PRÓLOGO: AUTO-ANÁLISES PRÓPRIAS DE UM PORTUGUÊS:
COMIDA TIPICAMENTE PORTUGUESA = BOM
SAPATO FABRICO PORTUGUÊS = BOM
DIPLOMATA PORTUGUÊS EM CARGO EUROPEU = ORGULHO
FUTEBOLISTA PORTUGUÊS EM GRANDE CLUBE = ORGULHO
JOGO DESENVOLVIDO EM PORTUGAL = NÃO DEVE SER GRANDE COISA
JOGO QUE PARECE BOM DESENVOLVIDO EM PORTUGAL = MAS ERAM TODOS PORTUGUESES?
CAPÍTULO 1. A ANÁLISE QUE FALTAVA AO LGW, SOB O EFEITO DA PRIVAÇÃO DE SONO
BOAS PESSOAL! DAAAAAAQUI FA…não, não é esse tipo de artigos.
Estive no Lisboa Games Week (LGW)… quer dizer, mais ou menos… quer dizer, estive lá mais do que os dias todos, de manhã até à noite,mas não estive estive estive lá… quer dizer… já vou explicar. Foi a quarta edição do LGW, já estava na horinha de eu lá pôr os pés, em retrospetiva, que remédio lá tive, que os fogos no Rubber Chicken e do Indie Dome não se iam apagar sozinhos.
Apesar de lá estar a fazer “jornalices”, consegui tirar uns tempinhos aqui e acolá para investigar o evento e tenho a dizer, que quem teve a ideia de transformar aquilo numa Comic Con para jogos, teve uma ideia “genial” mas apetecia-me mandá-lo contra uma parede. Nem sei por onde começar, imagino que este ano havia uma competição de quem seria o mais tryhard do evento, porque foi uma competição renhida.
A WTF decidiu levar para lá um barco. SIM, UM BARCO, porque se há algo que me ajuda a decidir a minha rede móvel é um barco. Outra coisa que acredito que aconteça é um rapaz dizer em casa “mãe vou ao LGW” e quando volta está inscrito no exército. Porque o exército estava lá.
A Sony colocou um lindo jardim de natal, para nos mostrar quão imersos poderíamos estar no mundo de Uncharted/Horizon Zero Dawn: Frozen Wilds, e nem tenho a certeza quem é que pôs aqueles 4 carrões na entrada, mas imagino que terão sido eles. A Xbox teve vergonha de aparecer por alguma razão que me passa ao lado, imagino que não estejam a tentar promover uma consola nova nem nada, para depois se queixarem que em Portugal ela não vende.
A Worten elevou o nível e decidiu que o que chamaria a atenção dos gamers, eram meninas em pseudo-biquinis e capa de super-herói a anunciar os jogos disputados no evento num ringue de boxe.
OS CTT, deram-lhe em força nos youtubers. A sério, sempre que passei lá tinha uma fila tão grande que pensei que estavam a oferecer Paysafe Cards, mas imagino que a minha desinformação quanto ao panorama dos youtubers nacionais seja a causa desse espanto.
“eeeeeeei putos, mandem mais cartas tá bom? ”
“YO BOOOOYS, SE QUEREM QUE AS CARTAS CHEGUEM A QUALQUER MOMENTO, O CORREIO AZUL DISTRIBUI TUDO A TEMPO!”
“Ma men, sabes o que é que está a dar? Colecionar selos! “
Ou seria publicidade ao banco novo deles, não fui lá ver por causa da fila, mas prefiro imaginar que as frases de cima foram efetivamente ditas.
Foi o primeiro evento que participei que possuía um Easter EGG! Chegando a qualquer um dos stands de crepes do evento, se escolhido o sabor de banana… seríamos presenteados com uma chave para Steam do Crime no Hotel Lisboa. Genial!
CAPÍTULO 2. O INDIE DOME
Mas vamos ao que interessa. O pequeno grande bebé do LGW, o Indie Dome. Somos bons, somos MUITO BONS e não se enganem, que vamos ficar melhores. Não estou a falar do Rubber Chicken (mas podia), nem do Indie Dome em si (mas podia) pois apenas foram duas plataformas facilitadoras, mas refiro-me ao panorama nacional de desenvolvimento de jogos.
É um orgulho imenso passar por várias mesas com jogos em exposição e não conseguir distinguir quais são os jogos nacionais dos internacionais, quais são os indies de empresas conhecidas ou quais são o projeto de um punhado de alunos de uma Universidade Nacional. Tive o tempo e a possibilidade de experimentar grande parte da vitrine do Indie Dome, bem como de entrevistar e conviver com grande parte dos developers nacionais e internacionais que lá estavam presentes, e sentir que são um tipo de gente especial.
Posso começar por falar no Brjánn Sigurgeirsson (tive que ir fazer copy paste do nome dele ao Facebook), que sendo um dos mais bem sucedidos developers presentes no evento (com os seus SteamWorld) não pareceu uma pessoa menos acessível que eu ou tu (caso sejas uma pessoa acessível, não tenho tomado atenção à demografia dos meus artigos). Os fantásticos Dave e Tracey McCabe, a tentarem trazer o auditório à terra com a sua experiência de vida durante o desenvolvimento do fantástico The Darkside Detective, jogo que os levou a mudar a sua vida para a Indonésia, para poderem diminuir o budget de produção. Os developers de ECHOPLEX , uma das minhas apostas para jóia escondida do ano, que quando viram o quão empolgado fiquei com o jogo deles criaram uma lista com um elemento para ter acesso aos níveis ainda em desenvolvimento, aliás, no último dia do LGW consegui notar diferenças muito semelhantes a sugestões minhas em alguns dos níveis da build que eles estavam a apresentar.
E o pessoal cá de casa? Tive o prazer e a pena de ter podido entrevistar alguns, mas não todos.
O promissor videojogo-de-tabuleiro? Edotales Tactics, mostrou-me que a LampWave Studios acredita que o próximo big-hit poderá ser Português. Ellie Moon, Dark things about e Iteration são jogos que me mostraram que o panorama do ensino e facilitação da criação de jogos em Portugal já esteve menos negro.
Ganbatte, HoverShock, Keep the Keep e Those who remain, são já apostas que mostraram um grande conhecimento e experiência neste meio, com produtos cada vez mais polidos.
EPÍLOGO: E AGORA, PORTUGAL?
Meus amigos, Portugal está bom e recomenda-se, e as únicas pessoas que vêem o nosso pequeno rectângulo de país como algo pequeno e sem potencial somos apenas nós próprios, no talho dos videojogos o produto nacional não é o anho vendido como cabrito, muito menos o gato por lebre, somos aquele naco de carne que tem o potencial de se tornar uma boa posta mirandesa, ou no pior dos casos um quadradinho de carne numa espetada mista. Portanto deixem de nos ver como carne para rissol, enchimento de alheira ou osso para dar ao cão.
Procurem o produto nacional e vejam-no como ele é, o resultado do esforço de alguém, que por menos que pareça, queria muito poder ver o sorriso, ou a concentração, ou até o desinteresse de quem está desse lado.
No próximo LGW, o Indie Dome estará muito provavelmente maior, melhor e à vossa espera, tirem 10 minutinhos à fila para ver os youtubers, comprar o Bubble Tea, ou jogar o FIFA 20XX, passem no lugar onde quem lá está, está lá porque quer mesmo não ser um rissol.