Antes de mergulhar no que foi a prestação da Nintendo nesta E3 tenho de ir um pouco mais atrás, e falar de uma das figuras-chave da História dos videojogos: Satoru Iwata. Ninguém é insubstituível, mas a forma como Iwata dirigia a companhia era realmente única em to o mundo, e não falo apenas de conglomerados tecnológicos. Iwata humanizava o negócio, dava um rosto à corporação e trazia a arte e o engenho para a linha da frente da comunicação. Ele era um apaixonada pela área em que trabalhava, sentia-se afortunado pela relevância que tinha e isso transparecia em cada comunicação. A evolução do mercado dos videojogos, e não apenas na Nintendo, deve-se em muito a Iwata.

Durante a Era-Iwata, como disse, as comunicações da Nintendo eram diferentes, soavam pessoais, íntimas, um diálogo que parecia destinado a nós ainda que racionalmente soubéssemos que estava a ser difundido por milhões de pessoas. Era essa a magia de Iwata e da sua Nintendo, que permanece ainda na visão da marca e das decisões tomadas tanto com a Wii U como com a Switch. Aliás, apesar de ter falecido há quase 2 anos, o sucesso da Switch é indubitavelmente um sucesso dele e da sua visão, lógica e apaixonada, para o caminho que a Nintendo devia tomar.

Acredito que não vá existir uma única E3 em que não me lembre do último Nintendo Direct exibido a partir de Los Angeles durante a vida de Iwata. Aquela divertida apresentação que substituiu as figuras emblemáticas da companhia por Muppets, e que viria a ser a súmula do que era a sua administração da Nintendo. Lighthearted, à falha de melhor termo em português, divertido e honesto. Mal sabíamos nós que estes substitutos de feltro estariam a permitir a remoção da vida pública de Iwata no final da sua batalha contra a doença. Mas foi algo tão forte, tão marcante, que falarei para sempre como exemplo do que é trabalhar dentro de uma mega-corporação com amor e carinho. É aquele Nintendo Direct enquanto súmula de tantos outros. É Satoru Iwata.

Não se poderia esperar similar de Tatsumi Kimishima. As posturas são diferentes e a forma de comunicar também. Aquela sobriedade de que falei e que contagiou (para mim positivamente) o marketing das grandes companhias é também de uma certa forma o modo como a Nintendo comunica hoje em dia.

O Nintendo Spotlight da E3 2017 foi feito sem rodeios, focando-se naquilo que a Nintendo sabe fazer como ninguém: jogos. E foi nestes que a marca se apoiou para fazer alguns showstealers de todo o certame. Xenoblade Chronicles 2 a chegar em poucos meses e já com imagens de jogabilidade prenuncia mais um feliz casamento da Monolith e das plataformas Nintendo, onde se augura tanta qualidade quanto em qualquer outro jogo da saga.

Fire Emblem Warriors é mais um musou no qual pensamos que não queremos mas que depois nos vai roubar horas incontáveis de vida como um buraco negro que nos causa tendinites múltiplas. É Warriors. Com Fire Emblem. Como é que ninguém se lembrou disto antes?

Yoshi e Kirby estão de regresso para a Switch, cada um com um ar mais fofo que o outro, a prometer muita diversão familiar, com as potencialidades gráficas da consola a darem uma tremenda vontade de entrar pelo ecrã a dentro e abraçar este mundo.

Rocket League, Skyrim e FIFA 18 na Switch a demonstrar uma aposta de terceiros na consola e que se deseja que sejam apenas primeiros passos de muitas colaborações. Acredito piamente que os grandes third-parties acabem por sentir-se seduzidos pela valente massificação da Switch, e que aproveitem as especificidades únicas da plataforma. Cá estaremos (acho eu) para falar da E3 2018 e perceber se estas danças de acasalamento à volta da Switch se dão cópula ou não.

E depois aquele momento subtil. O silêncio e o ecrã escuro. O “4” majestoso que aparece no ecrã,, ao qual lhe segue “Metroid Prime”. Milhares (ou milhões?) de pessoas verteram algumas lágrimas de entusiasmo naquele que foi um dos raros exemplos de toda a E3 de teasers sem informação, e o único que a Nintendo fez. Mas como uma boa notícia de Metroid nunca vem só, ainda soubemos que daqui a pouco tempo chega-nos outro título bidimensional para a 3DS: Metroid Samus Returns. Parece que é Natal. mas com alienígenas à mistura.

Mario + Rabbids: Kingdom Battle já tinha roubado as atenções na conferência da Ubisoft e foi uma das grandes surpresas criativas de todo o certame. Mas o que fez “rolar tinta” (ainda que digital) foi a antecipação da data de lançamento de Super Mario Odyssey, e o consequente trailer de gameplay, a demonstrar o quanto a nossa ânsia por um novo jogo principal de Super Mario Bros. era justificada. A inovação mecânica tão intrincada na série principal parece estar aqui toda, ao mesmo tempo que sentimos que o final do ano ainda nos reserva mais um sério concorrente a jogo do ano.

Jogos, jogos, jogos. Foi tudo o que a Nintendo trouxe, e é isso que esperamos dela. Com algumas surpresas a manterem a 3DS viva, a Switch acabou por ser o foco como seria de esperar, demonstrando às muitas e muitas pessoas que apostaram na consola pelo mundo fora que existe muito conteúdo a chegar, aliás como tem sido apanágio destes intensos primeiros meses de Switch.

A Nintendo estava morta não era? “Olhe que não! Olhe que não!”