Ainda ontem falávamos do regresso da atenção do mercado dos videojogos à Segunda Grande Guerra. Com Sudden Strike 4 este não era apenas o regresso ao setting, mas também de um género que nunca abandonou estes momentos negros da nossa História.
No campo dos jogos de estratégia isto não é novidade, especialmente no mercado de produção e consumo europeu onde muitos (bons) jogos continuam a apostar neste período enquanto campo de acção.
Agora a probabilidade de ter as duas maiores (e possivelmente melhores) editoras a lançarem na mesma altura duas abordagens distintas, e igualmente boas, a RTS sobre a Segunda Guerra é muito pequena. Mas tendo-se cumprido a improbabilidade estatística só temos mesmo é de ficar feliz. Depois do excelente jogo que é Sudden Strike 4 da Kalypso, chegou-nos ao mesmo tempo Steel Division: Normandy ’44 da Paradox.
Steel Division: Normandy ’44 é a mais recente obra dos veteranos Eugen Systems, e é, ao contrário do que o título indica, um jogo da chancela Wargame. Possivelmente pela ligação da franquia à Focus Home este Steel Division deixou cair o título que colocou o estúdio francês no mapa, mas esta é uma realidade que qualquer um de nós ente imediatamente: este é mesmo um jogo Wargame.
Depois da tentativa do estúdio francês fazer um RTS mais “clássico” ao estilo de Command & Conquer: Generals, com o resultado que reportámos há 2 anos, houve aqui um regresso “às origens” com este regresso às trincheiras dos jogos de estratégia em tempo real mas com jogos de guerra realistas.
Nem os jogos Wargame, nem este Steel Division: Normandy ’44 são de fácil entrada, e o tutorial é certamente insuficiente para cobrir todas as intrincadas características que demonstram a sua gigantesca complexidade táctica.
Num jogo que apresenta um esquema de pedra-papel-tesoura com 10 variáveis seria praticamente impossível de conseguir apresentar num tutorial que não fosse extenso e enfadonho toda a diversidade, forças e fraquezas de todos estes elementos. Especialmente quando tomamos em atenção que esta circunscrição de setting que a Eugen Systems teve com este Steel Division: Normandy ’44 é muito mais fechado do que com os outros jogos da série Wargame, limitando a sua acção às batalhas decorrentes do desembarque na Normandia.
Utilização informação militar fidedigna das batalhas na Normandia, Steel Division: Normandy ’44 pode ser verdadeiramente esmagador para quem está a jogar há pouco tempo. Não só pelas razões que enunciámos, mas também pela longa curva de aprendizagem, polvilhada com incontáveis pormenores que podem apanhar até o mais empedernido fã de RTS de surpresa.
A primeira é que em Steel Division: Normandy ’44 nada é um dado adquirido. O peso da táctica e do conhecimento das unidades, assim como estratégias e emboscadas bem elaboradas levam facilmente a melhor perante a superioridade numérica.
Cada combate começa com a formação de um “baralho” de uma série de cartas disponíveis. Ou seja, visto que ao contrário de muitos outros RTS, Steel Division: Normandy ’44 não possui obtenção de recursos nem construção de novas unidades, o que significa que a nossa força militar, a nossa “mão em jogo”, é formada antes da missão começar. O combate em si é dividido em fases e são estas que determinam quantas e quais as unidades que podemos posicionar em terreno daquelas que temos na nossa “mão”.
Vista a diversidade e complexidade de todas as unidades que dispomos, qualquer um de nós fica facilmente exacerbado pela quantidade de micro-gestão e de conhecimento total que temos sobre o jogo. É por esta razão que me parece que o modo multiplayer cooperativo é possivelmente o mais divertido, especialmente se cada jogador decidir especializar-se em tipos de unidades, facilitando assim a micro-gestão de todo o exército.
À semelhança com Sudden Strike 4, as unidades de suporte são de vital importância se não queremos que as nossas unidades fiquem sem combustível e/ou munições. Os transportes de infantaria são também de grande destaque, visto que o realismo de movimentação permite que os soldados a pé demorem muito tempo a posicionar-se no grande esquema da batalha.
A surpresa, as emboscadas e a inferioridade numérica podem afectar grandemente os adversários, ao criarem stress suficiente para que eles não consigam levar a cabo as instruções que têm, podendo apenas recuar em terror.
Existem dois modos de vitória: o primeiro por conquista de mapa, exemplificado pelo constante avanço e recuo das duas linhas coloridas limítrofes do território, ou a eliminação total do exército inimigo.
Num jogo que permite escaramuças de 10 contra 10 jogadores, Steel Division: Normandy ’44 vai ter o cumprimento de toda a sua complexidade e exímia jogabilidade no ambiente multiplayer. O díficil modo de campanha serve apenas de aperitivo para um jogo dificílimo de masterizar, mas cuja complexidade estratégica o coloca como um dos melhores, senão o melhor jogo da série Wargame já lançado.