2017 está a acabar e apesar de eu ter jogado menos jogos e menos horas que nos anos anteriores por boas razões pessoais, não é por isso que não vou fazer a terceira edição da entrega dos mais prestigiosos objectos cortantes da internet.

Os Machados do Ano 2017

As origens dos Machados do Ano remontam ao Faraó Pepi II Neferkare que dava machados a todos os seus trabalhadores de campo, foi continuada por Kudur-Enlil da Babilónia e durante séculos foi esquecida até ser reavivada por Alexandre III da Macedónia e depois Machanidas o tirano de Palops, Diocletan fez o mesmo em Roma onde os prémios voltaram a ser esquecidos até que Rollo da Normandia e os seus congéneres nordicos passaram a dá-los a todos os povos que visitavam nas suas viagens, mas por alguma razão que não entendo as pessoas não gostavam de receber estes…

Seguindo esta tradição milenar com três anos, vou dar vários Machados com temáticas diferentes para o que eu considero os melhores jogos que joguei no ano. Alguns candidatos que na opinião geral merecem prémios do ano  como GorogoaHellbladeAssassin’s Creed Origin’s ou Horizon: Zero Dawn estarão ausentes da minha lista porque não lhes toquei, mas também não quereria dizer que lhes ia atribuir alguma honra, nunca se sabe o que nos vai agradar ou não mesmo que toda a gente fale maravilhas.

Todos os anos os Machados são diferentes, e têm um formato diferente na sua entrega, este ano vamos para uma estrutura mais sistematizada que nos anos anteriores, portanto sem mais demoras, vamos a isto.

Machado Desportivo

Fire Pro Wrestling World

Porquê este Machado?

Ok, Wrestling não é tecnicamente desporto apesar de achar que os seus protagonistas principais são em primeiro lugar grandes atletas e em segundo melhores actores que 90% dos Moranguitos que dão ares de sua graça na TVI. Tendo em conta todos os jogos de temática desportiva que joguei este ano, FPWW é sem dúvida o melhor, não só pela minha parcialidade por ser fã da franquia há imensos anos, mas especialmente porque deixam sempre de parte toda a parte superficial do wrestling e focam-se, de forma espectacular, no mais importante, a jogabilidade.

Para quem é?

Fãs de wrestling que não se importam com gráficos de última geração (mesmo que estejam a correr no mesmo motor há uns 10 anos), história ou licenças oficiais. Para quem gosta de wrestling puro e duro.

Não devem jogar se:

São fãs acérrimos da WWE, ou dos seu jogos de luta anuais.

Outros candidatos:

Forza Motorsport 7 e The Hunter: Call of the Wild (se considerarmos automobilismo e caça como desporto, que alguns fazem mas eu não. Mesmo assim mantenho uma mente criticamente aberta).

Machado Arabico

Skeleton Boomerang

Porquê este Machado?

Este pequeno indie foi colocado na lista dos meus melhores jogos do ano porque é uma lição a quem faz os jogos estilo Mega Man.

Mighty number coiso pode chegar-se para o lado porque eu prefiro o meu Mega Man de turbante agora. Pelo menos até sair o 11, e mesmo aí vamos ver…

Para quem é?

Fãs de jogos clássicos de dificuldade acrescida tipo Mega Man. Quem gosta de jogos bem feitos.

Não devem jogar se:

São de uma geração/mentalidade em que tudo é dado, tutoriais duram até ao final do jogo e não sabem perder.

Outros candidatos:

Pankapu, não é tão impiedoso como Skeleton Boomerang, mas igualmente bom.

Machado Grátis

Path of Exile

Porquê este Machado?

Apesar de ter uma ideia que os jogos free to play são sanguessugas de dinheiro que sacam toda a diversão com estratégias pay to win, há boas surpresas. Aqui está uma delas. A equipa de produção merece que se gaste algum dinheiro em extras para recompensar o seu trabalho árduo. São daquelas boas excepções que comprovam as más regras. Tendo em conta as loot boxes e outros em jogos de preço inteiro, Path of Exile merece ainda mais atenção.

Para quem é?

Fãs de Diablo Clássico e os seus clones, quem não pode gastar dinheiro em bons jogos, mas ocasionalmente pode fazer uma pequena contribuição. Mesmo quem não pode, ou não quer, é um grande jogo.

Não devem jogar se:

Acham que o dinheiro compra tudo, especialmente qualidade num jogo, e preferem pagar para não jogar.

Outros candidatos:

Astro Boy: Edge of Time, joga-se bem sem gastar dinheiro e mesmo existindo opções mais famosas e de qualidade, é no geral um bom jogo grátis.

Machado Táctico

Mario+Rabbids: Kingdom Battle

Porquê este Machado?

Num ano em que finalmente joguei XCOM 2, dou o prémio de melhor jogo táctico Mario+Rabbids, que não é mais que uma versão soft desse jogo. A razão é simples, é um jogo que tinha tudo, mas mesmo tudo para correr mal, personagens parvas com propriedades vindas da Nintendo, um estilo com que nunca trabalharam e uma história que não lembra a ninguém, mas quando juntaram tudo a Ubisoft conseguiu algo maior que a soma das suas partes. Também mostra como um jogo feito de raiz e forma inteligente para a Switch pode ser bem melhor que um port.

Para quem é?

Fãs de jogos Turn-based, Mario e/ou Rabbids. Pessoas com sentido de humor ou que gostam de se divertir

Não devem jogar se:

São fãs de jogos “mais sérios” ou “adultos”, ou se a diversão ainda não foi inventada onde vocês vivem.

Outros candidatos:

Quase em ex-equo, tendo que recorrer ao photofinish XCOM 2, ,mas mesmo com a sua expansão War of the Chosen foi desclassificado por ser de 2016.

Machado Relaxante

AER: Memories of Old

Porquê este Machado?

Porque jogos não têm que nos stressar, bem pelo contrário. O objectivo dos jogos é divertir-nos e/ou ser um escape da realidade atroz que nos envolve e esmaga no dia-a-dia. AER faz algo ainda melhor, relaxa-nos, é daqueles jogos que nos permite explorar o seu mundo sem preocupações, deixa-nos perder e faz com que simplesmente aproveitemos o que nos dá.

Para quem é?

Para quem quer algo que não exige esforço, para quem quer apenas apagar o stress da mente e corpo.

Não devem jogar se:

Só gostam de acção pura e dura, tiros e porrada, etc. etc. etc. no fundo, se são “hardcore gamers”.

Outros candidatos:

Nada deste ano, mas joguei Abzu e é muito semelhante na sua liberdade de relaxamento. Mas tal como XCOM 2, não entra na corrida de 2017 apesar de só o ter jogado este ano.

Pázadas de cocó

Todo o shovelware que é colocado diariamente no Steam como por exemplo, mas não limitado a: The Pasture, Rocket Wars, Project First Contact, Cosmic Kites ou Gynophobia, que não joguei mas enquadra-se bem aqui.

Porquê este contentor de bosta?

Este pequeno interregno nem sequer merece um nome de Machado, é apenas uma pequena alusão ao pântano mal cheiroso que o Steam se tornou em que estúdios colocam produtos inacabados e/ou copiados uns dos outros sem sentido algum, ou com pouco mais que uma pequena alteração nos assets e nas cores.

Para quem é?

Gente parva que não tem o que fazer com o dinheiro.

Não devem jogar se:

Gostam de jogos.

Outros candidatos:

Sei lá, no mínimo 78% do que está no Steam?

Machado Surpresa

Unexplored

Porquê este Machado?

Nada como um bom machado surpresa, aquele que nunca estamos à espera. Excepto quando ele nos é cravado nas costas ou assim. Unexplored é dos bons casos, um roguelike que não me cansou pela dificuldade desnecessária ou sem sentido, a sua estética minimalista é perfeitamente funcional e enquadrada num jogo que tem muito mais do que aparenta. Um óptimo exemplo de como se pode fazer muito com (aparentemente) pouco.

Para quem é?

Fãs de bons roguelikes, e jogos de exploração originais com boa vertente de crafting.

Não devem jogar se:

Gostam de jogos com uma estrutura fixa ou com estética realista.

Outros candidatos:

Yonder, Rive e Tallowmere foram jogos que não estava à espera de ter gostado tanto como gostei. Não merecem um prémio mas deram-me bons tempos.

Machado Retro

Alwa’s Awakening

Porquê este Machado?

Há sempre um jogo mais retro que todos os outros, o mais retro dos retro. Alwa’s Awakening ganha este Machado pela precisão. Dar um aspecto antiquado a algo é fácil, mas construir como há 25/30 anos atrás? Fazer um jogo com aspecto da NES original que corre perfeitamente na NES original? Isso não é para todos.

Para quem é?

Quem tem mais de 30 anos e jogou semelhantes, quem quer uma experiência verdadeiramente retro.

Não devem jogar se:

São jogadores novos, não gostam de jogos retro, acho que este é bastante lógico.

Outros candidatos:

After the End, não é um platformer mas é um óptimo JRPG retro.

Machado Indie(o)

SteamWorld Dig 2

Porquê este Machado?

Há sempre um jogo indie do ano, pela segunda vez, vai para um jogo da Image and Form Games. SteamWorld Dig 2 é o que de melhor se faz no mercado indie a nível mundial. É um jogo inteligente, bem construído e acima de tudo uma melhoria sobre o seu original, tal como Gremlins II, T-2 e Empire Strikes Back, é uma sequela que supera o original. Coisa muito rara e pouco vista.

Para quem é?

Fãs de Metroid e/ou Dig Dug. Fãs da Image and Form e de bons jogos no geral.

Não devem jogar se:

São dotados de mau gosto ou falta de bom humor. Não gostam de produtos de qualidade a preço justo.

Outros candidatos:

Todos os indies que ganharam nas outras categorias.

Machados Cruzados

Legend of Zelda – The Breath of the Wild +  Super Mario Odyssey

Porquê este Machado?

Às vezes há dois Machados cruzados em cima duma lareira, outras temos um em cada mão porque certos trabalhos requerem isso.

Como tive uma dificuldade extrema em decidir qual dos meus dois amores considero melhor que o outro, qual pai a quem pedem para dizer qual é o filho favorito (todos têm um mas nunca admitem) vou ter a saída cobarde e dizer que os amo a todos de forma igual. Ambos os jogos são absolutamente geniais nos seus devidos campos e não podem ser comparados lado a lado, seria como comparar Ussain Bolt a Mohamed Farah. Ambos merecem todas as medalhas de ouro que conquistaram mas competem em modalidades diferentes de atletismo. Não posso negar que em termos de horas passei muito mais com Breath of the Wild (perto das 200 mas também tenho o jogo há muito mais tempo que Odyssey), e sou mais fã da série Zelda do que de Mario, mas é por muito pouco, não consigo negar o brilhantismo de Super Mario Odyssey.

Qualquer um deles me faz voltar à consola quase diariamente para pequenas ou longas incursões, mesmo já tendo “acabado” ambos há algum tempo têm tanto sumo para me dar… Ainda vamos na zona temporal do Natal, e Natal é sobre partilha. Portanto estes dois podem partilhar um prémio.

Para quem é?

Toda a gente dos 4 aos 104.

Não devem jogar se:

São tão fanboys da Sony ou Microsoft que não admitem qualidade fora das vossas respectivas religiões. Digo isto porque quando se chega ao ponto de criticar cegamente algo com enorme qualidade só porque não está ou é da “sua marca”, não é gostar de algo ou ser fã, é extremismo religioso.

Outros candidatos:

Não há! Nenhum jogo deste ano consegue sequer chegar aos calcanhares destes, apesar de nos anos anteriores ter sempre dado o prémio de jogo do ano a indies por merecerem e serem superiores aos AAA, este ano não há hipótese de concorrência.

Mas então? Se Breath of the Wild e Odyssey recebem os Machados Cruzados, não há Machado do Ano?

 

Sim há!

Machado do Ano

Nintendo Switch

Porquê este Machado?

Pela primeira vez, e talvez pela última não vou dar o maior prémio do ano a um jogo mas a uma plataforma. A Nintendo Switch foi uma alteração no paradigma dos jogos pela sua versatilidade. É uma obra fantástica que permite a quem a tem jogar em qualquer lugar, a qualquer hora. Para quem, por razões pessoais ou outra qualquer prefere ter mais que um modo de jogo que não seja constantemente sentado num sofá em frente a uma TV ou a um PC. Pode ser que daqui a um ano o encanto da consola desvaneça ou que apareça algo melhor, mas para já, nada bate a pequena híbrida.

E assim acabam os Machados de 2017, um óptimo ano para videojogos e um ano que pertenceu totalmente à Nintendo mesmo que fanboyismos não vos deixem admitir isso.

Deixo-vos os desejos dos meus amigos irlandeses: que o melhor de 2017 seja o pior de 2018.