Caçada Semanal #87
Mais do que meras obras de development, muitos dos jogos que nos chegam são objectos que desejam contar uma história. Por vezes mais eficazes que outras, muitos jogos indie são formas de expressão dos seus autores, que entusiasmam os jogadores a conhecerem diversas narrações de forma interactiva.
Renowned Explorers: The Emperor’s Challenge
Um dos nossos jogos favoritos desde que conhecemos Manuel Kerssemakers numa pequena mesinha perdida a um canto da Gamescom 2014, e em que Renowned Explorers estava a uns largos meses de ser finalizado. Um ano depois, na Gamescom de 2015 foi a vez do Leonel ficar apaixonado pelo jogo, naquele que se tornou um dos jogos aos quais ele dedicou mais horas entre 2015 e 2016.
Renowned Explorers e esta expansão The Emperor’s Challenge são o livro de histórias por excelência, uma série de narrativas de aventura e exploração dinâmica, que se vai alterando a cada playthrough e a cada decisão tomada.
The Emperor’s Challenge leva as muitas páginas destas muitas histórias para Oriente, num novo modo que constitui uma louca corrida entre dois grupos de Exploradores de agradarem ao Imperador chinês Guāngx, e de obterem a melhor pontuação possível na sua demanda pela aventura e pelas descobertas.
Com quatro novos personagens, um novo modo de jogo e uma nova exploração decorrida na Indonésia, The Emperor’s Challenge é mais do que uma história para contar: pode e deve ser a inspiração para muitos entusiastas da aventura e do desenvolvimento de intrépidos e diversificados protagonistas.
Scéal
No caso de Scéal é uma bela lenda irlandesa, desenvolvida como um livro de histórias pintado à mão, onde nós pairamos como uma entidade sobrenatural, literalmente sobre o cenário manufacturado, e em que por vezes passamos para o lado de lá da espiritualidade, e assumimos o papel de banshee a aterrorizar as pequenas aldeias irlandesas.
A auto-descrição de “livro com vida” dos seus criadores, originários do estúdio Joint Custody não podiam ser mais certeiros. Enquanto espírito sem memórias que percorre a escarpa isolada gaélica, compete-nos irmos recompondo a nossa memória e a narração com ela.
Mecanicamente Scéal apresenta pouca ou nenhuma dificuldade. Os momentos de interacção limitam-se a um clique ocasional quando encontramos uma zona demarcada com um pincel, a denotar que existe algo a ser revelado aí. E são esses momentos que demonstram o quão bonito é este livro repleto de secções de pintura manual bidimensional tridimensionalmente justapostas como um livro de pop-up digital.
A banda-sonora, ao cargo de músicos como Lorcan Macmathuna e Aislinn Duffy ajuda a embrenhar-nos no ambiente e o folclore irlandês. Por 4,99€ Scéal é uma curiosa história contada através da interactividade, a demonstrar o pendor narrativo dos videojogos.
Gold Rush 2
Para quem não conhece Gold Rush, este é um jogo clássico da Sierra, dos bons velhos tempos das aventuras-gráficas, e que contava a história de Jerrod em busca pelo seu irmão em plena Febre do Ouro do Séc. XIX nos EUA. O jogo foi remade em 2014 como falámos aqui, e sem causar grandes spoils (até porque o jogo tem quase 30 anos), no final Jerrod encontra o irmão e… um filão dourado, que acaba por torná-los ricos.
Gold Rush 2 é o regresso à história de Jerrod e do seu irmão Jake, vinte anos depois de fazerem fortuna com a sua mina. Mas notícias de Nova Iorque, de onde são originários, dá conta que um dos mais larápios da sua juventude é agora um dos políticos mais influentes da cidade. Um daqueles casos em que a ficção tão fidedignamente imita a realidade, como é apanágio do rigor histórico deI.
Os dois irmãos decidem regressar a casa com provas para por o criminoso atrás das grades. Pelo caminho fica uma aventura típica, com muitos puzzles algo simples para veteranos das aventuras-gráficas, mas que continuam a lenda dos irmãos Wilson. O único e grande porém deste Gold Rush 2 é a sua direcção artística, herdada do remake do primeiro jogo.
O meio termo entre reinterpretação clássica e o 3D datado deste Gold Rush 2 serão um elemento detractor para muitos jogadores e com alguma compreensão. Infelizmente a história a ser contada sobre este período dos EUA cai vítima de um 3D algo tenebroso.