Só mais uma vez…

Estão a ver aquelas coisas que sabemos que nos fazem mal, mas que não conseguimos parar de fazer? Aquelas picadas de melga que nos sabem tão bem coçar, mas que depois incham e doem no dia seguinte? Radar Warfare é um pouco isto em formato bullet hell.

Encontramo-nos ao comando de uma nave numa HUD muito retro e minimalista ao estilo de ecrã de radar de submarino para, com os dois analógicos, desviarmo-nos de uma enxurrada inacabável de balas enquanto tentamos cravejar invasores alienígenas de chumbo “pixelizado”. Para isto temos duas funções que nos auxiliam naqueles momentos em que não nos cabe um feijão num sitio que nós cá sabemos: um sprint para acelerar a nossa nave e um poder consumível que pode ser um escudo ou uma bomba que limpa o ecrã de inimigos.

O objectivo é “apenas” sobreviver a 4 ondas de inimigos com um boss no fim para roubar e reutilizar a tecnologia dos invasores amplificando o nosso poder bélico, desbloqueando novas naves que podemos usar. Fácil, certo?

O grande problema (ou atractivo dependendo do tipo de jogador) deste jogo é a dificuldade. Não estamos a falar de um Dark Souls, Cuphead ou Nioh. Nesses jogos somos expostos a desafios sucessivamente mais complicados e, se bem que apresentam alguma dificuldade, com sucessivas tentativas apercebemo-nos dos padrões existentes e conseguimos progredir com algum nível de sucesso. Em Radar Warfare a dificuldade sobe exponencialmente nos primeiros dois minutos de jogo e somos testados durante toda a sessão, sem descanso. Faz jus ao chavão “You rest when you die”. Estamos a falar de uma capacidade de coordenação mãos-olhos e reflexos aguçados que fariam um piloto militar orgulhoso. Se já é difícil chegar ao boss, imaginem suplantar um desafio ainda maior do que as 4 ondas que já passamos quando apenas nos sobra uma vida.

A banda sonora é viciante, não nos desconcentrando, mas oferecendo um pano de fundo adequado de tensão e energia. Os comandos respondem bem somente havendo algumas dificuldades em conseguir acompanhar as evasões frenéticas da nossa nave com o movimento da mira. Os spawn points dos inimigos são aleatórios, o que pode causar algumas mortes injustas quando aparecem diretamente em cima de ti e um ligeiro aviso prévio poderia ajudar imenso. Quando fazemos respawn também há a falta de indicação do momento em que deixamos de ser invulneráveis. No entanto, estas pequenas falhas não são suficientes para tornar o jogo extremamente frustrante, pois a maior parte das nossas derrotas ocorrem por nossa conta.

Recomenda-se?

Mesmo com esta dificuldade exacerbada tão comum ao género, do qual o exemplo mais conhecido é a série Touhou, encontrei-me a jogar e a perder centenas de vidas a progredir e a melhorar os meus scores. Sempre que perdia recomeçava imediatamente a sessão, num ciclo perpétuo de masoquismo eufórico. Só pode ser bom sinal, não concordam?

Se gostam de um bom desafio e são pacientes, Radar Warfare recomenda-se fortemente, estando disponível ao preço incrível de 0,99 € na Steam. A este preço, o valor e tempo de jogo que poderão retirar deste título é muito alto. Só não partam nenhum periférico!