Ainda vamos em grande na loucura dos filmes de super heróis muito derivado da empresa chamada Disney, que tenho a certeza que é um consórcio de reptilianos disfarçados e está pouco a pouco a tomar conta do mundo. Mas isso não é assunto para falar hoje. A questão é que se forem como eu, já estão um pouco fartos de todos os filmes de super heróis, e estão à espera que venha a próxima leva temática de filmes. São aquelas modas que vão aparecendo tanto no cinema como na TV, regra geral propagado por um único caso de sucesso e copiados à exaustão pelos mesmos criadores e concorrentes.

A verdade é que o sucesso dos filmes e séries de super heróis vai desvanecer mais cedo ou mais tarde e dependendo do sucesso de um filme em particular em 2018, videojogos podem ser a nova “cena”, mas um senda de filmes baseados em jogos podem ser um erro gigantesco.

Se Tomb Raider com Alicia Vikander tiver sucesso e conseguir o mais raro e quase impossível dos feitos que é ser uma boa adaptação de videojogo para filme, poderemos ter um rol imenso de filmes que vão tentar beber a sua inspiração a esta indústria qual Camões inspirado pelas tágides. Mas em vez de epopeias líricas cujas palavras molham as bocas dos portugueses qual âmbar digno de cair do decantador de Baco, teremos aquele sensação de língua encortiçada com um sabor horrível a vómito da ressaca de vinho rasca. Apesar de os videojogos terem muitas vezes, universos, mundos e personagens ricos em conteúdo, é muito difícil adaptar esses mesmos para o cinema porque são meios de transmissão de conteúdo completamente diferentes especialmente na duração que têm para contar a sua história muitas vezes no máximo de duas horas, ou três em raras ocasiões.

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Não só há toda uma diferença de tempo, se pensarmos que um jogo AAA (dificilmente haverá filmes de jogos indie) demora entre 10/20 a 50/60 horas no mínimo dependendo do investimento do jogador aliado ao facto de para ser considerado para um filme é uma saga com vários jogos, há também a diferença de perspectiva. Num filme, nós vemos o(s) personagem(s) a interagir com a história e outros, num jogo somos nós que o fazemos, que encarnamos aquele personagem e vivemos por ele/ela, ou eles por nós. Contar a mesma história não é fácil, porque a maneira como foi criada não é igual. A exposição é completamente diferente, mesmo quando é introduzido um personagem de exposição para que sejam explicadas as situações não é igual. Mesmo assim não é só por isso que os filmes de videojogos falham, eles falham porque os produtores tentam fazer deles mais do que são, e esquecem-se das suas raízes. A lista de jogos que foram feitos e falharam é enorme, eu vou só enunciar alguns que vi, e dar uma breve razão porque acho que são abominações cinematográficas e um insulto ao seu original.

Comecemos com o primeiro e pior de todos Super Mario Bros. de 1993

Nem o facto de ter Bob Hoskins e Dennis Hopper salvou este filme, porquê? Porque os escritores e produtores cometeram o erro primordial nestas transposições. Pegaram no nome, alguns personagens e elementos chave e pouco mais, tudo o resto é absolutamente alheio ao jogo que o inspira. Basicamente alguém chegou a uma reunião e disse que tinham que fazer um filme sobre o jogo Super Mario e alguém deve ter perguntado “Aquele jogo do gajo aos saltos com as tartarugas e cogumelos?” e alguém disse: “Podem ser dinossauros? O Spielberg está a fazer um filme de dinossauros, dinossauros são mais fixes que tartarugas, mas vamos fazer o maior deles humanos, e para os saltos damos botas mecânicas!”

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Fracasso total e provavelmente devido a ele nunca vai existir um filme live-action de uma propriedade da Nintendo.

Double Dragon 1994

Alyssa Milano durante anos foi uma razão para eu ver fosse o que fosse inclusive o Charmed, mas mesmo ela não me consegue vender Double Dragon porque um filme baseado num beat’em up (por melhores momentos que me tenha dado) não me parece ser a melhor opção de enredo. Usando a moda Ninja dos anos 90 foi misturar a história inexistente de Double Dragon e meter-lhe guerreiros sombra, talismãs mágicos e mais coisas que não tinham lugar no original. Um pitch falhado até alguém dizer “E se lhe chamassem Double Dragon e aproveitar a fama dos jogos?” Até os “irmãos” eram protagonizados por Scott Wolf e Mark Dacascus!

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Mais valia terem feito isto com o Steven Segal e o Lorenzo Lamas.

Street Fighter 1994

O último filme do grande Raúl Julia foi esta fantochada de Jean Claude Van-Damme em que como ele não podia ser asiático por razões óbvias para encarnar Ryu, que é considerado o personagem principal dos jogos. Isto se podemos dizer que Street Fighter tem um personagem principal… Bom, JVD focou a história em Guile, um soldado americano (com sotaque estranho e/ou belga) e um enredo que não tem nada a ver com os jogos, porque mesmo esses não têm enredo. É uma porcaria de um torneio de luta! Não é uma coisa com traficantes e exércitos e conquistas mundiais e montes de porcarias que não lembram a ninguém.

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Esta frase é digna do filme, pena que Raul Julia se tenha despedido com isto, mas a sua participação é também o mais importante neste filme.

Mortal Kombat 1995

Um ano depois saiu Mortal Kombat, que não é um mau filme de videojogos, é só um mau filme. De todos os exemplos é o que tenta respeitar mais a base leve que a história do jogo dá, mas infelizmente é um jogo de luta, não havia muito tutano nesse osso para sugar. De qualquer maneira, pequenos erros como escolher Christopher Lambert para fazer a personificação de Rayden, um deus asiático é quase tão errada como as escolhas de Wolf e Dacascus em Double Dragon. Apesar de ser um mau filme (e dos meus maiores guilty pleasures a par de Real Steel) com péssimas actuações, diálogos e efeitos especiais, Mortal Kombat foi um filme altamente lucrativo de tal maneira que lhe seguiram um spin-off, uma série de animação e uma live-action.

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Acima de tudo Mortal Kombat deu-nos uma música tecno que ainda hoje deve ser passada uma vez a cada hora em salões de lazer-tag sob pena de o salão perder a licença se não o fizer.

Resident Evil 2002

Confesso que na parvoíce do meu ser jovem adulto, na minha ignorância então intocada pelas desilusões amargas da vida, fui ver Resident Evil ao cinema com bastante entusiasmo, quando saí da sala tinha um vazio dentro de mim, como se um dos milhares de zombies do filme me tivesse comido o interior. Mas que porcaria era aquela? Onde estava a casa claustrofóbica com enigmas onde um único zombie numa sala  era mais que suficiente para fazer alguns de nós suarem frio? Onde estavam Chris, Jill e os outros S.T.A.R.S? Onde estava Wesker? O que era aquele complexo e computadores com inteligência artificial? Nitidamente quem fez o primeiro Resident Evil não jogou nenhum dos jogos porque o primeiro já tem argumento que chegue para um filme, tem traição, emoção, suspense independente de se usassem a visão de Jill ou Chris, era tão simples como: “Estão a ver este jogo? façam-no do inicio ao fim, como está, não mudem nada, até podem manter os planos de imagem.”. Mas não… decidiram fazer algo novo para acomodar a Milla Jovovich quase nua, porque isso era uma cena entre 98 e 2005. 

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Mesmo com a introdução de personagens canónicas nas sequelas, e por mais sucesso de bilheteira que tenham estes filmes irão ser sempre filmes sci-fi que apenas têm um nome em comum com os jogos e são um desperdício de propriedade intelectual.

A lista de filmes de jogos falhados é longa e ilustre, inclui títulos como Lara Croft: Tomb Raider, Doom, BloodRayne, Silent Hill, Max Payne, Hitman, Need For Speed e DOA: Dead or Alive entre outros, sobre os quais posso vir a falar desses um dia, mas hoje quero apenas fechar com um caso que exemplifica bem o espectro oposto da maior parte dos acima mencionados que é o filme que onde querem incluir tanta coisa que acabam por perder tudo.

Warcraft 2016

Warcraft podia ser um bom filme, tem bons actores e tem um lore, um universo, que dava para tudo, mas os autores cometeram um erro crasso tentaram agradar demais aos fãs ao mesmo tempo que queriam introduzir todo um universo aos espectadores casuais que não conhecem o jogo. Em vez de o fazerem suavemente focando-se em apenas alguns aspectos tal como foi feito no universo Harry Potter aquando a sua transposição cinematográfica, tentaram enfiar a introdução de tudo e mais alguma coisa, em 2 horas mais ou menos. O filme ficou confuso e provavelmente jamais iremos ver a sua sequela porque não souberam aproveitar o seu potencial.

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Eu não sou totalmente contra a adaptação de jogos para outros meios, algumas histórias de jogos são ricas o suficiente para transpor para cinema, TV, romances ou BD, mas para isso devem ser bem feitos. Talvez séries de streaming porque não se regem pelas regras da TV no que diz respeito ao número e duração de episódios fossem o melhor segmento para isto, porque permitiriam que as histórias fossem contadas a seu passo e ritmo. Talvez faça um dia um artigo de Jogos que deveriam ser séries… quem sabe uma do The Witcher