Dos muitos jogos de Wii que nos maravilharam cá em casa na época de vida da consola, de Blob não foi um deles. Não só pelos verdadeiramente magistrais Super Mario Galaxy 1 e 2 como por Kirby Epic Yarn e afins, se havia um sector em que a Wii não tinha falta de excelentes jogos era mesmo nos platformers. Daí, na maré tremenda de bons jogos para jogar, de Blob acabou por ficar escondido lá no fundo do baú.

Nem sempre respondo com a melhor das posturas perante remakes HD, mas o que a THQ Nordic fez com o seu sucesso passado, de o trazer remasterizado em “alta definição” para o PC, onde a nova resolução faz maravilhas pela direcção artística do jogo apaziguou-me os azedumes.

Nos dias em que eu e o meu filho andámos verdadeiramente agarrados a de Blob e a jogar à vez este divertido platformer tridimensional, alguns amigos que aqui vieram traçaram logo um paralelismo com Splatoon. É verdade que nos dias de hoje, e para quem nunca tinha jogado de Blob em 2008, no ano em que saiu, a obra mais relacionável é mesmo o jogo competitivo Splatoon, mas até do ponto de vista narrativo a influência é mesmo do excelente Jet Set Radio de 2000.

De um lado o regime autoritário que quer controlar o livre-arbítrio da população ao controlar e absorver toda a cor do mundo, deixando tudo e todos no seu espectro cromático favorito: o monocromatismo do preto-e-branco. Do outro a Resistência, constituída por diversos NPCs que nos vão ajudando nas missões e o herói em toda a sua magnificência de ricocheteio: o de Blob. Esta luta contra um governo/corporação autoritária, no qual combatemos a sua presença pintando diversos aspectos da cidade é a mais suave reminiscência que podemos ter de Jet Set Radio. Sendo no entanto verdade que a estética familiar relembra em muito Splatoon.

de Blob é um jogo para toda a família, e garanto-vos com experiência própria. Apesar de ter muitos níveis de complexidade e dificuldade, em extremo de Blob consegue apelar e ser compreensível a um público mais infantil, que se vai divertir a recolher tinta e a andar a pintar prédios e árvores até à exaustão, e que até consegue progredir níveis desta forma, como a público que necessita de desafios, com achievements e completionists difíceis de atingir no tempo limite, e que requerem uma grande mestria dos comandos que controlam o protagonista.

Se Bush começou a “war on terror”, e Trump iniciou a “war on intelligence”, a temível INKT Corporation leva a cabo uma “war on color” ameaçando a felicidade de todos e fazendo do mundo um lugar triste e literalmente cinzento. Para contrariar isto, temos de absorver tinta e andar a saltar entre prédios, árvores e tudo o que possamos tocar para devolver a cor a essa zona. Quando colorimos um quarteirão inteiro, os seus moradores vêm comemorar para a rua e compete-nos a tarefa de lhes devolver a cor para não só trazer-lhes a alegria de volta, como estamos simbolicamente a conquistá-los para o lado da resistência.

A meio dos níveis vamos tendo pequenas quests, que vão desde pequenas corridas, a alguns puzzle platformers que nos obrigam a alcançar zonas mais inacessíveis e colori-las, transformando outdoors em mensagens políticas anti-regime. Muitos outros envolvem pintar determinados prédios de uma certa cor, o que nos obriga a estar constantemente a absorver cores primárias na sequência necessária para alcançar cores secundárias e terciárias. Querem maneira mais divertida de ensinar teoria da cor a crianças? Itten ficaria feliz decerto.

Controlar de Blob é por vezes um pesadelo. E é-o não por incapacidade dos autores mas pela definição conceptual que fizeram dele enquanto protagonista composto por uma massa esponjosa absorvente de tinta, e que ricocheteia entre superfícies. Por vezes chegar àquela plataforma que parece estar ali tão perto é uma verdadeira dor de cabeça, e outras tantas vezes apetece-nos apertar de Blob como uma esponja do banho tal é a frustração.

No entanto, se pudéssemos utilizar um substantivo para descrever de Blob seria relax. Perdoando-me o anglicismo, mas de Blob é mesmo dos jogos mais descontraídos que podemos jogar, e onde podemos escolher inclusivamente o mood de banda-sonora que nos apetece ouvir para acompanhar-nos na luta gloriosa contra os tiranos da INKT.

Apesar de cada nível ter tempo limite, cada vez que terminamos uma mini-quest recebemos um boost de tempo o que nos permite explorar o suficiente para conseguirmos o tão desejado completionist em cada nível que envolve apanhar todos os itens coleccionáveis e pintar todos os edifícios, por muito inalcançáveis que eles pareçam.

de Blob aparece aqui como uma excelente diversão para toda a família, trazida directamente do catálogo da Wii de 2008 para os dias de hoje. Quase completamente auto-explicativo, mesmo ao nível do combate e da utilidade da água para fazermos reset à nossa cor mas também para limpar a tinta negra que nos é nociva, há aqui diversos piscares de olhos a Jet Set Radio num tom mais infantil e mais cartoonizado, mas que servem o propósito de torná-lo bastante acessível a todos.