Ou como estragar ainda mais o mercado com uma cegueira gananciosa e convenhamos, idiota

As loot boxes e demais práticas comercialonas e gananciosas das companhias de ganharem rios de dinheiro de forma, digamos, pouco dignificantes para a indústria são coisa que quase ninguém está a achar muita piada. São acções más, aliás, muito más, mas como em tudo na vida é possível serem ainda piores. É como entalar o prepúcio no fecho-éclair, coisa que infelizmente já me aconteceu por duas vezes na minha vida. Uma entaladela destas é possivelmente uma das maiores dores que já senti, mas num espírito fatalista sei que as coisas podiam ser piores. Aliás, tudo pode ser sempre bem pior do que já é. Se por exemplo entalasse o prepúcio, ao mesmo tempo que pisasse cocó de cão com os dois pés enquanto ouvisse Ana Malhoa, com a Assunção Cristas eleita como primeira-ministra e um asteróide em rota de colisão frontal com a Terra.

As presentes práticas de loot boxes, mas num exercício de sadismo conseguimos pensar em hipóteses para torná-las ainda piores e tornar os jogos ainda mais “engraçadinhos”. Para quem não sabe “engraçadinho” é o termo que se usa quando se acha algo horrível mas tem-se vergonha de o admitir. Como aquele bebé filho de uns amigos e que é notoriamente feio (porque a máxima de que “todos os bebés são bonitos” é uma valente treta), e que nós, com um esgar de sofrimento, lá dizemos “oh! É tão engraçadinho!”.

Qualquer Super Mario. Vá, imaginemos o Super Mario Odyssey

Se a prática das loot boxes chegar algum dia à Nintendo (e que ninguém diga alguma vez “desta água não beberei”) podemos imaginar um Super Mario que de base só temos um Toad para controlar. Ora este Toad é um valente cepo a saltar (ou a fazer praticamente qualquer actividade física, o que se assemelha, e muito, a mim nas aulas de Educação Física do Preparatório), e portanto o jogo fica practicamente injogável.

Make it hail, Mario!

Lá vamos nós fazer grind de dinheiro, já que a cada 3000 moedas podemos ir à loja comprar uma common loot box, que tem uma ínfima probabilidade de nos desbloquear o Mario. É claro que ao comprarmos as caixas com in-game currency só nos vão sair mais e mais Toads, e sabemos perfeitamente que se injectarmos 10,99€ no jogo poderemos abrir a Elite Mushroom Box com grandes chances de termos o Mario. Ou por 20,99€ a Ultimate Mushroom Kinky Box, que tem como recompensa certa o Luigi todo nu, com Aviators e chapéu de polícia.

FIFA

Em extremo o FIFA Ultimate Team já possui uma espécie de Loot Boxes mascarada de saquetas de cromos. Mas imaginemos que nos restantes modos, especialmente os online, são criadas loot boxes com habilidades passivas de arbitragem como recompensa.

Se gastarem dinheiro real podem, por exemplo, ter árbitros mais favoráveis, que vos permitem dar toda a sarrafada que vos apetecer sem nunca serem punidos, ignorar-vos foras-de-jogos mas marcá-los indevidamente aos vossos adversários, anular golos limpos aos vossos rivais e dar-vos penalties como o Valentim Loureiro distribuía electrodomésticos em tempo de campanha. Com uma ressalva, estes poderes passivos só funcionam em campeonatos domésticos, e tudo o que for competições europeias não podem usar estes poderes, e têm de se valer da vossa própria qualidade.

Um bug do FIFA que torna os jogadores hiper-agressivos e violentos. Ainda esperamos o patch para o corrigir.

É claro que desta forma, num jogo de futebol virtual, arriscam-se a ser uma valente trampa no estrangeiro, e sei lá, perder os jogos todos, mas em casa serão sempre campeões.

Felizmente que este modelo não tem proximidade nenhuma com o desporto real.

Pokémon

Seguindo o muito dinheiro feito em parceria com a Niantic num período muito específico de 2016, a Pokémon Company decide aplicar alguns destes conceitos aos seus jogos principais. Muitos dos seus milhões de fãs reclamam, mas depois ficam rapidamente apaziguados porque o novo jogo, apesar das loot boxes e micro-transações, traz um novo modo de transformação para cada Pokémon, o Modo Evoluído P’a Car***o, que é mais poderoso que qualquer outro.

Make it rain, Pikachu!

O funcionamento é simples: ao invés de podermos ir a um PokéMart qualquer comprar as PokéBolas necessários ao nosso gameplay, temos de amealhar Battle Points por cada combate feito com Pokémon selvagem (ao ritmo de 5 BPs por vitória) ou com lutas de treinadores (15 Bps por vitória). Uma loot box que contenha entre 5 a 6 PokéBolas (uma delas pode ser Great Ball) custa 200 BPs. É fazer as contas, como disse o actual Secretário-Geral da ONU. Ou, alternativamente, podem comprar com dinheiro real para pouparem tempo.

Tetris

Olá Ubisoft, estou a falar contigo directamente para te dar ideias de como estragar a série Tetris em parceria com a Tetris Company. A forma de aplicar loot boxes ao mais emblemático puzzle game da História é tão simples, que até nos admiramos que ainda não tenha sido feito.

Num mundos sem Is, vamos todos jogar TETRS.

As peças compridas, os Is, ao invés de responderem a um algoritmo, só surgem numa abordagem de inventário, com as suas unidades a poderem sair em loot boxes adquiridas com currency ganha dentro do jogo, ou, obviamente com dinheiro real.

Boa sorte a fazerem aquelas sequências maravilhosas de linhas sem gastarem dinheiro.

Qualquer aventura-gráfica: o Monkey Island por exemplo

O tempo de jogo vai gerando moedas passivamente, como se fossemos um rato a criar energia num dínamo e numa roda. Essas moedas são usadas numa loja contextual para comprar loot boxes que nos vão dando itens aleatórios, alguns deles são arenques vermelhos, os outros são necessários para avançar o jogo. Ou seja, ao invés do modelo clássico de descobrir e encontrar itens para resolver puzzles, temos que esperar que a aleatoriedade nos permita tê-los em common loot boxes compradas com tempo de jogo, ou desbloqueadas com dinheiro real só para termos a certeza que encontramos o que precisamos.

Bought 4 loot boxes and all I got was money out of my bank account.

Uma sugestão para ir ainda mais longe passaria por estas loot boxes terem também linhas de diálogo necessárias a avançar o jogo, para além de itens.

Star Wars Battlefront II

Compramos um jogo destes mas os nossos reais motivos para o comprar, no caso, os nossos personagens favoritos (como o Darth Vader e o Luke Skywalker), estão bloqueados de base. Para termos acesso a eles ou fazemos um grind doentio de dezenas de horas num jogo só por si repetitivo, ou então utilizamos dinheiro real (somado às dezenas de euros que pagamos pela versão de retalho ou digital do jogo) para os desbloquear de forma quase instantânea.

Ah!