Num clima de apontar o dedo, vou já indicar a cultura pop dos 1980s e início da década seguinte pela visão condicionada que tenho em relação aos escoceses. Graças aos Highlander, aos anúncios do William Lawson’s e a Braveheart crescemos a vê-los como o povo mais forte da História. Tanto que por mim o nome antigo da região é Badassia e não Caledónia, como os Romanos a apelidaram.
Era capaz de apostar que o pessoal que constitui os dois estúdios que produziram Wulverblade é malta da minha idade, que não só tem impresso no código genético o amor pelos side scrolling beat’em ups como devem ter reflexos pavlovianos de sentir que as saias são um dos maiores símbolos de força que podem existir. E devem, tal como eu, ser feministas, já que evitaram fazer o que muitos jogos do género fazem de ter elencos exclusivamente femininos.
Wulverblade coloca-nos de volta aos tempos tribais da ilha britânica, com o Império Romano a tentar estender o seu território o mais para norte possível. Três clãs da Britania decidem enviar os seus melhores guerreiros para combater as forças invasoras e é assim que nasce este estrondoso side scrolling beat ‘em ups, um dos melhores que jogámos nos últimos tempos.
Ao bom estilo clássico do género, cada um dos personagens tem focos diferentes entre força e agilidade: Brennus, o colosso cheio de força, Guinevere, ágil e mortal e Caradoc, o equilibrado. A jogabilidade com todos eles é distinta, mas infelizmente senti que jogar com Brennus torna o jogo demasiado fácil. O que ele perde em agilidade não chega a ser uma fraqueza comparado com o impacto de cada um dos seus ataques, e o quão rapidamente eliminamos os inimigos.
Apesar do seu aspecto brilhantemente ilustrado, com um traço típico das séries de animação contemporâneas, Wulverblade não é um jogo para crianças. Com sangue a jorrar dos nossos inimigos, empalamentos, decapitações e desmembramentos, a sua violência altamente gráfica afasta-o de outros exemplos semelhantes e para toda a família como Castle Crashers e Zombie Vikings. Podermos utilizar os braços e as cabeças dos nossos inimigos como armas de arremesso vem tornar-se apenas a cereja em cima de um bolo sangrento, mas tão, tão divertido.
A utilização e expressão da paralaxe em Wulverblade é verdadeiramente eficiente, com os planos a terem profundidade de campo e a demonstrarem um dinamismo raras vezes visto em jogos do género. Apenas mais um ponto de uma coesão artística tremenda que este jogo apresenta, e que tem sido com todo o mérito um dos seus grandes elementos de venda.
Uma das grandes surpresas deste jogo é a componente sonora, tanto ao nível musical, onde as composições com óptimas composições com um cheirinho das Terras Altas, para além de um voice acting interessante e sólido, que ajuda a recriar o tom maduro deste jogo.
É possível que muita gente olhe para Wulverblde à espera de encontrar abordagens mais fantásticas, mas a realidade é que do ponto de vista de enredo é até bastante terra-a-terra, com as tensões políticas entre clãs e a necessidade de sobrevivência e independência a assumirem um tom mais sério. Esta postura mais firme na história encaixa como uma espada na bainha, já que a violência tem um aspecto menos cartoonizado do que muitas propostas do género. Wulverblade assume-se em todos os aspectos como um jogo adulto, apesar do visual poder sugerir o contrário.
Do ponto de vista mecânico, a forma simples mas familiar como os combos e diversos ataques funcionam fazem notar que o esqueleto que ali está por trás é o dos exemplos clássicos do género, que ainda hoje revisitamos não apenas pela nostalgia, mas pelo afinada execução que os torna eternos.
Wulverblade é obrigatório para todos os fãs de brawlers, e é possivelmente o jogo do género artisticamente mais detalhado a chegar ao mercado. A mudança de tom para algo mais adulto e menos familiar torna-o também bastante diferente do que estamos habituados.
Não estivéssemos nós a falar de séculos e guerras distintas, e Wulverblade parece ter aquela raiva e sentido lutador de um William Wallace bidimensionalmente ilustrado. FREEEEEEDOOOOOOOM!
https://www.youtube.com/watch?v=PAZEZfkM2YQ