No que toca aos vários mundos dentro dos mais variados sistemas de tabletop RPG, uma das coisas mais importantes é garantir que os mesmos respiram e que transmitem vida. Mesmo num cenário decadente onde morte e destruição são a totalidade da realidade, este sentimento de realismo e de propósito é necessário.

De forma a garantir que esta vida e dinamismo existem, já falámos na questão de conferir personalidade, maneirismos, propósitos e backgrounds aos mais variados NPCs com que os jogadores se vão encontrando. O mundo é vivo, tal como eles, e, nesse sentido, apenas bate certo certificarmo-nos de que os seus habitantes têm uma vida (mais ou menos boa). Um mercante não precisa necessariamente de viver e trabalhar na mesma localidade. Se calhar ambiciona mudar-se, algo que pode muito bem conseguir com esforço próprio, o que por sua vez irá fazer com que ele não esteja no seu local habitual de trabalho da próxima vez que os jogadores vierem falar com ele (algo que pode ser relatado por um outro NPC, amigo ou familiar do mercante em questão). Só porque existe uma figura dominante estabelecida (rei, imperador, etc.) não quer dizer que toda a gente esteja feliz com a sua presença e com as suas decisões como figura de poder. O conflito de interesses e de ideologias pode muito bem levar a que conspirações sejam formadas com o intuito de o destronar, algo que os jogadores podem vir a descobrir e, expor as mesmas e quem as está levar a cabo, nada fazer e assistir ao resultado, ou aliarem-se às partes em questão.

Outro pormenor a ter em conta, e este acaba por ser um pouco mais técnico, prende-se à ideia de que só porque os jogadores estão a um nível baixo, isso não quer dizer que os habitantes do mundo em questão também o estejam. Uma vez mais, de certeza que eles vão cruzar caminhos com NPCs que não só vivem há mais tempo que eles, como também têm estado a aprimorar as suas artes (seja magia, combate corpo-a-corpo ou tiro ao alvo) há muito mais tempo, podendo certamente ser uma ameaça considerável, mesmo não o aparentando.

Por último, vem um outro pormenor que me incomoda pessoalmente, principalmente em videojogos que têm lugar em contextos de open world. Temos NPCs mais que capazes e que estão onde estão ora por esforço e dedicação pessoais, ou graças à influência de terceiros. Por outras palavras, NPCs autónomos e independentes. Isto faz com que não faça grande sentido que as coisas só aconteçam se os jogadores forem responsáveis por elas. Há alguma forma de criatura a ameaçar a aldeia local? Certamente haverá caçadores capazes. Há suspeitas de crimes de corrupção e de desvio de fundos? Se calhar há agentes especializados neste tipo de situações. Um grande mal ancestral assola o mundo? Os responsáveis pelos registos locais poderão ter acesso à informação necessária. Com isto não estou a dizer para se tirar importância aos jogadores e ao seu papel tanto no jogo como no mundo. Simplesmente não se ponha o mundo a girar à volta deles até porque, e principalmente em níveis mais baixos, tal estará longe de ser o caso.

As personagens dos nossos jogadores estão vivas? Sim, mas o mundo também, e está tão ou mais vivo quanto eles há muito mais tempo.