Imaginem que vão a descer uma escada com 20 pratos acabados de lavar e secar. Acidentalmente, alguém vos espeta um biqueiro nos dentes e vocês esbardalham-se escada abaixo, ressoando o dom da multiplicação dos pratos em mil e um cacos e caquinhos, enquanto um pé derruba um busto de Dona Maria e outro espatifa uma televisão de 50 polegadas que por conveniência coloquei nas escadas.
A meio do rebolanço, espetam-se em 10 cheerleaders, cada uma com um tabuleiro de copos de cristal cheios até cima de vinho rosé fresquinho e a sinfonia copofónica de vaporização de cerâmica, cristal e vidro sobe dois tons e acelera o andamento..
Isso é mais ou menos o primeiro nível de Serious Sam’s Bogus Detour. Samuel está de volta e vem carrancudo. Serious Sam, vá. Desta feita em versão pixelizada e mais pequena, condensando a violência e a destruição num pacote agradavelmente decorado percorrendo a sua bem intencionada demanda de chegar até outro lado qualquer, passando para isso por hordas de milhares de inimigos que, talvez por detestarem a sua água de colónia, decidem saltar-lhe para a frente e mandar tiros, bombas e escarradelas para cima de Serious Sam que, de peito feito e com um desdém meritório de um Óscar, prossegue imparável para tal sítio debitando chumbo e espalhando músculo, sangue, fragmento de osso e massa encefálica em pequenas áreas patináveis onde o vermelho é a cor dominante.
Serious Sam’s Bogus Detour não se leva muito a sério. Nem tenta. Este top down shooter é para ter um dedo no gatilho do princípio ao fim, só pelo gozo de obliterar seres acéfalos com a mesma inteligência artificial de um guardanapo. Ele é bichos, bichinhos e bichões. Alienígenas, caranguejos e coisatas inomináveis. Em comum, um magnetismo que os atrai para nós e uma coragem que os inibe de procurarem refúgio ou de fugirem quando pintamos, com os miolos dos seus companheiros, uma espécie de Kandinsky monocromático.
É puro divertimento inadulterado com pseudo-histórias ou com ilusões de salvar o mundo ou uma qualquer princesa entre castelos. É matar por matar e ser bonito enquanto se trata do assunto, beneficiando de uma arte pixelizada muito cuidada e de uma jogabilidade simples e intuitiva. É entrar, jogar e matar, senhores!