Os jogos F2P multiplayer metem-me medo. Grande parte deste temor que tenho por esta abordagem comercial centra-se numa espécie de Stress Pós-Traumático de anos e [número obsceno de horas de jogo que foram daqui retirados para não deprimir o autor deste texto] causado pelo League of Legends. A aparente simplicidade destes jogos associada a um sistema de progressão por rank mantém-nos em constante vigília, na tentativa de chegar o mais longe possível.
Por razões óbvias já tinha tido proximidade com os jogos da Wargaming, em especial quando tive um choque na primeira Gamescom ao perceber o quão grande o World of Tanks era enquanto título. Eram outdoors pela cidade, era um pavilhão quase todo preenchido pela marca, com tanques e outros veículos de guerra espalhados para gáudio do público, era uma área expositiva que quase envergonhava a área colossal da EA mesmo ali ao lado. Quase.
Nunca tinha jogado nenhum World of ainda que conhecesse bem o ambiente. Quando nos foi dado acesso antecipado às profundas alterações trazidas para World of Warplanes, transformando-o numa espécie de versão 2.0 do famoso jogo multiplayer online de dogfighting, fiquei com alguma curiosidade instantânea. Até porque desde o saudoso 1942 sempre tive um prazer por aviões, mas apenas se estes forem virtuais.
Não tenho ponto de comparação com a versão anterior, portanto a minha visão sobre WoWPs é de completa tabula rasa, ainda que saiba que o lançamento original foi recebido com indiferença e enterrado sob o lançamento do concorrente War Thunder. A simplicidade de todo o jogo, que só compreendemos após algumas partidas e depois de algum tempo, é enganadoramente mascarada por algumas pré-concepções que temos perante o controlo do avião. Rapidamente percebemos que WoWPs está mais para Ace Combat, o saudoso Ace Combat, que tantas semanas de diversão nos trouxe, do que para Flight Simulator.
E só poderia mesmo ser assim. O feel de arcadas de WoWPs sente-se quando começamos a perceber que o nosso controlo nos céus depende do nosso domínio do rato, instrumento com o qual manobramos quase totalmente o avião.
A percepção de progressão do jogo faz-se pela progressão tecnológica dos aviões que possuímos. Começamos com os primeiros aviões da Primeira Guerra, biplanos, a combater com outros aviões, reais, pelo domínio territorial. À medida que vamos gastando os pontos de experiência e dinheiro a fazer upgrades aos aviões, vamos desbloqueando aqueles que tecnologicamente lhes seguiram, sendo que as tech trees estão interligadas à tecnologia de cada País. O que significa que eu nunca vou conseguir desbloquear um caça germânico se estiver a apostar na frota britânica (como tem sido o caso).
Cada jogo é curto, durando em média até uns 8 minutos, mas altamente delicioso. Cada ronda é ganha pela equipa que possuir mais Victory Points, que são ganhos passivamente a capturar pontos de interesse estratégicos no mapa. Para os conquistarmos temos de destruir alguns dos seus pontos-chave, sejam eles edifícios ou mesmos caças neutros defensores da região. Após o conquistarmos, esse ponto de interesse passa a contar como zona nossa e dá-nos não só VPs passivamente como, dependendo do tipo de área, pode providenciar-nos com um novo spawn point, ou com mísseis ofensivos para as áreas inimigas.
Os danos infligidos nos aviões inimigos (e até amigos, visto que existe friendly fire e collision) podem causar efeitos diferentes dependendo da área afectada, ainda que passado algum tempo esses danos sejam automaticamente reparados e os seus debuffs compensados.
O dogfighting é uma dança constante nos céus, e quanto mais densa for a presença de aviões rivais na mesma área, maior é a complexidade dos duelos individuais que se vão travando.
A inclusão de respawns impede o jogo de se tornar excessivamente punitivo, ainda que, terminados os respawns numa batalha, possamos lá deixar o nosso avião até terminar o jogo, regressar ao hangar, e ir para uma nova partida com outra aeronave que possuamos.
Não esperava que World of Warplanes fosse tão simplesmente viciante quanto é. Com comandos mais simples do que parece à primeira vista, e que só percebemos, como disse, mais à frente, e que após o domínio dos nossos aviões é quando toda a complexidade do jogo se desbloqueia.
Com partidas curtas mas sempre diferentes, World of Warplanes é um brilhante sucedâneo para todos os fãs de jogos como Ace Combat, mas numa tónica competitiva online como é apanágio do mercado actual. Assustadoramente viciante, por ter partidas curtas leva-nos sempre à ideia de que “faço apenas mais um jogo, que é rápido”, até que percebemos que são 4 horas da manhã e que mal vamos dormir. Mas pelo menos recebemos uma medalha de mérito por sermos uns ases nos céus.