Caçada semanal #96

É possível que o Tetris nos tenha aberto para sempre várias gavetas no nosso coração para receber e acarinhar puzzle games. Ou então é o ritmo das nossas vidas que nos compele a perdermo-nos na casualidade e descontração deste género, onde os desafios constantes nos abstraem das provações mundanas.

Puzzle games e as suas variadas abordagens são apenas alguns dos géneros que nos têm chegado em catadupa às mãos, e que têm mostrado o quão diferentes podem ser as abordagens a criar novas formas de quebra-cabeças.

Esta semana trazemos dois desses casos.

Puzzle Guardians

O que Puzzle Guardians nos traz não é novidade nenhuma. Aliás, aquilo a que se compromete a fazer já tinha sido umas das minhas surpresas de 2015 na 3DS, também ela importada do mercado mobile e dos free-to-play: Puzzles & Dragons Z.

Ver associado aos RPGs este subgénero que são os puzzle RPGs, onde o match 3 é a base de todo o combate, não é novidade. Não sei a primeira interacção de sempre estes entre dois mundos aparentemente diferentes foi em Puzzle Quest, mas a realidade é que acabou por ser uma tónica frequente vermos estes jogos em modo f2p no mercado mobile.

Foi exactamente o que aconteceu com Puzzle Guardians, com todos os “problemas” de negócio – pelo menos para mim – que o sistema f2p tem. Foi com alguma alegria que vi chegar ao Steam uma versão de Puzzle Guardians, um viciante Puzzle RPG despido de todos os maus-hábitos decorrentes dos modelos de lucro do mercado móvel. Sem barra de stamina, energia ou in-app purchases, a versão de Puzzle Guardians é tudo aquilo que queremos para muitas e longas horas de diversão quase casual e algum grind.

Com ataques especiais, muita customização e uma miríade de Guardians coleccionáveis e upgradable, Puzzle Guardians tem sido uma companhia quase constante no meu desktop, para incursões curtas por dungeons no mais relaxante match 3.

Airtone

É discutível se os rhythm games são puzzle games, se são descendentes de si, ou se criamos aqui uma discussão do ovo e da galinha. O que é sabido é que os jogos de ritmo estão a ter uma nova vida graças às potencialidades do VR, e o excelente Airtone é um desses exemplos.

Antes do advento e da relativa democratização do VR, dificilmente acreditaria que num vagão do comboio da realidade virtual viriam confortavelmente instalados os jogos musicais e/ou de ritmo. Mas a realidade é que a mistura entre o ambiente próprio do VR que mistura toques quase psicadélicos com laivos de abstraccionismo interligada com os acessórios de controlo de movimento acabam por criar a sinergia perfeita para o regresso dos rhythm games.

Em Airtone há muito dos jogos mais famosos do género como Samba de Amigo ou outras experiências mais arcade, que teimavam em conseguir uma boa transição para o VR contemporâneo.

Hiper-colorido e acompanhado de figuras femininas saídas directamente do imaginário otaku, Airtone é certamente o melhor jogo do género com uma descontracção e desafios correspondentes aos das salas de arcadas. Mas directamente na nossa sala.

Legends of Callasia

Outro jogo vindo directamente do mercado mobile e que para mim encontrou o ambiente perfeito no PC é Legends of Callasia, o excelente e enganadoramente simples jogo de estratégia desenvolvido pelo estúdio Boomzap Entertainment.

A sua abordagem modernizada ao clássico Risk – bem, modernizado mecanicamente visto que o ambiente é de fantasia medieval – consegue incorporar a melhor transição possível entre aquilo que poderia ser um excelente jogo de tabuleiro e aquilo que é o interface e o conforto de um interface digital.

São 4 facções distintas com comportamentos diferentes e cujas nuances nos obrigam a adaptar ao tabuleiro de jogo. Se a parte mecânica parece simples: explorar, treinar exércitos, conquistar, atacar e defender, a profundidade que tem na realidade pode ser encarada de forma leviana pela maioria dos jogadores que vêem no seu ambiente estático aquilo que seria um jogo “básico”.

Mas é fácil perdermo-nos na imersão simplificada que Legends of Callasia nos trazem com toda a sua depuração e o seu foco tão grande em elementos primordiais dos jogos de estratégia por turnos, com sistemas de forças e fraquezas que solidificam a jogabilidade e conferem-lhe uma longevidade curiosa.

Infelizmente não existe muita gente online com quem jogar, mas o desafio offline do modo de história é suficiente para nos deixar perder num jogo de estratégia com missões curtas, e que não necessita que tiremos férias do emprego para podermos terminar um jogo do princípio ao fim.