Tenho pena que a língua portuguesa não permita mais trocadilhos com pedras e rochas que não descambe apenas em piadas com toxicodependências. A língua inglesa lá permite uma série de chalaças bem engraçadas, e basta ver o título de Rock of Ages II: Bigger & Boulder para perceber que para além da simplicidade do Inglês, ele também conduz a títulos de jogos tão inteligentes e divertidos quanto este.
Pensar no estúdio chileno ACE Team é referir alguns dos criadores indie menos acomodados e que mais arriscam nas suas produções. Depois da estranheza memorável de Zeno Clash, o seu jogo de estreia, ao qual se seguiu o ainda mais bizarro e genial Rock of Ages e a sequela de Clash, mergulhando depois no seu take pessoal dos metroidvania com Abyss Odyssey e culminando o ano passado com o criativo The Deadly Tower of Monsters. Cada jogo é uma experiência e uma aventura criativa dentro de géneros distintos, e ainda que o resultado final oscile entre o bonzinho e o muito bom, a realidade é que poucos estúdios independentemente da sua estatura arriscam e tentam tanto quanto estes chilenos.
Mais do que explicar o que é Rock of Ages, é mais simples referi-lo como “aquele jogo que mistura a linguagem e o humor das animações e interlúdios de Monty Python com umas liberdades interpretativas muito díspares em termos de figuras históricas e das suas motivações”.
O conceito deste Rock of Ages II: Bigger & Boulder é absurdo, mas menos não poderíamos esperar dele. Atlas por alguma razão perdeu o globo terrestre, e para o recuperar terá de defrontar algumas figuras da História da Humanidade e uma girafa em chamas, atacando os seus castelos com rochas gigantes.
A estética de todo o jogo, em ligação com o seu predecessor e com as animações montypythonescas, ou seja, imagens de quadros e gravuras clássicas justapostas de forma absurda, motivando alguns dos momentos de diálogos e de bravata mais hilariantes entre os personagens.
Rock of Ages II é mais uma viagem louca pela História e pela História de Arte, e a forma como se interligam com todo este mundo e as mecânicas é sem dúvida um dos elementos mais curiosos. Cruzando as sequências jogáveis de estratégia em tempo real e algo mais, temos todos os segmentos animados que desenrolam a narrativa no modo campanha. Estes momentos são tão bons que de forma alguma alguém deveria passá-los à frente. A inteligência e o humor delicadamente tresloucado que a ACE Team gravou nesta sequela consegue expandir ainda mais o excelente humor do jogo original.
Mecanicamente Rock of Ages II pega na criatividade que o original teve e elevou-a em termos de complexidade. Este jogo desenrola-se num campo acidentado simétrico com dois castelos com uns portões gigantes em pontos opostos do mapa. O nosso objectivo (e o do inimigo) é de destruir o portão e conseguir dominar os seus ocupantes. Para isto um jogo “normal” de estratégia em tempo real escolheria cavaleiros, arqueiros, infantaria, catapultas e aríetes. Mas Rock of Ages vai um pouco mais longe, e para levar a cabo esta missão utilizamos rochas gigantes que controlamos como se fossem um ser vivo (e são?) que se deslocam a grande velocidade para criar o máximo de ímpeto possível para desferir o máximo de dano no portão.
Enquanto a nossa rocha está a ser esculpida e preparada para ser rolada (que é como quem diz, enquanto esperamos o respawn time dela) temos de ir utilizando o nosso dinheiro para comprar defesas para tentar atrasar ou destruir a rocha adversária. Defesas estas que vão das clássicas catapultas até balões com leões agarrados.
A customização das rochas com habilidades e características especiais acaba por aumentar ainda mais a complexidade de um jogo que à primeira vista podia soar a um bizarro jogo de bowling jogado por gigantes onde os pinos são edifícios humanos. E de muitas formas é mesmo isso que é Rock of Ages II: Bigger & Boulder e o seu antecessor, mas há tanto mais que justifica a atenção sobre ele(s).
Rock of Ages II: Bigger & Boulder é uma excelente sequela para um dos jogos mais absurdamente bons que o mercado indie nos trouxe. As suas sequências animadas filhas de Monty Python estão ao rubro e em todo o seu esplendor e tornam este divertido e único jogo de estratégia em tempo real um dos jogos mais divertidos do ano.