Quando na Gamescom de 2014 a NIS America me apresentou numa sala do seu stand aquele que viria a ser dos mais estranhos e mais viciantes action RPGs que joguei nesse ano, só conseguia rir-me do conceito e do selling point do jogo.

Akiba’s Trip: Undead and Undressed era uma celebração da cultura otaku e do famoso bairro de Akihabara, o verdadeiro centro do manga, anime, cosplay e videojogos de Tóquio. Para além da verosimilhança com o bairro real e a inclusão de muitos elementos culturais e tribais no próprio jogo, era a infame mecânica que tornou o jogo famoso: depois da pancadaria temos de despir os nossos adversários para os derrotar definitivamente.

É claro que a versão ocidental acabaria por ser censurada, e os ataques especiais não permitiam despir os inimigos (e inimigas) até à nudez, num tremendo e reconhecível fan service que era facilmente aceite de tão risível.

Apesar da monotonia, repetição, e grind, havia algo de genuinamente cativante em Akiba’s Trip. E digo-o sem ficar com a voz insegura das hormonas, mas porque Akiba’s Trip tinha alma. Ainda que ela fosse absurda quase sempre, mas identificava-se nessa loucura em que estas criaturas-espécie-de-vampiros diurnas eram hiper-vulneráveis a ficarem nuas, e em que as ainda mais tresloucadas quests, side quests, romances e itens/roupas encaixavam na perfeição em todo este puzzle sem-sentido.

Akiba’s Beat é a sequela, oficial, mas é também um corte abrupto com o jogo original. E é um corte não naquilo que poderia estar a diminuir o apelo que toda a loucura de Akiba’s Trip tinha, como o grind ou as repetições desregradas, mas não, cortou exactamente com tudo aquilo que fazia de Akiba’s uma potencial série interessante.

E zás, cortou-se o fan service e o combate que terminava com inimigos em roupa interior ou nus. E zás, acabaram-se as possibilidade de romance deixando no seu lugar umas paixões platónicas estéreis. E zás-pás lá se foi toda a loucura e irrealismo que nos manteve agarrado a Akiba’s Trip a ser trocado por uma tentativa falhada de ser Persona.

Não sei como é que passámos de vampiros diurnos que se evaporam quando ficam em roupa interior para um jogo em que as pessoas vivem amarguradas pela sua impossibilidade de alcançar os seus sonhos, vivendo um Groundhog Day num domingo repetido até as suas ilusões e sonhos frustrados serem resolvidos? Isto é mais ou menos o mesmo que o Michael Bay querer fazer um filme introspectivo europeu, mas não conseguir de lhe meter explosões quando as lágrimas do protagonista rolam num momento de desespero.

O mundo semi-aberto de Akiba’s Trip é destruído por uma série de fast travels, e mesmo as dungeons são pouco mais que corredores desinspirados em direcção à boss battle. O que contribuiu apenas para mais um ponto baixo num jogo que está tantos furos abaixo dos seus antecessores que chega a espantar-nos como funcionou o brainstorming interno na Acquire para chegar a este nível de desinspiração.

Akiba’s Beat é a tentativa lograda dos developers da Acquire de reproduzirem a série Persona, esquecendo-se que tentam ao mesmo tempo criar um mundo dividido entre o absurdo e o elogio da cultura Otaku. Akiba’s Beat quer ser tantas coisas que acaba por ser uma com toda a certeza: uma perda de tempo.