É mais do que consensual que This War of Mine não é apenas um dos jogos indie mais importantes da década, mas é indubitavelmente uma das experiências mais profundas e emocionais que a 10ª Arte já nos brindou. O seu impacto foi tão profundo que uma série de réplicas começaram a aparecer e a demarcar-se no mar de jogos, mas até hoje nenhuma com a capacidade de igualar ou rivalizar com a obra dos 11 bit studios.

Os jogos pós-apocalípticos colocam-nos na avaliação de como sobreviveria a Humanidade a um evento catastrófico, seja a queda de um asteróide como o recente Impact Winter, seja com o cenário de guerra, como em This War of Mine. Em todos eles vivemos uma espécie de terrário onde observamos os humanos, e nos observamos a nós com o devido distanciamento, como formigas. E deixamo-las lutar pela sua sobrevivência, num misto de experiência sociológica e de diversão.

Há muitas semelhanças temáticas e mecânicas entre This War of Mine e os dois jogos que nos chegaram praticamente ao mesmo tempo, mas com as devidas diferenças que não se ficam pelo distanciamento qualitativo. Tanto ICY: Frostbite Edition como Displaced mergulham-nos num ambiente pós-apocalíptico com gestão e sobrevivência de um grupo, mas onde This War of Mine vai buscar elementos de interacção a jogos point ‘n click, os dois casos dos quais vamos falar tentam trazer essa abordagem para uma interactividade de Pen and Paper RPG adaptado a videojogo.

ICY: Frostbite Edition vive na mesma Terra-tornada-tundra de Impact Winter, ainda que neste caso não conheçamos o que levou o nosso planeta a ficar coberto de neve, num inverno constante.

A premissa é interessante e é impossível não ver, com os devidos ajustes, as marcas de decalque de This War of Mine. Mas o facto de se aproximar de um choose your own adventure confere-lhe um flavour próprio, incrementado pelo facto de que não vemos o nosso grupo de sobreviventes per se, mas deslocamo-los no mapa de forma iconográfica.

Temos decisões a tomar, e gestão de espaço no inventário enquanto um dos nossos maiores adversários, ou não fosse este factor um dos grandes stand-points do género.

O combate é atípico e surge de um misto de combinações das armas e skills de cada personagem de uma pool de habilidades disponíveis. E ao invés de observarmos a party individualmente, ela é em todos os aspectos o somatório das partes.

Displaced tem exactamente a mesma lógica mecânica e de interacção de ICY mas vai colar-se ainda mais a This War of Mine. A temática da guerra, da sobrevivência civil no teatro bélico, e das dificuldades e provações emocionais e humanas que temos de viver são o cerne de todo o jogo.

A decisão de apostarem numa estética de pintura digital com as pinceladas bem demarcadas permite-lhe distanciar-se um pouco dos congéneres e criar uma boa identidade que a distinga de outros survival games com este tom choose your own adventure.

O problema, quando comparando com a sua óbvia musa, This War of Mine, é que Displaced acaba por ter pouco profundidade narrativa. Um jogo como este que depende quase inteiramente na nossa imersão no ambiente necessita de uma construção narrativa do que esta e é frequente que os pontos de repetição de eventos pelo nosso trajecto se repitam.

Esta repetição constante fez-me reiniciar o jogo uma vez com receio de ter encontrado um bug que criasse um loop de 2-3 eventos que fazem pop-up em todos os novos momentos de interacção no mapa, mas depois da situação se repetir percebi que o problema estava em quão estéril e superficial acabou por ser esta história.

https://www.youtube.com/watch?v=RnRR-vK6jYc

Tentar repetir o sucesso e o impacto de uma obra marcante é algo que todos querem fazer, mas a tentativa de ICY: Frostbite Edition e de Displaced, cada um à sua maneira, de tentarem mimetizar o estrondo emocional e criativo de This War of Mine funcionou apenas em seu próprio prejuízo. Porque em comparação ficarão sempre demasiados patamares abaixo para conseguirem sequer levantar ondas no mar indie de videojogos.