Há quem entenda que tabletop RPGs sem role-play não são tabletop RPGs. Embora seja verdade de um ponto de vista técnico, deixa de o ser na realidade. Assumir o papel de uma personagem ou referir-se a ela e às suas acções na terceira pessoa são apenas formas diferentes de dar vida ao role-play, não havendo uma correcta em relação à outra, mas sim uma preferência da parte de quem as leva a cabo. Contudo, vestir a pela da personagem para depois aplicar uma destas abordagens, nem sempre é fácil.

Por vezes é um verdadeiro desafio perceber o que a personagem está a pensar ou o que é que ela sente perante uma determinada situação ou pessoa. Apesar da backstory e de algumas ideias que tenhamos relativamente ao funcionamento da nossa personagem, nem sempre nos vemos capazes de agir conforme os mesmos. Ser capaz de reagir imediatamente a uma situação pode ser bom, mas até que ponto é que estaremos a reagir como personagem e não como jogador?

Há uma série de coisas que se podem fazer para facilitar todo este processo. A primeira prende-se ao que já foi acima referido: a backstory. Quando a mesma está a ser escrita, é importante prestar atenção aos pormenores, como é que ele(a) lidou com isto, como é que ele(a) encara a vida depois daquilo, etc. Posto isto, pode-se tomar notas (mentais ou não) sobre os traços de personalidade e as ambições mais importantes naquele momento (uma vez que tudo pode mudar com o decorrer da aventura). Assim sendo teremos algo sempre à disposição para qualquer eventualidade (se bem que é capaz de ser melhor consultar este material antes do jogo propriamente dito).

Uma outra forma de conseguir cumprir este objectivo, e que, se calhar, supera a anterior, está em encontrar uma música que descreva a personagem. Tanto quanto sabemos, de um ponto de vista criativo e de história, uma única música pode contar tudo o que é preciso saber sobre personagem, precisando somente de ser a música certa. A título de exemplo: alguém que viu o amor da sua vida a ser levado por um demónio e agora procura uma forma de o combater, Inside the Fire – Disturbed; alguém que viu os seus amigos a serem derrotados em combate e que conseguiu sobreviver por uma unha negra, The Lost Battalion – Sabaton; alguém que sonha com anarquia total – Killing In the Name – Rage Against the Machine. O inverso do processo pode ser aplicado, “tenho andado com uma música na cabeça. Será que tenho aqui material para algo interessante?”.

Para tornar as coisas mais interessantes, em vez de uma única música, e se a campanha o permitir, arranjar uma pequena playlist onde esteja retratada a evolução da personagem através dos vários momentos que marcaram as suas aventuras.

São exercícios que nos obrigam a explorar a mente da nossa criação e, nesse sentido, compreendê-la. Isto irá permitir-nos sessões mais fluídas e consistentes onde são as personagens que decidem e não os jogadores. Um pequeno esforço através do qual todos ficam a ganhar.