O combate tende a ser um pilar fundamental em tabletop RPGs (nuns mais que noutros), ao ponto mesmo de ser o principal interesse de muitos jogadores. Muitos one-shots têm como base esta premissa, matar uma série de criaturas, apanhar itens e ficar mais poderoso… por outras palavras, um típico dungeon crawl.
Contudo, às vezes é necessário incluir mais num combate/confronto do que rios de sangue, e é sobre isso mesmo que quero falar hoje.
Começando pela parte mais técnica, podemos dividir os inimigos em duas partes, seres racionais e irracionais. Demos prioridade aos últimos. Quando falamos das mais variadas criaturas selvagens, falamos de seres que se regem por instintos básicos que fazem jus à sua natureza. Neste sentido, muito provavelmente não vão desenvolver grandes planos nem grandes prioridades de combate. Certamente irão focar-se no alvo que estará mais perto ou, quanto muito, naquele que lhes tem desferido mais dano. Já quando falamos em seres racionais, as coisas mudam drasticamente.
A inteligência aqui ganha forma, havendo um estudo cuidado q.b. sobre o campo de batalha e aqueles que o ocupam. O Barbarian pode ser perigoso sim, mas se calhar eliminar o Cleric que o mantém de pé é capaz de ser prioritário. Contudo, ambos os tipos de criaturas têm uma noção presente da sua mortalidade, pelo que perder a vida em combate pode não ser dos seus maiores interesses. Neste sentido, é claramente possível que possam deixar o que estão a fazer e fugir (levar a cabo uma retirada estratégica pode ser um melhor termo). Assim sendo, é uma boa ideia para o DM/GM ter estes pormenores em consideração de forma a criar experiências o mais próximo possível daquilo que poderia realmente acontecer.
Outro aspecto importante, é o propósito destas criaturas. Estamos a falar de seres que não apareceram do nada. Eles já existiam antes de os jogadores os encontrarem. Qual a sua história e o que a mesma implica? Começando uma vez mais pelas criaturas mais selvagens, se calhar atacaram os jogadores porque estes se aproximaram de forma inconsciente e/ou acidental (ou não) do seu território e estavam somente a proteger as suas crias (algo que os jogadores podiam muito bem descobrir depois de os chacinar). Já aos seres mais inteligentes, eles próprios têm desejos e ambições. Eles próprios querem mais para a sua vida, algo que pode muito bem ir de uma vida de riquezas infindáveis a qualquer custo a um domínio total e absoluto de todas as formas de magia (e controlo mundial!). Incluindo vilões na equação, acho sempre bastante interessante ver os resultados de ter um vilão “cinzento” em interacção com os jogadores. Sim, aos olhos deles as suas acções são terríveis, mas para ele são a única solução e algo que só ele tem o que é preciso para levar a cabo. O momento de realização nos jogadores de que se calhar não são assim tão diferentes do vilão é algo deveras satisfatório… e quem sabe, tal pode muito bem levá-los a persuadir o vilão de deixar o seu projecto, ou procurar arranjar um meio-termo.
São os confrontos uma componente a ter em consideração? Sem dúvida alguma. Precisam todos eles de acabar em banho de sangue? Não propriamente, mas se tal for o seu fim, é muito melhor que o sangue corra com um propósito para além do porque sim.