Durante a ceia de Natal imaginária da redacção do Rubber Chicken, enquanto a equipa se refastelava com o jantar e brindava como uma horda de anões animados na taberna local, decidi pedir-lhe a opinião honesta (sempre ouvi dizer que se queremos saber a verdade de um amigo, basta embebedá-lo) sobre os melhores jogos que jogaram em 2017. Meio surpreendidos com a pergunta, por entre algum vernáculo e a sensação de armadilha depois de perceberem que a refeição trazia água no bico, que é como quem diz, trabalho, lá foram respondendo.
E apesar do meu Editor’s Choice sair depois destas escolhas da equipa, fica a garantia para eles e para quem nos lês: não lhes coloquei a pergunta para saber o que colocar no meu top. Garanto-vos que estou a falar a verdade porque estou bêbado.
Responde o João Machado, ainda com restos de cachupa no prato, a explicar-nos que as tradições são aquilo que cada um de nós faz delas, enquanto os olhos reviram e um efeito mágico feito com pó de canela cria o ambiente perfeito:
Pelas previsões de Professor Machadonga, o ano de 2017 foi grande para jogos mas a maior parte deles teve um azar muito grande: foram lutar contra a Nintendo e a maioria trouxe facas para uma luta de Drones. Mesmo dentro da Nintendo Switch tivemos 3 grandes jogos que podiam ganhar o prémio de jogo do ano, mas um leva a coroa. A opinião é mainstream mas merecida, Breath of the Wild é o meu jogo do ano, nem que fosse pelo simples facto de ter lá deixado 200 horas da minha vida em 2017, mas também pela grande volta de que deu a todo o conceito de jogos Zelda e especialmente open-world. Já falei que chegue do jogo, e das suas falhas em vários artigos, Falhas que são perfeitamente ignoradas quando se vê tudo o resto.
O Nuno Marques, a abanar um copo de vinho tinto na mão, endireita-se na cadeira, com a luz da lareira a criar-lhe dramatismo em contra-luz, fala como quem ora para uma multidão na Roma Antiga. Com muito álcool, lá está:
Este ano foi um portento em termos de jogos, mas curiosamente para mim foi mais um ano de limpar backlog do que propriamente jogar coisas novas. Desde Infamous: Second Son e o DLC até Doom e Child of Light.
O meu jogo do ano foi Horizon: Zero Dawn, não só pela surpresa de ser da Guerrila, mas pelo mundo muito bem construído e uma capacidade de contar uma história cativante de uma maneira diferente à que estamos habituados. Quando juntamos a isto um desempenho técnico incrível e jogabilidade multifacetada, somos presenteados com algo que só acontece um par de vezes por geração. A menção honrosa vai para The Last Guardian (que é do final de 2016), que embora tenha uma direcção artística e banda-sonora incrível, com uma jogabilidade única com a carga emocional a que estamos habituados pelo estúdio, é prejudicado pelo ciclo de desenvolvimento prolongado, que afectou um pouco os aspectos mais técnicos do jogo (aliasing e texturas estranhas) e mantém o esquema de controlos e responsividade ao nível da geração transacta.
P.S: FFXII HD: The Zodiac Age está extremamente bem feito, mas não menciono por ser um remaster.
Uma mão ergue-se debaixo da mesa, e eleva o seu portador de volta ao mundo das pessoas-que-andam-de-pé. E é aí que vemos o João Antunes, decidido, depois de ter passado algum tempo à procura de uma rolha de cortiça que caiu no chão. Mais descansado por tê-la encontrado, respondeu-me:
Jogo do ano é uma categoria chata, até porque tenho o mau vício de jogar tudo com atraso. Para mim luta entre jogo do ano era entre Doom, XCOM 2 e Stellaris, tudo jogos de 2016. No entanto tendo de seguir a norma social, escolhendo apenas jogos de 2017, vamos a isto, começando por duas menções honrosas. Cuphead pela direcção artística e simplicidade do jogo que me fez ter vontade de ligar a PS1 e matar saudades de alguns bullet hell velhinhos que lá tinha. Injustice 2 porque, hurr durr DC Comics fanboy, e porque foi sem dúvida nenhuma o melhor fighter do ano (gostos à parte). AH! e serviu como um bom filme da Warner Bros. para variar.
O meu jogo do ano vai para Resident Evil 7, não só pela surpresa que foi jogar um survival horror com tudo o que de bom oferece o género mas também pela forma genial na qual este título foi inserido no cânone da série sem afectar o desenvolvimento da mesma. Parabéns Capcom, levas o bolo.
Em formato P.S. devo adicionar o meu prémio para “jogo que devia ter sido o melhor jogo do ano para mim”, Mass Effect Andromeda, amo-te como aos teus irmãos mais velhos mas não há como fugir ao facto de que nasceste prematuramente e com Síndrome de Down. Não te sintas mal, a culpa é dos teus pais. Vendo o lado positivo, tens algo a mais que os outros não têm.
O Nuno Marques, que esteve nos últimos minutos com o copo de vinho na mão, de costas para nós, a olhar para o fogo, adiciona:
Epá, esqueci-me do Cuphead! Mas para mim não chegou a ser GOTY porque ainda não o acabei, falta-me a última ilha.
De cabeça na mesa, com mais níveis de embriaguez do que a sua folha de personagem permite, o Ricardo Mota balbucia:
Face àquilo que joguei de 2017, creio que Shadow of War.
(pausa, arroto, a falar como abreviaturas)
Gorogoa tb entra na minha lista.
(nova pausa, agora sem arroto mas ainda com abreviaturas)
PUBG tb, pelo esmagador impacto que teve no mercado.
Ainda com o avental posto de ter estado a fazer os menus da Quadra toda para a redacção do Rubber, o André Marrucate limpa as mãos e a boca ao guardanapo, e intervém:
O Cuphead é o jogo do ano para mim. Muitas das vezes que perco é a olhar para a arte incrível: é quase inacreditável como parece um desenho-animado dos anos 1940/1950. Também joguei o BotW na Wii U e não achei nada de jeito e voltei ao Rust. Doom também não conta que saiu em 2016.
A apitar o PVP de sobremesas que estava a decorrer à mesa do nosso jantar, o Marco Janeiro interrompe a partida com o seu ar entusiasmado habitual, lança dois dados para cima da mesa, avança o seu meeple duas casas e responde-nos:
PlayersUnknown’s Battlegound? Porquê? Simples, os números falam por si do quão apetecível é o jogo. Admito que o jogo está longe de estar óptimo mas temos que somar qualidade tanto visual, gráfica como de jogabilidade. Pessoalmente tem um significado especial pois foi o primeiro jogo que joguei com o meu irmão em Co-Op ao fim de largos anos.
Acabadinha de acordar porque esteve, como sempre, a trabalhar até aos minutos que antecederam o jantar (e vá, os três copos de vinho também ajudaram à festa), a Maria João Andrade recompôs-se de imediato e dirigiu-nos a sua resposta:
Talvez por adorar os jogos do género, aquele que me marcou mais foi o o Divinity: Original Sin 2, o qual por toda a liberdade requintada que nos é fornecida em jogo assim como todo o sentimento de instabilidade e inquietude se torna espetacular de jogar. Tudo o que acontece é inesperado e se morrermos e voltarmos atrás no jogo, tudo pode ser diferente quando regressamos ao jogo.
É um jogo que não se torna cliché e que nos surpreende a cada minuto. Além disso confronta-nos com a nossa moralidade, com as características dos nossos personagens mas também com o que nós faríamos em cada situação, verificando depois as consequências das nossas ações de modo bastante cru.
A possibilidade de vivenciar todas essas escolhas no Mundo de Divinity em modo cooperativo é algo espetacular e que me fez voltar a viver essa experiência com o meu companheiro. É um excelente jogo para experienciar em casal ou com um amigo, até pelas diferenças de escolhas e debates que pode providenciar. O estilo de combate é fabuloso e com uma lógica realista estonteante com o seu friendly fire, pondo à prova todas as nossas capacidades de estratégia e pensamento conjunto (quando jogado em cooperativo). Além disso a arte é simplesmente fantástica e muitas vezes perdi tempo a fazer habilidades com os bonecos apenas para ver todo o fantástico efeito que se via. É um jogo que recomendo mesmo!
Meio surpreendido porque vinha do WC e de repente tem uma dezena de pessoas a olhar para si, o Pedro Nunes, ainda a sacudir as mãos de as ter lavado (achamos nós), respondeu:
Vou reiterar o Cuphead, porque é um jogo no qual arriscaram tanto que acabou por nem sequer ser um risco. Já nem falo na arte e jogabilidade, desde que me lembro que jogo jogos, e foi a primeira vez que parei a minha personagem e o que estava a fazer para ouvir a música. (IIIIII’m mr King Dice).
Nisto, a campainha tocou. Era um telegrama cantado (e nós nem sabíamos que ainda era possível enviar um destes) do Daniel Carvalho (que infelizmente ainda nenhum de nós conheceu pessoalmente, o que corrobora a teoria de alguns que ele não exista, e seja apenas um personagem de pen and paper RPG):
Horizon: Zero Dawn. <pausa> História e ambiente imersivos, protagonista cativante e todo um conceito diferente e cativante. <pausa>
Feliz pelas respostas obtidas, fechei a porta de casa e dei um trago no meu copo de vinho. Pousei-o e estendemos todos as mãos para dar Graças ao grande Deus-Galinha que nos rege, neste que é o seu ano. Aliás, o Ano da Galinha só podia ser excelente. Só tememos que a partir daqui seja sempre a descer.