Quando comecei a jogar Path of the Exile na Xbox One a minha ideia para este texto era que fosse em torno das suas semelhanças com Diablo II usando um trocadilho com os antigos anúncios da Nike “Be like Mike” com o título “Everybody wants to be like Diablo”, mas depois fui jogando, as horas foram passando e percebi que esse não era o caminho certo, ambos os jogos mereciam mais que uma pálida comparação jocosa.

Claro que vou sempre traçar paralelismos entre os dois, duvido que a Grinding Gear Games negue a inspiração que Diablo foi para Path of the Exile nem que seja porque é o expoente máximo do action-RPG de fantasia. O facto de nunca ter sido feito uma análise a este jogo no Rubber Chicken também me fez querer escrever algo mais completo e introdutório e até a ponderar acrescentar uma lista aos nossos essenciais, a dos Free to Play.

Shazaam!

O caminho generalista

Path of the Exile é um action-RPG de perspectiva isométrica no qual escolhemos um personagem tipo com particularidades específicas às nossas preferências de jogo e vamos fazendo missões, matando monstros e apanhando loot em vários cenários. Podemos jogar a solo ou online com até 6 jogadores em simultâneo de modo a usar a variedade de personagens ao máximo. Apesar de usarem nomes específicos a este mundo as classes são as típicas, paladino, ranger, bárbaro, rogue, sorcerer e o que eu escolhi chamado duelist que apenas pode ser descrito como um espadachim.

Versão Xbox é diferente, não faço ideia de quem está no meio…

A ausência de um healer puro como um clérigo, mostra logo dois pontos importantes que são o foco na acção pura e a facilidade em manter os pontos de vida em alta ou irrelevância ao perder e voltar à luta, algo muito positivo nestes jogos. Tal como em Diablo prefiro sempre jogar sozinho até porque é um estilo de jogo que me agrada para espairecer a cabeça. Raramente temos que pensar ou prestar muita atenção à história, apesar de ser interessante, o principal é apontar a direção dos monstros e ir ceifar uns poucos.

Dia de Agosto normal em Beja

O caminho do especialização

Role playing centra-se em ser alguém, e se não vamos ser nós mesmos diz respeito a cada um quem gostaríamos de ser, ou meter os pés nos sapatos de um personagem que é o nosso oposto completo, a questão é que há uma evolução do nosso personagem em atitudes, comportamentos e acções. Num action-RPG o importante é a especialização de técnicas, habilidades e proficiências. Estava eu à espera de algo relativamente básico há semelhança de Diablo II em que o meu Necromancer fazia de tudo um pouco, umas 3 linhas para seguir e pouco mais. Quando subi de nível a primeira vez e abri a skill tree, até me engasguei.

O que é suposto fazer nisto?

Parece complexa e um pouco intimidante, mas depois de olhar bem para lá é bastante intuitiva. O truque é não desperdiçar pontos e seguir um caminho lógico de especialização até ao fim. Exemplo do meu duelista é que estou a seguir a linha de dual weapon com duas espadas que aumenta os pontos para agilidade e destreza. Podia ter seguido o caminho de uma espada e escudo ou de espadas de duas mãos que puxaria pontos para a força. Qual o caminho que escolhemos é irrelevante e fica ao critério de cada jogador, o importante é mesmo não desviar do caminho e ficar perdido em terra de ninguém porque o homem dos 7 ofícios é mestre de nenhum.

Deixando de lado as proficiências técnicas, as habilidades e magias são todas à base de pedras preciosas encontradas ou compradas numa das jogadas mais inteligentes da equipa de design porque nos permite variar as nossas habilidades. A utilização de pedras para este efeito não é de longe original mas é bem aplicada pois podemos manter sempre as nossas favoritas em uso e trocar algumas, por exemplo, se for útil ter mais poder de fogo carregamos pedras vermelhas, gelo levamos pedras azuis, e por aí. Como quase todos os equipamentos possuem mais ou menos slots de pedras é só encontrar as nossas preferidas há que ter em atenção as limitações de cor mas há maneira de alterar isso. O facto de a utilização das habilidades providenciadas pelas pedras lhes dar XP e level up é mais uma peça de táctica de estratégia e combate.

E agora, um solo de guitarra

O caminho da ética

A razão de eu estar a jogar e a escrever sobre um jogo grátis lançado em 2013 é porque está disponível em XBox One o First Blood Bundle pela quantia de €20, o que me levou a pensar no porquê de pagar €20, ou até mais por um jogo que é grátis, e acima de tudo não é um jogo pay-to-win, podemos jogar Path of Exile do início ao fim sem gastar um cêntimo, bitcoin, crédito, peça de Lego, garrafa de água, petróleo ou favores. Gastar dinheiro nisto para quê?

Apesar de ter o bundle os benefícios dele, uma habilidade especial chamada first blood para uma arma à nossa escolha, mais slots de armazenamento e 200 créditos para compras in-game, todos eles têm que ser activados, portanto as minhas primeiras horas foram jogadas sem recurso a estes extras, quando os activei reparei que a diferença no jogo eram mínimas, tirando o facto de poder armazenar mais coisas que podem ser trocadas entre os nossos personagens ou membros da nossa party se assim quisermos, mas a habilidade é indiferente e os pontos podem ser gastos em armas que podemos encontrar ou comprar em jogo, com trocas de objectos e sem gastar dinheiro a sério, ou em peças visuais que distinguem o nosso personagem base dos outros, como auras, armaduras ou pets.

Depois meti-me a pensar, quantas pessoas gastam anualmente entre €50 a €70 na melhor das hipóteses na mais recente versão do FIFA? Podem fazer o marketing que quiserem e dizer que há uma “física de bola e contacto melhorados” há este e aquele modo, mas o jogo em si é o mesmo há anos, no mesmo motor, com os mesmos gráficos, mas não é por isso que não gastam centenas de euros para ter uma versão actualizada dos jogadores, ou se preferirem os personagens com uma “armadura” nova ou diferente. Quem diz FIFA diz o mesmo de todos os jogos com versões anuais, pelo menos em Path of Exile gastamos o que queremos e podemos, quando queremos e podemos, e para o que queremos, a partir de €5 podemos customizar parte do jogo para fazer dele mais nosso. Já usei os meus pontos e já comprei mais, porque os produtores merecem, nem que seja ocasionalmente seja feito um pequeno gasto neles, porque o jogo é óptimo e mesmo quando algo é fácil, o caminho da honra e da ética é sempre o melhor a seguir como é exemplo do meu livro favorito e um dos melhores filmes que já vi.

Se estão na dúvida, aproveitem que é grátis, e se depois gostarem, vão perceber que um pouco como maioria dos museus em Londres onde a entrada é gratuita e o pagamento é voluntário, porque quando lá estamos deixamos sempre uma nota ou um punhado de moedas.