Há alguns meses o Ricardo comentou com algum desagrado o facto de a Nintendo, um dos últimos bastiões de uma mentalidade apontada para a satisfação do cliente estar a cair na armadilha que são os DLC pagos e todo esse alinhamento da nossa indústria que infelizmente já aprendemos a dar como adquirido sem revolta. Eu próprio, um fã quase incondicional da Grande N não fui simpático no que diz respeito à primeira parte do DLC de The Legend of Zelda Breath of the Wild, e foi só quando estava com algumas dificuldades em encontrar alguns Amiibos para esse jogo específico que comecei a olhar bem isto, e especialmente para o facto que a Nintendo já nos andava a preparar há anos para este momento que agora me atinge com a força de um martelo num pedaço de metal quente.
Há muito que a Nintendo andava a molhar os pés com os DLCs, uns grátis para começar, depois pequenos acrescentos pagos até ao ponto de lançar alguns ao preço de jogos completos. Entre todos os DLCs, os piores foram os Amiibo que começaram como pequenos extras coleccionáveis, que além de desbloquear fatos, cenários ou personagens que pouco ou nada acrescentam ao jogo que fosse essencial, além de nos darem uma bela figura coleccionável para colocar numa estante em display. Era esta figura que conseguia disfarçar o facto de estarmos a comprar um DLC por €15 (preço aproximado de revenda). Um DLC que funciona para vários jogos, mas um DLC de qualquer maneira, e muito bem disfarçado.
Como qualquer colecionável, os Amiibos conseguiram criar uma “dependência” aos fãs da Nintendo, alguns compravam-nos para fins específicos em jogos, outros para terem as figuras, mas no geral eram procurados apenas por alguns, e muitas vezes encontrei dezenas em saldos nas mais variadas lojas de electrónica. Até ao dia…
Saiu a Nintendo Switch, vendeu (e continua a vender) como pãezinhos quentes e no seu cerne está o seu jogo mais interessante que utiliza Amiibos a torto e direito. Não é preciso Amiibos para jogar Breath of the Wild, mas a verdade é que são uma ajuda enorme no início do jogo, e também existem alguns itens impossíveis de possuir sem eles, como por exemplo a Epona.
Quando aliamos isto ao facto de ter que pagar o season pass para ter mais alguns fatos e máscaras que, mais uma vez, pouco ou nada acrescentam ao jogo, e uma masmorra adicional tal como o hard mode é fácil ver a razão do meu desagrado para com a companhia no que diz respeito à direcção que estão a tomar, esta estrada sinuosa e enlameada por que estão a seguir e que tantos outros já percorrem. Eu tive fé… tive esperança que não fosse o caso mas agora com os anúncios de jogos como Metroid Samus Returns e Super Mario Odyssey, a minha esperança morreu.
Em Super Mario Odissey, não sabemos ainda o que esperar das “assistências de jogo” dos Amiibo especiais, nem quais as dos outros todos em Mario + Rabbids: Kingdom Battle mas já sabemos que os de Metroid dão acesso, entre outras coisas ao Hard Mode após completar. É aqui que vemos que a Nintendo caiu no poço. Ao cobrar extra ao jogador para desbloquear algo que ele já mereceu, que trabalhou por isso, porque o Hard Mode (assim como outros desbloqueios de Amiibo) só estão acessíveis após completar o jogo uma vez.
Exactamente, eu compro o jogo, até posso comprar aquela edição especial toda pipi cheia de brindes, e quando o acabo não ganho galerias de imagens, nem fatos, nem modos extra ou a possibilidade de jogar outra vez mas numa dificuldade maior, tenho que comprar Amiibos para desbloquear isso, e ao contrário também é um problema, eu posso comprar os amiibo logo, mas sem acabar o jogo são inúteis.
Mas não é só o facto de a Nintendo cobrar extra por isso é a dificuldade absurda de encontrar Amiibos hoje em dia.
Se é propositado ou não nunca vamos saber mas é conhecida a escassez de materiais da Nintendo hoje em dia, da Switch à Mini Nes e até à Mini SNES que ainda nem foi lançada e a procura já é estupidamente exagerada. O problema é que estamos numa altura em que scalpers, essa espécie detestável que só pode ser descrita parafraseando Cyrus the Virus dizendo que está entre uma barata e aquela coisa branca que se acomula nos cantos da boca quando temos sede, que sabendo esta necessidade que a Nintendo cria ao “forçar” a mão dos jogadores a comprar os conteúdos “extra” nessas pecinhas de plástico para terem acesso completo aos jogos, açambarcam todos e os colocam à venda a pelo menos o dobro do preço.
A meu ver a culpa é maioritariamente destes seres que se aproveitam do mercado e daqueles que compram o que eles vendem a preços absurdos mas parcialmente da Nintendo também por fomentar aquilo que é uma má medida, fazendo jogos que dependem de algo que eles próprios limitam por razões que possivelmente nunca vou entender. A produção de Amiibos para um jogo é sempre inferior ao de cópias do jogo que necessita dele para algo em particular como no caso de Metroid. Portanto se vai ser assim daqui em diante, e para ter os jogos completos teremos que pagar mais, espero ao menos que não limitem essa opção a umas peças de plástico coloridas que custam €80 no Ebay, e eventualmente disponibilizem versões totais ou DLC digital destes conteúdos.