Caçada semanal #116
À primeira vista até parece que estamos a falar de alguém. “A outra” não é uma pessoa, mas é a forma carinhosa (mais ou menos) de nos referirmos a mais uma caçada semanal de indies que fala quase exclusivamente de shooters nas suas mais variadas formas. E quando falamos de pancadaria não nos referimos ao vergonhoso caso que veio este fim-de-semana à luz do acórdão misógino e retrógrado que tem enchido as redes sociais e de comunicação social.
São portanto 2 shooters e um brawler, que se estendem pelos campos de caça desta semana.
Ruiner
O cyberpunk está na moda. Basta olharmos para o mundo lá fora se o brilho do Sol não nos encadear os olhos e pensarmos que há um novo Blade Runner no cinema, ainda que, a bem da justiça, a teta cibernética do cyberpunk já estava a ser exaurida há bastante tempo pelo mercado dos videojogos.
Ruiner é um desses casos mais flagrantes, onde a equipa de devs, quase todos vindos do desenvolvimento de Dying Light e The Witcher, nos atira com violência para um ambiente bem-construído que deixaria o Ridley Scott de 1980 contente e inspirado.
O nosso protagonista é um andróide chamado Puppy, com uma tremenda capacidade para lutar e com movimentos que fariam até o Bruce Lee acenar com agrado. Mas talvez isto se deva à aplicação de alguns patches do grande mestre das artes marciais instalado no personagem de capacete inexpressivo. Quem sabe?
A realidade é que neste brawler extremamente desafiante há uma série de upgrades que Puppy vai recebendo à medida que vai fazendo level up e que se materializam aqui como mods/upgrades à sua eficácia para atravessar os 14 distritos de Rengkok com um objectivo em mente: “Kill BOSS!”.
Percebe-se a veterania da equipa por trás de Ruiner, um jogo altamente sólido e que brilha num catálogo com tantos outros jogos de igual qualidade e de semelhante apetência para a violência como é o da Devolver.
The Walking Vegetables
Sempre gostei de vegetais, e provavelmente com os quilos a mais que tenho (e que ando activamente a querer perder) ninguém diria. É óbvio que a fast food e afins tem uma série de formulações que nos fazem não só deliciar com cada dentada, como criam uma espécie de vício silencioso e uma vontade de repetir a experiência. Mas os vegetais têm qualquer coisa de tão único e “honesto” na forma como sabem que é possível que quem não tenha comido com frequência desde a infância, dificilmente vai conseguir perceber o prazer que eles dão.
Por outro lado, acredito que num mundo paralelo os vegetais tentam reequilibrar a balança cósmica e desenvolveram locomoção e uma voracidade por humanos. Provavelmente The Walking Vegetables é o espelho desse universo, onde as ruas estão pejadas de vegetais e frutas que correm na nossa direcção para nos matar.
Neste top-down shooter foi difícil não sentir a influência recente de Hotline Miami, novamente, numa versão algo estranha mas curiosamente divertida de um jogo a transpirar acção mas em que os inimigos são alimentos naturais com consciência a correr na nossa direcção… para nos comer.
O jogo obrigatório para aquele amigo ou amiga vegan que insiste em crucificar toda e qualquer decisão alimentar que façamos e que esteja remotamente ligada à vida animal.
RAID: World War II
Poderíamos pensar que toda a experiência que o estúdio Lion Game Lion (terei aqui alguns compatriotas sportinguistas escondidos, ou este é dos nomes mais bizarros de estúdio, numa área que prima por ter nomes estranhíssimos?) teve em fazer missões para esse verdadeiro caso de sucesso que é Payday 2 lhes tivesse conferido alguma sensibilidade para se aventurarem a solo em tentar repetir a primazia feita pelo estúdio OVERKILL.
Mas não.
Ter um objectivo em mente é quase sempre salutar, mas todo o esforço é deitado por terra nos momentos em que sentimos que um jogo tentou em demasia. Este é o caso infeliz de RAID: World War II, um jogo que quer ser a versão Inglorious Basterds do Payday 2, e falha redondamente.
Com o mesmo conceito e delineamento, o de levarmos a cabo uma série de missões em modo multiplayer cooperativo, há tanto de inacabado em RAID que só conseguiríamos sugeri-lo se tiver alterações profundas, ou se eventualmente tiver uma quebra de preço tal que justifique o investimento curto de um grupo de amigos.
Parece-me que tudo foi feito tão sem paixão quem nem John Cleese, O GRANDE John Cleese consegue sequer ter o mínimo de carinho pelo trabalho que está a desempenhar enquanto actor neste jogo. Uma série de boas ideias e oportunidades simplesmente perdidas num jogo mediano-medíocre.