Há um jogo, não sei se se recordam… mas há um jogo em torno da obra de Andrzej Sapkowski, de seu nome The Witcher. Raramente teremos falado dele por aqui, estou em crer. Pois bem, a riqueza da obra de Sapkowski e da sua adaptação por parte da CD Projekt Red não se fica pelos aclamados Witcher, Witcher 2 – Assassin of Kings e Witcher 3: The Wild Hunt (nem pelas suas deliciosas expansões)… Há, dentro do universo Witcher, um pequeno grãozinho de areia. Irritante para alguns, que optam por o deixar de lado durante a exploração do vasto action RPG, certo é que, esse grãozito de areia, na ostra que é Witcher, acabou por se tornar numa bonita e aclamada pérola.
Dêem-me um minuto para me inteirar da fenomenal metáfora que esgrimi.
Pronto.
Aclamado que foi, Gwent acaba por dar o salto. Atenta, a CD Projekt Red decide fazer a vontade a uma grande percentagem dos aficionados de Witcher e lançar Gwent como um standalone. O projecto começou lento, meticuloso, portando o possível do existente nas mãos de Geralt, mas alterando uma saudável base para que Gwent possa ser equilibrado, desafiante e jogável por largos períodos de tempo. Assim, apenas esta semana Gwent deu os seus primeiros passos numa Open Beta, depois de um começo em lume brando e de alguns meses em Closed Beta.
Pois bem, mas o que é, afinal, Gwent, o jogo que a comunidade pediu? Gwent é um trading card game inserido no universo Witcher. E aqui refiro-me, especificamente, a cartas que são personagens da história. Assim, o nosso carismático Geralt é uma das cartas disponíveis. Tal como Ciri, Yennefer e outras memoráveis personagens. Não sendo necessária, esta injecção de lore no jogo ajuda a contextualizar a acção e a construir pontes em comum com um universo bem sucedido, pese embora a presença de Geralt ou Ciri em campo não signifiquem a vitória. A primeira decisão a tomar dentro de Gwent será a facção que pretendemos utilizar para determinado baralho.
Há cinco facções disponíveis. Os Northern Realms representam os exércitos do Norte e baseiam a sua força na organização e valorização dos recursos. Seus rivais, Nilfgaard contrapõe exércitos também eles organizados mas recorre sobretudo ao subterfúgio e ao poderio económico para obter a vitória. Os independentes e ferozes Skellige vivem para o combate e treinam para isso sob as condições mais adversas. Os Monsters são os inimigos comuns, de raças que os Witchers juraram matar onde se inclui a The Wild Hunt. Os Scoia’Tael são os não-humanos. Não tão detestados quanto os Monsters, mas também eles perseguidos, as fileiras de elfos e anões fazem da guerrilha a sua força.
De notar que, até esta semana, cada facção tinha uma habilidade inata que foi, pelo menos por enquanto, retirada. Há, no entanto, um líder para o baralho que escolhermos fazer. Há vários líderes disponíveis para cada facção – e é possível desbloqueá-los cumprindo uma série de desafios – cada um com um poder de ataque e uma habilidade específica em torno da qual, à partida, deveremos construir a estratégia central do nosso deck. Há cartas para todos os gostos e feitios e todas elas, de uma maneira ou de outra, nos ajudam a atingir o nosso objectivo: vencer um confronto à melhor de três. Sacamos 10 cartas, jogamos a primeira ronda, sacamos mais duas, jogamos a segunda e, se necessário, sacaremos mais uma carta para jogarmos a derradeira ronda que ditará o vencedor.
Ora, antes de mais, isto implica uma gestão das cartas que temos em mão e por sacar, ao longo das possíveis três rondas. Em cada uma delas, o objectivo é ter, no terreno de batalha, mais ataque do que o adversário. Para tal, colocam-se unidades em três linhas: corpo a corpo, arqueiros e artilharia. Cada unidade tem um poder de ataque e muitas juntam a isso algum efeito ou conjunto de efeitos despoletados quando são baixadas, quando morrem, de x em x turnos ou noutro tipo de eventos (que são, de facto, demais para catalogar). Quer isso dizer que a vossa unidade com 5 de ataque que quando a baixaram vos permitiu sacar mais uma carta pode ser removida da mesa por uma unidade com 3 de ataque que, ao entrar em jogo, dá 5 de dano a uma unidade inimiga. E é neste constante tu-cá-tu-lá que reside a razão para se chamar a este jogo um fast-paced-TCG.
As cartas estão divididas em três categorias: bronze, prata e ouro. As duas últimas têm um número limite por baralho. São mais difíceis de obter e são, por norma, bastante poderosas – embora possam ter um papel bastante secundário num baralho funcional. Por norma, as cartas douradas são também imunes a quase todas as magias e efeitos, o que lhes confere um poder extra. Quanto a tipos de cartas, além de unidades para as três linhas, há espiões, magias diversas e cartas de meteorologia. Não é, acautelem-se, nada como na TV com alguém a apontar a existência de baixas pressões, aguaceiros ou períodos de boas abertas (para isso temos o artigo de Porno Studio Tycoon, naquilo que é capaz de ser o pior pun de sempre). Uma carta de meteorologia adiciona um efeito meteorológico adverso a uma linha ou conjunto de linhas. Por adversos que possam ser para a maioria, há criaturas que beneficiam da sua presença, pelo que isso deve ser também considerado como estratégia a utilizar ou combater.
Embora ainda esteja numa fase muito inicial desta sua nova fase, depois de mudanças na passagem para standalone e depois de várias alterações de fundo na closed beta, certo é que Gwent oferece uma excelente diversidade de cartas e decks viáveis. Face ao habitual em TCGs, há cartas que, sendo comuns, dificilmente descartamos como inúteis ou meros fillers até as vermos a ser utilizadas como núcleo central de todo um baralho ou mecânica. E tem sido esta riqueza, esta diversidade e imprevisibilidade que tem vindo a granjear cada vez mais adeptos de um jogo que, primeiro, era mais um Hearthstone e, ultimamente, tem vindo a “roubar” caras conhecidas dessa comunidade, dedicadas a afirmar-se num crescente mundo competitivo que vai surgindo, timidamente, no mundo dos eSports.
O acesso razoavelmente democrático a cartas, a volatilidade e versatilidade do metagame e a complexidade inerente ao jogo, que fazem com que seja mais valorizado o processo de tomada de decisões com as cartas do que a aleatoriedade com que estas nos são presenteadas, são alguns dos ingredientes que fazem Gwent um caso sério no mundo dos Trading Card Games e que, ao que tudo indica, poderão elevar o jogo a um patamar competitivo bastante agradável, no mundo dos eSports. Gratuito, é só seguir os conselhos de Ciri e começar a jogar!
Podem tirar dúvidas sobre Gwent aqui e fazer um tutorial aqui.