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Começando já pelo fim e respondendo ao João Machado a pergunta que ele me fez pelo menos duas vezes este mês: sim, João, TINY METAL é obrigatório para todos aqueles como eu e tu que sentem saudades de Advance Wars. São largas dezenas de horas de estratégia por turnos que a cada segundo nos faz lembrar da nossa adorada série da Nintendo.

Apenas para libertar o ar da confusão que por lá paira, e antes de falar do próprio TINY METAL, convém referir o facto que provavelmente mais tem criado zumbidos em torno do jogo: o alegado desvio de investimento do director do jogo Hiroaki Yura do seu milionário projecto de Kickstarter anterior, Project Phoenix, para financiar este indie lançado sob a chancela da Sony. Segundo ex-funcionários seus, TINY METAL foi produzido com o financiamento de Project Phoenix, o aguardado mas aparentemente mal-fadado jogo que ficará para sempre no limbo do crowdfunding. Se é verdade ou não, dificilmente saberemos, com trocas de galhardetes entre Yura, ex-funcionários e backers.

TINY METAL parece sofrer em muito pelo fogo cruzado de todo este assunto, o que não o iliba dos seus próprios problemas. Mecanicamente este jogo não poderia ser uma maior tentativa de sucedâneo de Advance Wars, sem sequer ser escondido pelos seus próprios autores. A forma como abordamos o tabuleiro de jogo, a ocupação das quadrículas e as forças e fraquezas das unidades vivem quase em decalque do que a Intelligent Systems nos habituou com AW, mas… ligeiramente inferior em qualidade.

O enredo é demasiado simplista quando comparado com os bons momentos de escrita de Advance Wars, e mesmo a construção de personagens (cujo visual mantém a ligação à estética anime) está tão cliché e unidimensional que nos cria ainda mais saudades do elenco que habitou a série da Nintendo. Mas a componente visual, seja a construção tridimensional low poly do jogo, os personagens com animações simples, mas sólidas, e mesmo o interface, um dos melhores que vimos nos últimos tempos, simultaneamente depurado e conciso, consegue levar a reboque a qualidade do jogo para um patamar superior.

Apesar das semelhanças mecânicas, há algumas adições que trazem um bom flavour ao jogo. Para além da possibilidade de ficarmos à defesa, há a introdução de juntarmos o ataque de diversas unidades e maximizarmos o dano dado e o recebido, ou seja, ao colocarmos Lock On numa unidade (ficando ela a “apontar” aos inimigo) e de seguida pegar noutra unidade e escolher Focus Fire no mesmo adversário, as nossas duas unidades agem ao mesmo tempo, sendo que apenas a que atacou o inimigo receberá dano (se este existir).

Em algumas missões de Advance Wars tínhamos fog of war que escondia as actividades dos inimigos para além do nosso campo de visão. TINY METAL aplica esta ideia a todo o jogo, complicando a componente estratégica, e tornando o jogo um pouco mais compassado do que a sua “musa inspiradora”. Em mapas mais longos e com muitos potenciais edifícios a serem conquistados, queremos avançar da forma mais segura possível, e o fog of war é um grande detractor de grandes aventuras ou loucuras de dispersão pelo mapa.

Corroborando o que dizia ao João ali no primeiro parágrafo: TINY METAL  é verdadeiramente obrigatório para quem adora Advance Wars, mas não porque seja igualmente brilhante, mas porque provavelmente já todos nós nos fartámos de rejogar os brilhantes jogos da série. TINY METAL é o mais próximo que o mercado contemporâneo tem para nos dar por um Advance Wars, o que por si só não diz muito. Partir para TINY METAL com a esperança que esteja no mesmo patamar do jogo que lhe serve de influência é um erro a priori, ainda que este jogo do estúdio Area35 seja um bom jogo por si mesmo.

Para percebermos a diferença, imaginem um dia de Verão em que vos apetece mesmo muito Coca-Cola, quase como tivessem um desejo patológico pela bebida. Vão ao frigorífico e tudo o que há é Cola do Lidl. Bebem, a contra-gosto, porque sabem que uma não chega aos calcanhares gaseificados da outra. A Cola do Lidl até é boa, mas não está aos pés do original. Mas por vezes uma Cola inferior é mesmo tudo o que precisamos.

TINY METAL está disponível para PS4, PC e Switch.