O meu gosto por Wrestling já desvaneceu há uns anos. É verdade que ainda deito os olhos a uns combates de vez em quando e tive aquele arrepio na espinha quando os Hardy Boyz voltaram no Wrestlemania 33, assim como a reforma do grande Undertaker, que tal como outros grandes do meu tempo fechou o seu ciclo.
Eu ainda gosto bastante de jogos de Wrestling, apesar de não ser tão fã dos mais recentes assim como de toda a maior empresa do desporto de entretenimento a nível mundial.
No ano passado, tive o prazer de coordenar um painel sobre WWE2K17 com Jorge Botas, Diogo Beja, Bruno Brito e Bruno Almeida da WP onde infelizmente não pude falar do meu jogo de Wrestling favorito, tema principal do Rapaz-Ventoinha desta semana, Fire Pro Wrestling
Existem duas partes principais em todo o espectáculo que é o Wrestling habitualmente bem tratados nos jogos da chancela WWE, e nos anteriores da WWF, ou até no fantástico WCW/NWO da Nintendo 64.
Em quotas iguais wrestling divide-se em luta propriamente dita, toda a acção que se passa no ringue, e fora dele, com corpos a ser maltratados e lançados de um lado para o outro da forma mais atlética possível, e a outra parte igualmente importante é toda a gestão de enredo, todas as novelas e picardias, bocas e insultos que são criadas para o público acreditar ainda mais em tudo o que está à sua frente, de certa maneira a luta é a carne, batatas, arroz, que nutre o fã, mas toda a novela criada é o molho e tempero que une tudo e dá o verdadeiro sabor e faz voltar para uma nova pratada.
Curiosamente enquanto os jogos da WWE tentam criar este ambiente num modo carreira em que o jogador tem alguma interacção, a um nível maior ou menor, os jogos Fire Pro Wrestling para o GBA de 2000 e a sua sequela de 2001 não têm nada disto, mas aquilo que fazem, a luta, a acção no ringue, é feito a um nível quase perfeito.
Talvez porque se puderam focar apenas numa parte do jogo, seja por restrições de espaço de memória ou por opção, a SPIKE conseguiu fazer o que mais nenhuma conseguiu criar um jogo em que a luta não só está reproduzida a um nível técnico exímio em termos de movimentos, golpes, mas também no que diz respeito à acção, ao ritmo, e todo o ambiente criado na arena. Fire Pro Wrestling faz toda a sua luta na base do timing, enquanto todos os outros recompensam o jogador por button mashing, ou o penalizam usando sistemas estúpidos, aqui há uma componente táctica em que os lutadores começam com pequenos golpes e gradualmente aumentando a sua intensidade. O sistema de timing é usado no grapple, termo técnico de quando os lutadores se agarram mutuamente. Aqui o jogador tem que ser preciso, em vez do carregar cega e rapidamente em botões. Ao se aproximarem os lutadores fazem o movimento de agarrar nos ombros um do outro ao mesmo tempo, e é precisamente quando as mãos tocam nos ombros que temos que carregar no botão para ganhar a vantagem e consequentemente poder executar o comando para o golpe desejado, falhando esse timing damos a vantagem ao nosso adversário e sofremos o golpe.
Obviamente não é só assim que funciona porque há golpes em corrida, socos, pontapés, saltos do canto do ringue, cadeiradas e outras coisas habituais neste meio, assim como diferenças de velocidade, tamanho e peso dos lutadores que influenciam toda a luta, mas no seu cerne é esta a maior diferença de jogabilidade que o distingue e torna superior aos seus concorrentes. Até o facto de os lutadores terem stamina e resistências diferentes torna este o jogo de Wrestling mais realista de todos. Chega ao ponto de ter que aproveitar que o nosso adversário está parado para carregar num botão e fazer o nosso lutador respirar calma e profundamente para recuperar o fôlego. Este pormenor e o aumento de intensidade de golpes dá um ritmo muito mais semelhante ao do espectáculo real que qualquer outro jogo.
A falta de enredo e “novela” que tanto conteúdo dão aos outros jogos podia ser uma falha gigantesca neste jogo, e é tendo em conta a sua importância geral, mas é colmatada por outros factores. Fire Pro Wrestling não tem nenhuma chancela de Wrestling associada e por isso não utiliza a imagem e nome oficial de nenhum lutador. Não esperem encontrar The Rock, Triple H, Shawn Michaels ou Undertaker, mas sim Joe Morici, Double Trouble, Kleebo ou Death Head que são invulgarmente muito semelhantes e usam os mesmos golpes que os respectivos da WWE.
Com estes sósias de paletes de cores diferentes, totalmente customizáveis, a Spike resolveu o problema das licenças de imagem e dá uma vantagem adicional porque lhes permite incluir não só elementos que por coincidência são muito parecidos com os lutadores dos principais circuitos americanos, mas também dos circuitos mexicanos e japoneses. Aliando isso a um menu de criação de lutador quase infinito em termos de opções podemos passar todo o tempo a “oficializar” os lutadores ou a criar o nosso avatar perfeito.
A capacidade e variedade não está limitada aos lutadores, modos de luta e ringues também são imensos que passam dos clássicos 1 para 1, a tag team, a regras MMA e ringues de jaula octogonais.
Depois de uma ausência muito longa, Fire Pro Wrestling estará de volta mas para já apenas ao PC mas espero que seja rapidamente portado para a 3DS e/ou a Switch onde seria perfeito, tal e qual como era no GBA.