É normal ver o lançamento de dados associado a tabletop RPGs (sendo Dread, por exemplo, uma das excepções à regra), agindo como os juízes imparciais a quem compete decidir o sucesso e o insucesso em toda uma série de contextos.

Como é óbvio, e porque é assim que a sorte funciona, ela nem sempre está do nosso lado. Mais cedo ou mais tarde vai rolar-se um 1 (ou um 100, dependendo do sistema), e ainda numa situação/área que deveria ser do domínio da nossa personagem. É apenas natural, pelo que não há propriamente uma razão para levar as coisas a peito… e isto vem de alguém cujos lançamentos são maus ao ponto de deixarem o Wil Wheaton orgulhoso.

Há muito que se pode aprender com lances baixos, primeiro, a aceitar os resultados e criar hilariantes e memoráveis momentos de role-play, e segundo, servem para nos lembrar que não existe uma personagem perfeita. Muitos jogadores podem ter esse desejo presente, e embora tenha o seu quê de possível com uma série de level ups, itens mágicos e bênçãos divinas, ao início não é mais que um sonho distante (sonho que pode muito bem ser ambicionado pela própria personagem). Rolar baixo é apenas uma prova de que a nossa personagem, tal como nós, também comete erros, e se os comete, também tal como nós, pode aprender com eles.

Para além do mais, e nas palavras de Matthew Colville, os números nas folhas das personagens não são mais que uma representação imperfeita daquilo que elas são realmente capazes. Tal como nós, também são cheias de surpresas, pois da mesma maneira que é possível para o bárbaro analfabeto reconhecer o grafismo de uma série de caracteres, também é possível ao feiticeiro franzino levantar a maior das rochas. Basta ter sorte.

Há quem, por causa disto, veja os dados como um inimigo extra, pois não permitem que a sua personagem brilhe como deveria. O carismático trovador não consegue convencer os guardas reais ou o ladrão experiente não consegue arrombar uma fechadura. A estes jogadores o melhor conselho que posso dar é deixarem-se levar pelo momento. Jogamos para nos divertir, não para ficarmos chateados com a decisão dos dados.

(pun intended)

O grande Stan Lee já admitiu que o melhor super-poder de todos é a própria sorte, algo com o qual lidamos dentro e fora da mesa. Independentemente do quão bem planeado um projecto esteja, um pouco de sorte na sua boa concretização não magoa ninguém.

Eu vou continuar a jogar e a rolar, tanto alto como baixo (se bem que será mais no sentido da última opção), mas vou fazê-lo, porque prefiro rolar e jogar do que parar e nada fazer.

E tu?