American Angst abre com um aviso de que contém Violência Gráfica, Linguagem Explícita, Humor Negro e outras coisas más. Desiludido com a ausência de banda sonora, procuro por Dark Classical & Ambient no meu leitor de música preferido e preparo-me para a experiência.

E a experiência começa bem. Muito bem. Sem querer dar spoilers, a proposta é comprada por mim desde as palavras iniciais. O que é descrito deixa-me perturbado. Que potencial a explorar! Estou simultaneamente entusiasmado e amedrontado conforme me aventuro pelas próximas palavras!

A amnésia do personagem principal é um cliché, mas também um recurso útil que nos permite entrar na sua pele sem grandes explicações. A identificação é imediata e dessa forma as descrições gráficas são mais poderosas.

Este jogo trata-se de um livro interactivo, também chamada Aventura de Texto, ou Ficção Interactiva. Como tal vamos doravante chamá-lo de livro. A qualidade do livro infelizmente não acompanha a qualidade do quadro inicial.

O sistema de combate em American Angst rapidamente se descobre ser pouco interessante e bastante aleatório. Um ou outro erro ortográfico mancha a qualidade da escrita, desde já não muito elaborada. Alguns erros de continuidade são possíveis dependendo das opções do leitor. O sistema de observação opcional é interessante, mas desorientador para a leitura, pois move o texto de sítio. A sensação de medo claustrofóbico esvane-se ao pouco conforme vamos atravessando o cenário com a nossa imaginação.

Estamos em controlo, o mistério vai sendo desvendado, os horrores vão sendo dissipados.

Há sobretudo dois tipos de coisas que eu procuro em Ficção Interactiva:

  1. Uma excelente história
  2. A possibilidade de tomar escolhas significativas.

Quanto à história de American Angst, é relativamente interessante. Tem um twist no final como mandam os manuais. Mas atenção: é muitíssimo curta! Entre uma ou duas horas, dependendo da capacidade de leitura em língua inglesa o jogador terá terminado o livro. Felizmente a versão Steam do jogo vem com um epílogo e duas histórias interactivas extra!

Em termos de escolhas significativas, poucas vezes senti que as tivesse de tomar. A ilusão da escolha é pouco profunda, a narrativa relativamente linear e as poucas escolhas apresentadas parecem arbitrárias.

O uso de cores de fundo diferentes conforme vamos andando pelo cenário, como no clássico de Ficção Interactiva Photopia, funciona muitíssimo bem. A inserção de mensagens subliminares, nem por isso. O sistema de inventário é pouco explorado e quebra um pouco a imersão mas é interessante. O Twine (motor de jogo em que este livro foi desenvolvido) permite também introduzir algumas outras mecânicas relativas com tempos de resposta, que se tivessem sido melhor exploradas mais fortemente desde o início do jogo, talvez pudessem ter adicionado ao sentimento de imersão 

De uma forma geral, senti que o tempo não foi desperdiçado, a história era suficiente para me motivar a ler as próximas linhas. O formato de Ficção Interactiva ajuda neste respeito, penso eu. O universo de jogo é interessante e poderia ter sido ainda mais explorado.

Não é a Ficção Interactiva mais interessante que já joguei, mas tendo em conta que na altura de escrita do artigo está em promoção a um euro e vinte cêntimos, penso que é uma aposta segura para quem goste de ler em inglês.