Parece que por estes dias as conversas são todas relacionadas com noitadas e afins. Mas estas misturas de género que nos vão caindo nas mãos (e aos pés) e que são uma espécie de cocktails de videojogos. Infelizmente, neste caso, nem sempre um cocktail explosivo capaz de abalar as fundações do mercado.

Insidia, o free-to-play lançado há poucos dias em Early Access, tentando trazer o público dos MOBAs para longe da acção frenética do género, e atirando-os para um ritmo mais compassado.

É verdade que sabemos desde cerca do Séc. VI (e quem sabe até antes?) que existe emoção numa partida por turnos a duas pessoas. E não, não estou a criar uma metáfora sexual com o grande jogo da intimidade. O xadrez foi sempre um dos grandes exemplos daquilo que pode ser um “espectáculo” intelectual, com o seu devido ritmo, e ser entusiasmante tanto para quem joga como para quem assiste.

A vida lúdica do ser humano evoluiu muito desde que criámos o xadrez e outros jogos milenares que permanecem até hoje. A maior explosão aconteceu obviamente no último meio século, com os jogos a transporem a mesa e o tabuleiro e a chegarem aos ecrãs, culminando na gigantesca realidade que são hoje os eSports.

Mas os eSports têm uma característica muito específica, que é o dinamismo e o ritmo mais intenso, que sabe responder às necessidades do público e dos milhões de jogadores pelo mundo fora. É claro que aqui conseguimos estabelecer uma pequena grande excepção chamada Hearthstone, que responde a 2 factores muito específicos para justificar a sua preferência dentro de um mercado dominado por jogos em tempo real: o primeiro é ter a Blizzard por trás de si, e o segundo por ser uma passagem de testemunho da verdadeira febre inter-geracional que foi Magic the Gathering.

Insidia quer ser arrojado. Quer colar-se à estética de Overwatch e piscar vários olhos aos fãs de MOBAs, e ao mesmo tempo inovar, trazer um jogo de estratégia por turnos para a equação, criando algo que não sendo inovador é certamente corajoso de desenvolver.

Este arrojo do estúdio Bad Seed não se fica por aqui: podiam ter limitado todo o jogo a uma ideia clássica de turnos mas não, decidiram fazer turnos… simultâneos.

Estrategicamente esta ideia dos turnos simultâneos leva-nos a tentar antever o que é que o nosso adversário irá fazer. Visto que em cada jogo possuímos uma party de 4 champions, a táctica gira em torno de saber qual usar, como usar e quando usar. Podemos tentar antecipar a jogada do adversário, acreditando que ele movimentar-se-á para um altar para o capturar, tentando contrariar com um personagem nosso a atacar exactamente aquele ponto. A resolução do turno dá-se com as movimentações e acções dos personagens e é aí que percebemos se conseguimos ler a jogada do adversário. Se ele cumpriu o que esperávamos significa que vamos conseguir dar-lhe dano, se ele decidiu movimentar outro champion o nosso turno foi em vão e falhamos o nosso ataque. É claro que ao agirmos com esse champion ele ficará inactivo até que o “grande” turno que compreende todos os turnos simultâneos termine.

O objectivo de Insidia é inspirado nos MOBAs: destruir a base inimiga ao destruir as suas defesas e desferirmos um número de dano específico. O “tabuleiro” é bastante reduzido, o que significa que entre os pontos de captura e os de respawn dos champions existe muito pouca distância, obrigando a que haja confronto e acção constante entre os dois jogadores.

Ainda é muito cedo para perceber o quão diversificado e interessante ficará Insidia. Neste patamar de Early Access não só existem poucos jogadores online, como poucos champions para criar estratégias cada vez mais complexas.

A grande dúvida é se este cocktail arrojado que é Insidia se algum dia conseguirá beliscar um pouquinho do mercado de eSports. Mas infelizmente, com todas as boas experimentações que aqui estão a ser feitas, sou quase obrigado a dizer que não. Insidia não aparenta ter o potencial para tornar-se entusiasmante o suficiente para ser jogado e para conseguir cativar ondas de jogadores e espectadores. Mas aqui estaremos para reconhecer o contrário se Insidia por alguma razão conseguir quebrar todas as expectativas.