Mystery Box é uma rubrica mensal de temas-surpresa aleatórios ligados aos jogos e a outros meios interactivos, digitais e não-digitais, apresentada por Isaque Sanches.

Já ouviu falar de Pony Island?

Pony Island é o nome de um jogo criado por Daniel Mullins para a edição de Dezembro de 2014 da Ludum Dare, uma game jam virtual internacional. O tema daquele mês era “entire game on one screen” e Mullins criou um endless runner “meta”, com glitches, em que o menu de opções é um elemento de jogo. É uma experiência self-aware, em que tudo se passa num ecrã dentro do nosso ecrã, que dura cerca de 5 minutos.

Pony Island também é o nome de outro jogo, também criado por Daniel Mullins, que foi lançado no Steam em Janeiro de 2016. A nova versão, que dura cerca de duas horas, é um update gráfico, mecânico e conceptual que só guardou o estilo do original. Controlamos um cavalo voador que dispara laser do focinho para escapar a um inferno digital, que é o próprio jogo, guardado por vários demónios, sendo um deles um criador imaginário do jogo.

É algo que faz lembrar The Magic Circle pela forma como trata a sua própria virtualidade, e que  também faz lembrar Undertale por nos acompanhar fora do ecrã, no mundo real, (por exemplo: foi-me pedido que encostasse a testa ao ecrã para que o jogo sugasse a minha alma). No entanto Pony Island faz-me lembrar sobretudo Gods Will Be Watching, um jogo que amo e odeio, que também se encontra à venda no Steam, que também nasceu de uma game jam.

Existe a noção popular que uma game jam é um ótimo laboratório para testar mecânicas novas. E essa noção nem sempre está certa.

Certas mecânicas resultam melhor numa escala “maior”, outras não funcionam de todo.

Pony Island durava originalmente 5 minutos, ninguém o iria comprar por 5€, que é neste momento quanto custa no Steam, e teve que ser “esticado” para duas horas.

A nova versão é objectivamente melhor que o jogo criado no fim de semana, mas senti que era demasiado longa. Há mecânicas de puzzle interessantes escondidas lá pelo meio, mas por outro lado quase que me fartei delas. É uma experiência que satisfaz mas que é visceralmente masoquista (sobretudo a nível visual), e isso só é ampliado com a maior duração de jogo. Há temas interessantes que achei que ficaram subdesenvolvidos.

Para ser franco, não sei o que sinto em relação a Pony Island. Mas tenho a certeza que isso é uma coisa boa, e que não serei o único.