Caçada Semanal #106
É frequente encontrarmos nos videojogos a profundidade emocional que outrora era pertença quase exclusiva de outros meios culturais. Mas de ano para ano os videojogos mostram a sua seriedade e complexidade, abordando temas e pontos-de-vista menos superficiais.
No entanto, não nos podemos esquecer que na génese deste meio cultural está o entretenimento. E se muitos jogos tentam martelar uma explicação narrativa onde ela não deveria existir, outros há que aceitam a sua existência como produto de entretenimento e seguem em frente.
É o caso dos 2 jogos indie desta semana. Não só aceitam a sua própria existência sem qualquer narrativa, como resumem o seu conteúdo ao simples exercício de descarregar as nossas frustrações com muita destruição à mistura.
Antes aqui que no mundo real.
Diesel Guns
Não deve ter havido ninguém em meados da década de 1995 que não se tenha regozijado com a acção exagerada e frenética de Twisted Metal, onde uma série de veículos prontos e alterados para o combate entravam numa arena mortífera de onde apenas um sairia.
Diesel Guns vem tentar trazer para os dias-de-hoje o espírito desta franquia da Sony que teve a sua última iteração há quatro anos. Não existe explicação, conceito, ou qualquer linha narrativa, existe apenas destruição.
Neste arena multiplayer shooter, conduzimos uns jipes/carros alterados e temos de fazer tudo ao nosso alcance para destruir os nossos adversários. Seja abalroá-los com o empurrão da nitroglicerina, seja cair em cima deles num ataque explosivo, ou disparar contra eles todas as armas, munições e power ups que encontremos pelo mapa.
Apesar de possuir uma jogabilidade muito simples, há formas distintas de utilizar cada arma o que confere uma ligeira profundidade a um jogo que é tão straight forward que pouco nos é preciso explicar para o compreendermos de imediato.
Dead Purge: Outbreak
Falando em jogos tão directos que quase não carecem de explicação, Dead Purge: Outbreak vem nesta mesma linha de pensamento, ou aliás, a falta dele. Sendo mais um jogo a explorar a temática zombie, este jogo desenvolvido pelo estúdio Microlith Games coloca-nos no conceito mais simples de um FPS: sobreviver.
Dead Purge: Outbreak não tenta encontrar uma razão para o mundo estar repleto de hordas de zombies, ou quem somos e porque ali estamos. Tudo o que o jogo nos quer dizer é que toda a gente morta-viva que se move na nossa direcção nos quer matar, e isso é suficiente para colocarmos o carregador na arma e darmos liberdade ao gatilho.
Quase sem sentido táctico visível, Dead Purge: Outbreak é o simples descarregar de frustrações em dois modos distintos (e semelhantes): derrotar vagas de zombies cada vez mais difíceis e com os pontos ganhos pelo nosso desempenho ir melhorando as nossas ondas, e por outro lado um modo de sobrevivência infinito onde testamos a nossa resiliência perante a dificuldade crescente do jogo.
Sem nada de surpreendente ou diferenciador do ponto de vista mecânico, ou grande elogio que podemos fazer a Dead Purge: Outbreak é ao seu brilhantismo visual, muito surpreendente para um jogo feito com uma equipa indie pequena, mas que demonstra aqui a tremenda qualidade artística que possuem.
Em termos de longevidade e profundidade é o que poderíamos esperar de um jogo que é o equivalente zombie de descomprimir a tensão norte-americana de ir para uma carreira de tiro descarregar uma arma. Mas com menos violência para os tímpanos.