Este ano está a ser óptimo para jogos, como já havia sido previsto há uns meses pelo maior vidente de videojogos da nação, o Professor Machadonga. Alguns dos jogos previstos como bons não o têm sido, e alguns não previstos têm surpreendido os compradores, ninguém estava à espera de um Fire Pro Wrestling World ou de um Unexplored, mas na verdade são estes pequenos grandes jogos que realmente enchem o nosso ano de valor e não só os típicos AAA do costume. Yonder: The Cloud Catcher Chronicles é um daqueles indies que passará despercebido mas tem bastante qualidade.

É-me impossível não traçar alguns paralelismos entre Yonder e um dos meus jogos favoritos de sempre, o brilhante Harvest Moon. Yonder é um sandbox interessante, tenta dar ao jogador todas as ferramentas necessárias para se perder nele, cria um mundo convidativo e reconfortante no seu aspecto, as cores quentes as formas arredondadas são como um abraço para os olhos, é difícil estar a jogar sem um pequeno sorriso nos lábios, pelo menos. Tudo é fofinho, sem o ser de forma exagerada e enquanto tem uma vertente grande de crafting, não indo tão longe como outros sandboxes, acaba por ser bem constricto na sua falta de limites e liberdade oferecida, uma espécie de biosfera que dá apenas o suficiente.

Vamos entrando no jogo aos poucos, com pequenas tarefas nos habituais tutoriais missão da moda, de um modo suave vamos aprendendo as mecânicas, como quem entra num sonho vamos deixando-nos cair na nuvem que é Yonder. Tudo é etéreo neste mundo, tudo parece um pouco irreal, mas só o suficiente para nos deixar envolvidos e continuando a minar, pescar, recolher materiais e construir tudo o que podemos.

Yonder não é isento de problemas, a falta de fio condutor principal pode deixar alguns de pé atrás, os limites de acesso a algumas zonas do mapa, por razões óbvias ao fim de um tempo mas frustrantes de início, conseguem tirar algum prazer ao jogo, mas são contrabalançadas por uma aura relaxante que permite esquecer grande parte dos problemas que possam assolar o jogador. Há algo calmante neste tipo de jogos, para mim. Aqueles em que o grind sem sentido me ajuda a relaxar. Grind, mas sem lutas. Em alguns jogos há grind necessário para XP, para tornar o nosso personagem ou party mais fortes para derrotar este ou aquele monstro/boss, mas esses jogos irritam-me mais ainda que o habitual no dia-a-dia. Já os jogos como Yonder ou semelhantes no qual podemos cultivar campos, e ver o fruto do trabalho crescer (mesmo que de uma forma virtual) recolher matéria prima para quando queremos criar algo, são jogos que sempre gostei mais.

Numa altura em que cada vez mais acho que as pessoas se tornaram analfabetas das mãos e seriam perfeitamente incapazes de fazer algo útil se de um momento para o outro acabasse a tecnologia, Yonder: The Cloud Catcher Chronicles faz-me pensar no meu desejo cada vez maior de viver retirado da cidade, com uma vida ao mesmo tempo mais dura fisicamente e mais pacata mental e espiritualmente, onde tudo o que temos saí da força dos nossos braços e do suor das nossas costas, e podemos sentir orgulho quando vemos o resultado nos nossos esforços.

Yonder: The Cloud Catcher Chronicles é uma boa compra pelos vinte e poucos euros que por ele pedem, conseguimos tirar bastante dele se olharmos para lá das suas pequenas falhas, a maior é que tinha tudo para ser uma destes grandes jogos do ano, tal como um grande amigo meu diz sobre o meu (até agora) jogo do ano: Falta-lhe alma!

É tudo muito bonito, é perfeito para jogar com crianças ou para as introduzir a jogos com conceitos maiores, mas olhando a fundo para ele vemos que é tudo muito superficial,  mesmo assim consegue ser dos melhores indies que joguei este ano.