Swipe On, Swipe Off

https://www.youtube.com/watch?v=0Hlw4Un91lI

Há 31 anos Johnny Marr e Morrissey compunham e lançavam um dos mais importantes álbuns dos anos 1980, acompanhados pelos outros dois tipos dos The Smiths que na prática ninguém quer muito saber quem são. Se querem sugestão para vos acompanhar a lerem este artigo e quiçá, a jogarem ao magnífico Reigns Her Majesty, a excelente sequela de Reigns lançado o ano passado, é mesmo ouvirem a voz do Morrissey. E se não ficarem com o refrão na cabeça e o entoarem não sei quantas vezes nas inúmeras mortes que vão ter, então não sei de que material são feitos.

Reigns Her Majesty é em muitos aspectos o mesmo jogo que o seu antecessor, mas tão, tão diferente. Ainda existe a óbvia inspiração no Tinder com as nossas acções a remeterem-se a escolhas entre gestos para a esquerda e gestos para a direita, a mesma temática medieval, e as mesmas quatro variáveis que precisam de ser equilibradas para nos impedirem de morrer. Povo, clero, nobres e economia, são as quatro barras que temos herdadas do primeiro jogo, e basta qualquer uma delas ficar completamente vazia ou completamente cheia e instantaneamente morremos. Vamos continuar a morrer tantas vezes como no primeiro até conseguirmos desbloquear todos os caminhos e finais possíveis, mas em Reigns Her Majesty há grandes diferenças ainda assim.

Mas se no primeiro jogo sentíamos o peso da coroa dos diversos Reis que encarnámos, aqui vivemos os papéis das muitas Rainhas, com questões e decisões díspares do primeiro jogo.

Percebe-se que os criadores do estúdio Nerial quisessem aproveitar a base que já existia do primeiro jogo e adicionar algo mais, que neste caso são elementos trazidos dos point ‘n click adventures.

Um inventário que vai sendo desbloqueado e que, se usado nos momentos certos, nos permite avançar nas muitas ramificações que este Reigns Her Majesty se move. A utilização deste itens tem que ser muito bem medida, sob pena de recebermos grandes “danos” nas nossas barras de satisfação e de nos levar à morte. Se alguns deles nos soam perfeitamente lógicos (como utilizar o feitiço vermelho de que nos permite falar com animais) há outros que são um pouco crípticos e que nos causam mais dúvidas do que certezas, especialmente as espécies de puzzles relacionadas com a astrologia, um elemento forte aqui neste Reigns Her Majesty.

O enredo continua no mesmo patamar de qualidade do anterior, com situações quase surrealistas e com dilemas estranhos e risíveis. A necessidade de termos de ir mantendo as quatro variáveis equilibradas vai conduzir-nos novamente a escolher opções com as quais não concordamos.

A temática vai ainda mais em direcção ao paganismo e aos cultos matriarcais e o confronto com a Igreja, para além dos desequilíbrios que podemos ter em assumirmos o poder no colo da Rainha, tornando o Rei um mero joguete, o que até torna a diferença de abordagens entre os dois jogos algo perfeitamente refrescante.

A direcção artística e musical continua num patamar exímio, sabendo viver com as suas decisões estéticas para compor o nosso envolvimento no jogo, e que acompanham facilmente o alto nível da qualidade da escrita.

Reigns Her Majesty é um jogo baratíssimo tanto em mobile como em Steam (onde custa agora 2,69€), e consegue manter o papel de qualidade do anterior adicionando alguns elementos de novidade. Para além das decisões tomadas ao estilo do Tinder, os itens que vamos adicionando e que fazem sentido na narrativa trazem uma nova camada a um jogo que pega nas fundações do original, mantém o mesmo fio condutor humorístico, e tenta elevá-lo para uma experiência superior. E felizmente para nós, consegue-o, servindo para ajudar a fechar em beleza um ano excelente para os videojogos.