O povo costuma dizer que “não há Amor como o primeiro”. Não sei se concordo muito com essa afirmação no que diz respeito ao sentimento romântico de uma pessoa por outra…afinal, para mim, o Amor mais importante é o que sinto Agora…aquele Amor que espero que seja o Último.

Mas se discordo deste dizer popular para caracterizar o afecto romântico por alguém, não sei se discordo quando se trata de videojogos. Afinal, aqui, o meu primeiro Amor, aquele que me tornou uma videojogadora em idade tardia (já na casa dos 20), continua  a ser aquele que me faz regressar vezes sem conta… mesmo quando nos chateamos muitas vezes.

Finalmente terminei Rise of the Tomb Raider!

Quando o jogo saiu, porque era um exclusivo Xbox One, (e eu não tenho esta consola), o Fred do nosso Rubber Chicken fez a imensa gentileza de me emprestar a consola para que fosse eu a pessoa da equipa a experimentá-lo. Mas não o consegui acabar a tempo e por isso mesmo não consegui formar uma opinião mais ou menos coerente sobre a experiência.

Tomb Raider de 2012 foi para mim um dos melhores reboots de sempre de uma obra de ficção (isso inclui séries de TV e filmes). Depois de jogos tenebrosos como Tomb Raider Angel of Darkness, e outros tantos medianos, como Tomb Raider Legend e Underworld, o jogo de 2012 trouxe uma Lara que faz sentido no mundo de hoje. Uma Lara realista, genuína, aventureira, num jogo de acção e aventura que efectivamente pertence ao seculo XXI. Uma outra Lara, mas estranhamente a mesma pela qual me “apaixonei”. Por isso, e porque adorei tanto o primeiro jogo desta nova saga, vivi com expectativa a chegada de um segundo capítulo.

Uma das prendas que o meu marido me comprou no meu aniversário este ano, foi precisamente: Rise of the Tomb Raider para a PS4, edição especial 20 anos. Tem todos os DLCs e opções de Bónus. Abrir o presente e partilhar algo com quem amo que tanto faz parte de mim foi muito especial. E o jogo cumpriu as expectativas?

Sim e Não! Aqui está uma resposta de merda (desculpem). Mas permitem-me que explique.

Partindo um jogo por partes: para podermos esmiuçar o que gostámos e não, consigo dizer logo a priori o seguinte: Rise of the Tomb Raider tem uma história em tudo muito mais bem conseguida que o seu predecessor. A procura por artefactos religiosos, ligados a um “profeta” que nada tem a ver com Jesus Cristo (inserir voz sarcástica aqui), é algo que fascina todos os amantes de histórias de aventura ao estilo Indiana Jones. As descobertas que vamos fazendo, a história que vamos entendendo, é extraordinariamente bem construída e cativante. Ao contrário de Uncharted, em que as relíquias e tesouros escondidos que encontramos no qual  acrescentam à narrativa (são estatísticas inúteis de troféus PSN), em Rise of the Tomb Raider, todos os pequenos objectos têm a sua história e todos eles pertencem ao mundo no qual vivemos. Para além de que, caso aumentemos o skill de Avid Learner, cada objecto que encontramos aumenta também o nosso XP, o que não deixa de ser uma motição extra bastante simpática. É fácil ficar obcecada por percorrer o mapa e ir ao encontro de cada pequeno objecto, reliquia, moedas – seja o que for que estiver por lá escondido. Isso é sem dúvida ser uma verdadeira exploradora.

O sistema de combate continua tão fluído e frenético como em 2012… e ainda bem, pois estas mecânicas tinham sido um dos pontos altos daquele jogo. Em equipa vencedora não se mexe, e neste caso o mesmo se aplica a uma mecânica. É maravilhoso limpar um campo de soldados só com mecânicas Stealth – matando-os com a picareta de Lara, ou com o seu arco, como é igualmente satisfatório entrar num sítio armados em Rambo: soltando bombas artesanais, disparando todas as armas no nosso arsenal e terminar a chacina dos inimigos com um maravilhoso tiro de caçadeira à queima roupa. As pequenas satisfações no final de um dia a dia stressante de uma Mulher.

A exploração de túmulos continua a ser opcional, uma vez que poderemos percorrer a história principal do jogo e terminá-lo sem explorar um único túmulo, mas temos a motivação de, através desta descoberta dos locais que lhe deram o título “sagrado” de Tomb Raider conseguir equipamento extra que facilitará e muito a nossa progressão no jogo até ao capitulo final.

E aqui começam as coisas que me incomodam. É que efectivamente, enquanto jogadora, não preciso de mais nada que facilite a minha vida em Tomb Raider. O jogo, desde o início, é demasiado fácil. Leva-nos pela mão o tempo todo. A mecânica de “Instinto” (igual aos “senses” de “Witcher III”) permitem-me que, assim que entro numa nova zona, veja exactamente Tudo o que tenho para fazer. Para onde tenho que ir, onde posso tocar, o que posso armazenar, o que posso ler, interagir, explorar, etc. Não tenho que fazer mais nada a não ser: entrar numa sala, pressionar o botão que activa: ”Instinto” e …”Tcharan”…tudo aquilo em que posso mexer está convenientemente iluminado num tom dourado, enquanto tudo o resto se mantém num muito óbvio tom cinzento. Se eu não preciso explorar nada por mim, então este jogo não é um verdadeiro “Raider” de coisa nenhuma.

Os puzzles que compõem os túmulos são tão fáceis que me custa a crer que esta foi a saga que em tempos teve jogos cujos puzzles me fizeram ficar horas e horas a tentar passar uma secção. Puzzles difíceis eram o ex-libris desta série. Todos nós que jogámos estes jogos desde o seu início em 1996, temos histórias para contar sobre a forma como resolvemos um puzzle, descobrimos um segredo ou saímos de uma simples sala. Mas agora, a Eidos, Crystal Dinamics e a Square Enix aparentemente renderam-se ao medo de “frustrar” o jogador. Aparentemente, na cabeça dos developers, os videojogadores são criaturas de cristal que se quebram com o som estridente da frustração. Esta forma de ser tratada como uma jogadora “bebé” pela indústria é que é verdadeiramente frustrante! Abençoada From Software que não tem medo de nos frustrar até ao desmaio. Que não tem medo de não dizer Nada ao jogador sobre qual o seu objectivo, ou de como o atingir ou qual o caminho a percorrer para o fazer. A From Software dá-me crédito enquanto jogadora. Diz-me: “Acredito em TI – tenta que consegues!”

Claro que os jogos não são todos iguais e eu adoro coisas diametralmente opostas, como Uncharted e Bloodborne. Mas Rise of the Tomb Raider tratou-me como bebé… não acreditou nas minhas capacidades e sentiu a necessidade de me explicar tudo. Se não foi pelo “caminho dourado” que me mostrou, foi Lara que me disse exactamente o que fazer, pela sua constante narrativa : “I have to find a way to open that door…with fire”… hãaaaaaa?… No shit Sherlock Lara – obrigada pela afirmação tão profunda quando estou numa sala cuja porta está tapada com material inflamável.

Por falar na voz de Lara, esta é uma boa altura para falar num dos aspectos que mais adorei no jogo: o Voice Acting. A voz de Lara é excelente e todos os actores dão extraordinárias interpretações, elevando a experiência do jogo a um patamar mais realista. Mas a cada momento que estava verdadeiramente a sentir-me entrar mais dentro do jogo, a luz “dourada”, a constante narrativa e o Fast Travel (nem vou falar disso) de fogueira para fogueira, sem qualquer contexto, lembrava-me que estava num jogo de aventura que poderia ser Épico… mas é apenas Bom por culpa de uma indústria temerosa, preocupada com números seguros de prováveis vendas.

Poderão pensar, ao ler este artigo, que a minha opinião de Rise of the Tomb Raider é mais negativa do que é na verdade. E terão razão para pensar isso baseando-se unicamente no que escrevi. Se virmos bem as coisas, perdi mais linhas a falar do que não gostei do que das horas de prazer e partilha que vivi com este jogo. Mas sinto as pessoas que lêem os meus artigos um pouco como “confidentes” virtuais. É com quem me lê que partilho todas as emoções desta minha Paixão pelos videojogos. E precisava desabafar todos estes detalhes que me irritaram. É que Lara foi o meu primeiro Amor – foi ela que me trouxe para aqui e que, ao fim ao cabo, revelou quem eu sou por completo e me salvou de uma vida “pela metade”. E quando falamos das pequenas ofensas que o nosso amor nos fez, queremos falar com quem confiamos.

Rise of the Tomb Raider é um digno sucessor do Fantástico jogo de 2012. Mas não evoluiu o suficiente. Está com medo. Não arrisca. Não quer perder o que já reconquistou. Quer agradar a Todos. O Medo de poder ser algo que algum tipo de jogador não gostará, aterroriza-o. Pelo meio esquece-se do essencial: “Não é o Fracasso que nos impede de Evoluir – é o Medo desse Fracasso que nos barra a Genialidade!”