Um momento sobejamente conhecido da História de Portugal é aquele em que Isabel de Aragão, Rainha de Portugal, conhecida por ser bondosa para todos, decidiu ir distribuir pão aos mais necessitados do Reino, escondendo os alimentos no seu regaço quando interpolada pelo seu marido, o Rei D. Dinis. O Rei ficou imediatamente desconfiada do que a sua esposa esconderia na saia, questionou-a. “São jogos da Nintendo, senhor, são jogos” respondia a Rainha Santa, e D. Dinis sabedor dos rumores que corriam os vários reinos de que não existiam jogos para as plataformas da Nintendo conseguia sentir que uma mentira estava a ser tecida à sua frente e exigiu que ela revelasse a verdade sobre o que trazia. E num verdadeiro milagre, que marcará para sempre o ADN dos portugueses, D. Isabel desenrolou a saia e de lá saíram muitos, muitos jogos, não só de 3DS, mas especialmente de Switch, o suposto falhanço que quase não tem jogos para justificar a sua compra.

Não assisti ao último Nintendo Direct em.. directo, mas a minha chegada hoje ao escritório foi um momento de muita surpresa. Abrir o habitual e-mail de resumo enviado pela Nintendo com tudo o que tinha sido revelado era um rol de itens quase tão grande como a lista de autarcas criminalmente condenados e que estão a procurar ou já procuraram reeleição no nosso País. Que é como quem diz: grande.

Já há uns anos falámos do constante fatalismo externo que se abate sobre a Nintendo. Se a companhia fizesse dinheiro com cada vez que alguém anuncia o seu fim estaria ligeiramente mais endinheirada do que está agora. Os oráculos que vaticinavam a 3DS a cuidados paliativos acabaram por ter uma surpresa sobre a quantidade de títulos que aí vêm, não fossem os últimos meses de convivência pacífica entre as duas consolas o exemplo de que seria uma idiotice da Nintendo sacrificarem a consola portátil em detrimento da nova híbrida. Pelo menos neste primeiro ano.

O sucesso da 3DS, nas suas diversas iterações, demonstrava que a companhia tentaria permitir o máximo de coabitação pacífica até aos limites da razoabilidade e da produção o justificarem.

A normal reutilização/recompactação de jogos da Nintendo, a tentar trazer para novas gerações de jogadores alguns jogos da sua história estará presente com duas boas propostas, até para quem já as jogou, como o double combo e remake de um dos excelentes RPGs de Mario em Mario & Luigi: Superstar Saga + Bowser’s Minions, para além de uma espécie de best of dos party games com Mario Party: the Top 100, com uma curadoria do que a Nintendo considera ser os 100 melhores mini-jogos da série já com quase 20 anos nas costas.

Os jogos/versões de Pokémon tiveram o se destaque ainda que não fossem surpresa, e serviram apenas de incremento à antecipação que a comunidade fiel à série tem pela chegada do mês de Outubro. Mas também sem ser surpresa, a referência a LAYTON’S MYSTERY JOURNEY: Katrielle and the Millionaire’s Conspiracy, Etrian Odyssey V, e Fire Emblem Warriors são três grandes exemplos de jogos com grande tracção e que são simultaneamente dos mais desejados da plataforma.

Restou-nos, a título de surpresas o anúncio do port de Apollo Justice: Ace Attorney, Minecraft que é agora transportado para a sua quinquagésima plataforma em simultâneo (aproximadamente), New Style Boutique 3 – Styling Star e The Alliance Alive.

É claro que o grande destaque, por todas as razões e mais algumas, foi o tempo dedicado à Switch, a anunciar a torrente de títulos que aí vêm para a consola híbrida da Nintendo. A arrancar com Xenoblade Chronicles 2, mais um exclusivo da saga Xeno a chegar às consolas da Grande N e a fechar com um dos jogos mais aguardados do ano, Super Mario Odyssey. Entre Fire Emblem Warriors, Sinpperclips Plus, Rocket League, Skyrim, Morphies Law e Arena of Valor, a tentativa de comer um pouco do suculento bolo do mercado competitivo na Switch, culminando com uma série de anúncios já expectáveis de desporto, percebemos que existe um amor palpável de terceiros para com a Switch. De outra forma não poderia acontecer.

Nenhuma grande companhia de desenvolvimento de videojogos não se podia dar ao erro económico de ignorar o sucesso comercial da consola. É uma vitória total esta aposta (ainda suave, nestes primeiros semestres) de empresas como a Ubisoft, EA, Take-Two e Bethesda, que de um lado conseguem ter vendas seguras numa plataforma que está a ser um caso de sucesso, e é uma vitória para a Nintendo que vê o essencial de uma consola, os jogos, a ser correspondido não apenas por si mesma, e para todos os early adopters da consola que se vêem a braços com bons semestres à sua frente em termos de catálogo disponível.

O facto de que estes quarenta e qualquer coisa minutos de muitos jogos anunciados tanto para a 3DS e Switch são para uma janela curta, entre os 3 meses que faltam deste final de 2017 e o primeiro semestre de 2018. Há uma estrela dourada a alumiar as plataformas da Nintendo e que afastam, pelo menos teoria, a penumbra dos comentários mais ominosos da hecatombe da empresa. Há muito para jogar e muito potencialmente bom para além daqueles que referimos mas que podem ser conferidos na apresentação, deixada em baixo. A dificuldade será escolher, perante um dos momentos de mercado mais felizes para a Nintendo e para os seus seguidores.

Depois de um dos Nintendo Direct mais recheados de conteúdo do último par de anos, ainda fica espaço para desejar algo mais. É o direito que assiste a quem já está devidamente satisfeito: o de sentir que o tudo que lhe foi entregue tem margem para ir um pouco mais longe. E se me arrogo a possibilidade de o fazer, deixo o meu azedume por Dai Gyakuten Saiban: Naruhodō Ryūnosuke no Bōken (vulgo, o Phoenix Wright no passado com o Sherlock Holmes) não ter prevista a vinda para o Ocidente. E pelos ecos que me vão chegando das janelas virtuais quase que tenho a certeza do porquê. Porque a Nintendo está certamente condenada.

Dizem…