Ahhhh, é bom encontrar coisas destas. Confesso que Subnautica relaxava confortavelmente no meu backlog há já uns meses. Em primeiro lugar, porque há bastantes nessa lista, depois porque jogos de exploração e construção, por muito apelativos que possam ser para mim, traçaram ali uma linha comum que me foi gradualmente afastando deles e, por último mas não menos importante, depois de Submerged e Subsiege, não estava preparado para outro jogo começado por “Sub” que não tivesse Paulo Portas ao leme.
Mas o raio do Twitch, cada vez mais utilizado como ferramenta de marketing e promoção, levantou a pontinha do véu… vi um, dois, três daqueles jogadores que ocasionalmente vejo a jogar Dota 2 ou Playerunkown’s Battlegrounds a mergulhar (pun not intended) em Subnautica. Ultrapassado o meu “meh” inicial por ver mais um jogo de exploração, substituindo a tag “walking simulator” por “swimming simulator”, a verdade é que acabei por prestar mais do que uma resquicial atenção ao que os meus companheiros de streaming estavam a jogar… e pareciam divertir-se a fazê-lo.
Uma noite, peleando eu na eterna luta contra o sono que a minha particular classe de guerreiros dos videojogos costuma disputar, baseada no princípio de que um dia deveria ter pelo menos 36 horas para nos permitir fazer tudo o que nele queremos fazer, entre a espada da cama e a parede de experimentar 5 minutinhos de Subnautica, optei pela última. São só 5 minutinhos. Qual é o mal? Nem era suposto eu gostar muito da coisa… O meu histórico recente por jogos do género assim o desaconselhava. Até gosto do conceito. Muito. Mas a vida pesa e entre o trabalho, a família e todo o restante ramalhete, não há grande espaço para jogos que exijam uma interação prolongada. Empyrion, Black Death e outros, como Rust, No Man’s Sky, The Forest, Hurtworld ou DayZ foram passando pelas minhas mãos, mas a razão de investimento tempo-benefícios afiguram-se pesadas e afastam-me deste género de jogos. Até porque, convenhamos, as coisas rapidamente caminham para mecânicas que me colocam a coleccionar 47 pauzinhos, 24 penas de melro, 3 ovos de crocodilo e 13 peles de coelho para fazer uma casa com uma banca de cozinha e um fogareiro para, passadas 2 horas, eu andar atrás de adamerlizium e franziskium para fazer o meu novo foguetão intergaláctico num processo de assemblagem que passa por dar duas marteladas num parafuso e ver as coisas materializarem-se à minha frente.
É pegar no agradável conceito da liberdade mas depois seguir quase tudo pelo mesmo caminho. A recolha de recursos. A sobrevivência como uma fastidiosa tarefa de angariação de recursos, enfrentando um mostrengo aqui e ali, caminhando em direcção a um suposto rumo acolá. A repetição da recolha como mecânica de jogo não é coisa que me fascine a não ser que haja mecânicas interessantes nela envolvida – DayZ faz isso bem, No Man’s Sky não.
Em suma, foi de pé atrás que peguei neste Subnautica. E eram só 5 minutos que acabaram por ser 50, depois 100, depois 150 horas até que me retirei sob a pesada ameaça da minha consciência, que no dia seguinte era dia de trabalho e há que dormir. Mas voltei a ele no dia seguinte. E depois. E tenciono voltar por uns tempos.
Os senhores da Unknown Worlds Entertainment – que nos trouxeram um jogo que muito me diz, Natural Selection 2 – foram buscar influências ao genial ABZU e criaram um gigantesco mundo subaquático, onde a sobrevivência tem uma narrativa própria, doseada com mestria. As coisas não são nem a conta-gotas, nem despejadas em catadupa com paredes de texto a afastar o mais interessado dos jogadores. O mundo não é estéril, não é despido. Há toda uma fauna e flora, variando consoante as zonas e profundidades… desde os herbívoros mais plácidos aos nervosos carnívoros, passando pelos territoriais, os esquivos, os coleccionadores ou aqueles para quem somos apenas um insecto. Uns são comestíveis, outros não, mas até com isso há que ter cuidado e cozinhar e preservar cuidadosamente os alimentos, sob pena de os ver apodrecer. A flora também varia, desde a ondulante vegetação rasteira ao longo sargaço em jeito de elevador até à superfície.
Optei por arrancar naquele que, à partida, me parece o mais exigente: o modo survival. Recuperado do choque da fuga da nossa gigantesca nave que se despenhara, despertamos num Escape Pod em chamas. Há que procurar comida e bebida. Depois, algo que nos aumente as hipóteses de sucesso na pesca: umas barbatanas que nos ajudem a nadar mais depressa, uma botija de oxigénio para aguentarmos mais tempo sem vir à superfície. Depois, é usufruir da forma deliciosa como as coisas nos vão sendo apresentadas. Sem pressas, mas sem grandes repetições maçadoras, sem pergaminhos de nova informação, mas sempre com alguma coisa nova a aparecer e a aprender. É nadar, explorar e ir acompanhando o desenrolar da história dos sobreviventes da nossa nave Aurora, sorrindo a cada novo equipamento que nos permita nadar mais rápido, mais longe, mais seguro. Desde o Seaglider, um pequeno aparelho que nos permite deslocar agarrados a ele, até ao imponente Cyclops, um poderoso submarino recheado de equipamento, podemos construir toda uma série de apetrechos sem nunca perder o fio à meada na nossa narrativa de sobrevivência na primeira pessoa.
Visualmente apelativo, com um trabalho sonoro cuidadoso, oscilando entre a paz das zonas mais calmas e a opressão de zonas pejadas de fauna agressiva, Subnautica oferece toda uma panóplia de opções para explorar um planeta e viver aquilo que muitos jogos de sobrevivência se esquecem de mostrar: uma história.