ou até 4 jogadores.
Há muitos outros elementos que garantem que cada novo jogo obriga a uma readaptação estratégica. No início do jogo cada jogador escolhe (por ordem inversa da vez) o clã que irá controlar, ao mesmo tempo que são revelados aleatoriamente os “objectivos” de cada um dos 5 turnos. Cada clã, como seria de esperar, tem capacidades distintas. Pessoalmente sempre achei que esta possibilidade de cada jogador ter de se adaptar às especificidades únicas da sua “facção” um elemento altamente positivo para qualquer jogo de tabuleiro, fugindo ao padrão e obrigando todos os jogadores a reajustarem-se perante os seus “poderes” e o dos adversários.

No mapa constituído por pequenos háxogonos (que é modular e que pode ser reconfigurado para criar cenários diferentes em cada jogo), existem quatro tipo de terrenos diferentes: floresta, planície, lagos e rios, e que vão influenciar grandemente o decorrer do jogo. Especialmente porque é no início do jogo que estabelecemos onde vamos começar a produção do nosso clã, atribuindo os nossos trabalhadores a cada um destes hexágonos. Porém, existem limitações. Só conseguimos colocar os nosso meeples em florestas e montanhas, convertendo-os em lenhadores ou mineiros, e iniciando a nossa produção dessa forma, e é no início do jogo apenas que os estabelecemos, o que firmará desde o início a nossa “área de acção” no tabuleiro.
Falando em produção, Clans of Caledonia demonstra a sua influência de diversos jogos distintos como o próprio autor Juma Al-JouJou admite, passando pelos elementos de construção de edifícios de produção, elementos de economia dinâmico com um mercado interno controlado pelo tabuleiro mas influenciado pelas acções dos jogadores, e lógicas de exportação de bens.

Ao contrário de outros tantos jogos do género, CoC decide trazer diversos factores para dentro de um eurogame, ultrapassando a tendência de outros congéneres de centrarem as suas mecânicas em gestão ou produção, mercado e construção.
Clans of Caledonia é estranhamente complexo e diversificado em cada playthrough, e o cumprimento dos contractos, a grande e maior fonte de Victory Points, esse elemento tão afável e comum aos eurogames.

Apesar de só poder ter jogado a versão disponível no Tabletopia, aquilo que se percebe rapidamente é que Clans of Caledonia exige-nos simultaneamente que sejamos altamente adaptáveis na nossa estratégia, mas ao mesmo tempo que tenhamos mais ou menos pré-concebido como vai ser a nossa expansão pelos hexágonos à medida que vamos criando cada vez mais edifícios de produção, e o quão fechada ou aberta é a área de controlo de produção do nosso clã. Como se tivéssemos uma pré-concepção mental daquilo que deverá ser o aspecto do nosso feudo no final do jogo.
A arte está ao cargo do veterano Klemens Franz, ilustrador de jogos tão famosos quanto Agricola, Le Havre e Patchwork.

Clans of Caledonia tem tudo para ser um dos grandes eurogames deste ano, e o sucesso da actual campanha de Kickstarter demonstram bem isso. Da nossa parte, e depois de umas sessões de Tabletopia, só podemos ansiar com fervor podermos estar em torno da mesa com as diversas e múltiplas componentes físicas e mecânicas que compõem o jogo, e pensarmos em tantos jogos que nos abriram o caminho e a paixão para os eurogames, quase com a certeza que Clans of Caledonia vai ser a partir de agora um desses exemplos.













