Caçada semanal #89

Nota: lá à frente, no vídeo, nas cadeiras encostadas ao palco mais ou menos a meio à direita, estou eu e o Leonel efusivamente a cantar.

O Early Access é o negócio de colchões ou reuniões de timeshare do mercado dos videojogos. Se na maioria das vezes o Early Access serve como um verdadeiro embuste, com jogos que nunca serão terminados e cujos developers nadam alegremente em piscinas de dinheiro obtido com a simplicidade dos incautos, outros há, raros, que utilizam o sistema criado pela Valve para realmente obter feedback e apoio financeiro para terminarem os seus jogos. E que o fazem realmente.

Os dois indies desta semana estão todos em Early Access e parece-nos que têm qualidade neste momento para virem a ser as excepções à regra da maioria dos jogos em Alpha, e prenunciam-se como verdadeiros sucessos antecipados.

O outro elemento comum a ambos é que se tratam de dois jogos de sobrevivência a passar-se em Marte, onde temos de sobreviver em ambiente hostil, como o Matt Damon no filme do Ridley Scott.

Lacuna Passage

A temática de Lacuna Passage não é nova, e eu tenho a certeza que ainda há menos de um ano nos passou pelas mãos um indie de sobrevivência em Early Access com um conceito exactamente idêntico, mas já não tenho a certeza se se passava em Marte ou não. Ah, espera, era o Hellion. Talvez não fosse assim tão parecido.

Lacuna Passage é então a primeira das propostas que nos chegam esta semana para sobreviver aos rigores do espaço. A superfície marciana onde jogamos foi concebida pelo estúdio Random Seed Games a partir das imagens de satélite da NASA e do Curiosity e são fidedignas, tanto quanto a construção de um mundo do qual apenas conhecemos fotografias pode ser.

Este jogo compromete-se a contar-nos a história da missão anterior à nossa, a primeira pilotada por humanos, cujo rasto desapareceu por completo. Cabe-nos a tarefa de perceber o que se passou, tanto com essa missão como com a nossa, visto que somos os únicos sobreviventes da nave de “resgate” enviada ao Planeta Vermelho.

Para além de termos de recolher recursos e encontrar pontos onde possamos “pernoitar”, a sobrevivência na superfície marciana é quase um aperitivo para o prato principal que é o enredo de mistério que circunda o jogo.

Reparar instrumentos e maquinaria, correr diagnósticos e garantir todos os factores que nos impeçam de sufocar em Marte ou de morrer de qualquer outra forma, há já uma vasta colecção de actividades que podemos fazer no modo existente, o de Sandbox, e no qual a curva de aprendizagem encontra-se naquele ponto equilibrado entre a justiça intelectual e o desafio.

ROKH

Pegando na mesma premissa de Lacuna Passage, ROKH exige-nos que sobrevivamos a Marte mas com uma pequena diferença: não estamos sozinhos. E não o digo por o jogo ter laivos de survival horror com criaturas alienígenas a quererem comer-nos as entranhas, mas digo-o porque ao contrário do jogo este anterior, o foco de ROKH é a sobrevivência multiplayer.

Benjamin Charbit e Marc Albinet, dois dos developers deste jogo, são dois veteranos ex-pertencentes à equipa de Assassin’s Creed e que vieram mudar de ares, de género e de planeta, com a escarlate paisagem marciana como fundo.

O detalhe dos materiais e recursos à nossa disposição abrem complexas listas de crafting e é aqui que percebemos o quão complexo o sistema de manufactura pode ser neste jogo. No entanto, parece-me que poderá ainda ser algo simplificado na versão final, sob risco de ser excessivamente complicado e levar a um interface e lógica labirínticas de crafting.

O multiplayer entra aqui tanto com a possibilidade de uma quase construção de colónia, contando com a entre-ajuda de jogadores, ou com a mais simples e habitual sabotagem e traição, levando a que diversas estações espaciais sejam “concorrentes” entre si, digladiando-se pelos parcos recursos e pela sobrevivência em Marte.